“The Power of the Dog”, de Jane Campion: desejos sexuais ocultos nas pradarias do faroeste

por Pedro Barriga,    27 Novembro, 2021
“The Power of the Dog”, de Jane Campion: desejos sexuais ocultos nas pradarias do faroeste
“The Power of the Dog”, de Jane Campion
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“Que homem seria eu se não ajudasse a minha mãe?” – assim ouvimos no início de “The Power of the Dog”, o novo filme da realizadora neozelandesa Jane Campion, exibido este mês durante a 15ª edição do LEFFEST.

O ano é 1925 e encontramo-nos nas planícies do estado norte-americano do Montana. Dois irmãos, o bonacheirão George (Jesse Plemons) e o tempestuoso Phil (Benedict Cumberbatch na melhor interpretação da sua carreira), são donos de um próspero rancho há já 25 anos. Quem lhes ensinou tudo sobre o ofício foi o falecido Bronco Henry, uma figura que paira sobre o filme, um fantasma presente nos objetos que lhe pertenceram e nas memórias dos seus dois discípulos.

Este é o primeiro filme de Campion centrado num personagem masculino – e logo um macho alfa. Se de início é de estranhar, prontamente se entranha. Na realidade, o tema não podia ser mais campioniano. Este é um filme sobre sexualidade reprimida, tema aparentado à expressão sexual feminina que tem marcado a sua filmografia. A repressão é aqui ilustrada por um obscuro objeto do desejo: uma sela. Os objetos que Campion emprega em “The Power of the Dog” são curiosamente simétricos aos do seu filme mais aclamado, “O Piano” (1993): o pente de Kodi Smit-McPhee e o pente de Sam Neill; o lenço erótico de Cumberbatch e o lenço que cobre o rosto de Holly Hunter; e claro o piano de Kirsten Dunst e o piano de Hunter.

“The Power of the Dog”, de Jane Campion

“The Power of the Dog” é um filme sensorial que evoca o cinema de uma outra consagrada realizadora, Kelly Reichardt. Se no seu mais recente filme, “First Cow”, sentíamos o cheiro dos cogumelos, o sabor dos bolos de Cookie, a textura do musgo, também no filme de Campion a experiência é semelhante. Sentimos o dedilhar das cordas do banjo, a fragilidade das flores de papel, as fibras entrelaçadas de uma corda, o carbúnculo nos animais em decomposição. A estas sensações, Campion associa um cinema de gestos. Seja o rodopiar de uma cadeira, uma mão que esconde uma garrafa de álcool, o manusear dos dentes de um pente, luvas meticulosamente calçadas, uma sela eximiamente encerada.

“The Power of the Dog” por certo marcará presença nas listas dos melhores filmes do ano e também nas corridas aos prémios. É provável que seja desta que o Óscar de Melhor Realização chega às mãos de Jane Campion, depois de famosamente não o ter vencido por “O Piano”. O filme estreia na Netflix a 1 de dezembro de 2021.

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