“The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, de David Bowie, celebra 50 anos

por José Malta,    15 Junho, 2022
“The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, de David Bowie, celebra 50 anos
Capa do disco
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A 16 de Junho de 1972, David Bowie lançava o seu quinto álbum de estúdio com o nome The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Dado o seu título extenso, o álbum viria a ser apenas conhecido na gíria pelo nome Ziggy Stardust, personagem que David Bowie interpreta neste seu álbum e que viria a ser uma das criações mais carismáticas de toda uma era do rock. O sucesso do álbum fora notório, dado o carisma desta personagem que trazia consigo um rock vanguardista, numa mistura de psicadelismo com art rock, interpretado em palco com maquilhagens, efeitos e toda uma conotação ao espaço e à ficção científica, um estilo que ficaria conhecido como Glam Rock. Esse mesmo rock foi também um produto da convivência dos sons dos seus primeiros álbuns juntamente com o repertório musical de outros intérpretes próximos de David Bowie, tais como Iggy Pop, Lou Reed dos Velvet Underground e de Marc Bolan dos T. Rex. David Bowie apresentava-se assim como Ziggy Stardust uma personagem alienista bissexual que chega à Terra com o objectivo de propagar a esperança a um mundo prestes a entrar num desastre apocalíptico, pondo também em causa questões pertinentes em relação ao mundo e à identidade relativa ao estrelato artístico.

Já o nome The Spiders from Mars deve-se à da banda que acompanhou David Bowie, ou neste caso Ziggy Stardust, entre 1971 até meados de 1973. A banda era composta pelo guitarrista Mick Ronson, que acabaria também por tocar piano em algumas das canções deste álbum, o baixista Trevor Bolder e o baterista Mick Woodmansey. O conjunto, que já tinha participado em trabalhos anteriores, fez com que o espírito de Ziggy Stardust permanecesse bem assente neste trabalho sendo ainda hoje uma personagem muito associada ao próprio David Bowie. A capa do álbum consiste numa fotografia tirada por Brian Ward durante uma noite chuvosa em Heddon Street, em Londres. Gravado entre meados de 1971 e o início de 1972 sob a alçada do produtor Ken Scott, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars é considerado como um dos melhores álbuns rock da década de 70 e até mesmo o melhor trabalho concebido pelo “Camaleão do Rock”. Até porque, Ziggy Stardust viria a projectar a carreira musical de David Bowie a um patamar que muito poucos intérpretes conseguiram alcançar. Porém, algumas das canções já teriam sido compostas pelos Arnold Corns (cujo nome fora inspirado na canção Arnold Layne dos Pink Floyd), um pequeno projecto formado por David Bowie e os músicos presentes neste álbum em 1971.

O álbum inicia-se com a canção Five Years, na qual Ziggy Stardust proclama que o planeta Terra está condenado à destruição em cinco anos, dada a falta de recursos naturais. O piano, os violinos e as cordas da guitarra acústica emergem em pleno nesta canção de consciencialização que se mantém actual nos nossos dias. Segue-se Soul Love, que se inicia com uma percussão que marca o compasso da melodia que rapidamente se eleva para o glam rock característico deste álbum. Contando ainda com o som do saxofone, esta é uma canção na qual Ziggy identifica os diferentes tipos de amor, como o stone love para com os nossos entes queridos que já partiram, o new love romântico ou o religioso Soul Love que dá título à canção.

Moonage Daydream trata-se de uma canção que acaba por apresentar o verdadeiro Ziggy Stardust, invasor espacial que tenta salvar o mundo, visível logo nos versos iniciais “I’m an alligator  / I’m a mama-papa comin’ for you / I’m the space invader / I’ll be a rock ‘n’ rollin’ bitch for you”. A canção apresenta uma explosão musical que conta com os diversos instrumentos bem presentes e com um solo de guitarra absolutamente sublime de Mick Ronson, sendo esta uma das canções mais emblemáticas deste álbum. Na faixa seguinte, Starman, que se inicia com a guitarra acústica de David Bowie, é abordada a história de como um extraterrestre entrou em contato com as crianças na Terra, prometendo salvá-las da destruição. A canção mostra também que aparentemente o mundo não está preparado para conceber a mensagem proferida pelo próprio Ziggy Stardust.  Starman acabou por ser uma das canções mais associadas a esta personagem e ao próprio David Bowie, com os versos “Let the children lose it / Let the children use it / Let all the children boogie” a darem corpo à canção. It Ain’t Easy , única canção do álbum que não foi escrita por David Bowie mas sim pelo músico de blues Ron Davies, acaba por mostrar as dificuldades de Ziggy Stardust até atingir a fama, da forma como está inserida no álbum. A melodia mostra assim uma forte nuance de blues sendo bastante distinguível das restantes. Contudo, é claramente interpretada ao estilo Glam Rock do próprio de Ziggy Stardust.

Entretanto, Lady Stardust surge com uma balada onde o piano predomina pela melodia. Nesta canção existe uma espécie de reversão da personagem Ziggy Stardust para o feminino, dando a noção da tal bissexualidade inerente na personagem. Em ritmo acelerado surge Star, canção que mostra o forte desejo de Ziggy Stardust se tornar numa estrela rock. O piano bem como a guitarra elétrica são os instrumentos que mais sobressaem nesta canção. Em Hang on to Yourself, o ritmo acelerado mantém-se numa canção que faz alusão ao sucesso das estrelas rock e à êxtase criada no público que leva a que tenham fantasias dos mais diversos níveis com a personagem deste álbum.

Ziggy Stardust, canção com o nome da própria personagem inicia-se com um riff de guitarra que lhe confere uma identidade única. Nesta canção, Ziggy Stardust revela o início da sua decadência, que o leva a terminar com a sua banda, algo que é notório nos versos da canção. O modo como é interpretada bem como o seu teor musical fizeram com que esta fosse considerada uma das canções mais emblemáticas do universo de David Bowie. Com Suffragette City, Ziggy Stardust põe de lado os seus objectivos enquanto estrela Rock ao abandonar o seu grupo, envergando mais por um lado boémio predominado por sexo e drogas. Trata-se de uma canção bastante alegre, com um lado vivaço desde o primeiro ao úlrimo minuto da sua interpretação. Por último, surge Rock n’Roll Suicide, algo que o próprio Ziggy Stardust acaba por se tornar. Numa canção com um teor algo dramático, como o próprio nome indica, é assim que termina a passagem de Ziggy Stardust pelo nosso planeta, remetendo para o “Rise and Fall” presente no título deste álbum.

Passados 50 anos do lançamento de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars e seis desde o desaparecimento de David Bowie, Ziggy Stardust permanece vivo e com uma enorme mensagem para nos transmitir nos tempos que correm. Esta é a prova de que meio século depois o álbum continua actual e com um conteúdo altamente inspirador para muitos outros intérpretes que procuram novas ideias na música. Ziggy Stardust ainda anda por aí, a interpelar-nos sobre as nossas acções num mundo em constante mudança, a abrir-nos portas para vertentes musicais que se mantêm actuais, eternizando assim a presença omnipresente de uma das múltiplas facetas daquele que foi um dos mais carismáticos intérpretes musicais de sempre.

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