“The Outsider”, o inexplicável sem pretexto
Adaptação televisiva da visão de Stephen King, The Outsider é-nos trazida por Richard Price, nome de relevo no meio devido a trabalhos como The Wire e The Night Of. Mas o sucesso dos mesmos não foi replicado na série, que, de uma forma mais ou menos geral, não contagiou uma audiência ansiosa por se embrenhar num bom mistério.
O primeiro episódio arrebata-nos com o aterrador homicídio de uma criança. O suspeito (Jason Bateman), um treinador de basebol reconhecido e prestigiado na comunidade, em nada encaixa neste cenário horrendo, mas todas as provas o apontam como o responsável. A luta de vontades entre ter e não querer acreditar instala-se, levando a procura de explicações como uma missão quase pessoal, enquanto sucessivos acontecimentos bizarros se vão desnovelando. É lançada a escada para aquilo que promete vir a desenrolar-se como uma intrigante trama policial. Os detalhes em volta do crime, a atmosfera negra, pesada, embalada por uma banda sonora acentuada (o género de atmosfera musical que nos habituámos a ver a partir dos trabalhos de Kubrick), tornam este início algo único e refrescante.
À medida que decorrem os episódios, o típico drama policial coerente vai gradualmente desaguando na temática do sobrenatural. O ritmo torna-se mais lento, acompanhando o ceticismo das personagens em aceitar o insólito. A mudança de ritmo é necessária e relevante, tornando credível o progresso da investigação e a própria construção de uma entidade mística, não humana. Esta transição é a chave para o terror que emana da série. O plausível é real e o real intimida.
Paralelamente à narrativa principal, temos alguns vislumbres do passado do detective Ralph Anderson, incontestavelmente bem interpretado por Ben Mendelsohn. A morte do filho adolescente, o trauma pelo qual o seu casamento passou e o actual companheirismo com a mulher são a força motriz por detrás de um personagem que faz a ponte entre o mundo real e o que transcende o entendimento que o ser humano detém sobre este. Em contrapartida, a introdução da componente sobre-humana é irrepreensivelmente empreendida por Holly Gibney (Cynthia Erivo), uma detective privada, com uma inteligência e forma de pensar particulares, que é contratada pela equipa de investigação para ligar os pontos que ficaram por esclarecer. Ambos protagonizam uma atmosfera introspetiva, que rivaliza com o distanciamento provocado por planos fixos e amplos, de câmara afastada, como quem assiste de fora, lado a lado com o espectador.
É após ser apresentado o “vilão” deste ainda thriller policial, que a série começa a fraquejar. O ritmo, lento, não tarda a pesar e a pedir a tão esperada confrontação. Após ser legitimamente criada uma expectativa em volta de uma ideia única, inexplicável, aterrorizante, esta é duramente frustrada com a falta de contexto e de história sobre algo dotado de todos os elementos para ficar na memória. É-nos servido um final adormecido e impreciso, que em tudo consubstancia um verdadeiro anticlímax.
Encontra-se uma certa dormência latente na série que a torna no caso típico em que quem assiste se sente vinculado em permanecer até ao final, sem perder a esperança, saboreando o prazer que cada episódio lhe traz, mas que no final se sente derrotado perante a impassividade de um enredo que prometeu e não cumpriu.