“The Sisters Brothers” oferece pouco apesar da boa química entre protagonistas
Segundo dia de LEFFEST’18 – Lisbon & Sintra Film Festival, onde vimos o invulgar western “The Sisters Brothers” seguido de conversa com o seu realizador Jacques Audiard.
Seguindo uma tendência de renovação do género western no cinema contemporâneo, “The Sisters Brothers” é um western atípico que, embora utilize por vezes alguns lugares comuns de género, parece estar mais preocupado em oferecer algo de refrescante, mesmo que para isso tenha que sacrificar algumas das qualidade que poderiam ter feito dele um produto bem melhor. A relação entre os irmãos que dão título, Joaquin Phoenix e John C. Reilly, é a energia que move o filme, mas paralelamente, e de forma algo acessória (mas apresentada com um peso aparentemente igual) existe outra dupla, protagonizada por Jake Gyllenhaal e Riz Ahmed, que os irmãos perseguem.
Algures entre a comédia negra e o drama familiar, “The Sisters Brothers” move o seu tom sem grande critério. Se por um lado é um filme de acção evoluído, por outro é drama inconsequente. Como que arrependendo-se de por vezes assumir o tom de comédia, o realizador Jacques Audiard faz questão de recordar o espectador dos contornos de tragédia cruel que orgulhosamente o seu argumento empunha. Os seus diálogos, densos na forma, têm dificuldade em ser transpostos para a personalidade das suas personagens que nunca são encarnadas de forma absolutamente convincente pelos seus intérpretes, e o problema está no papel e não nos actores. O verdadeiro bom trabalho de Audiard está na desconstrução dos arquétipos do western, à medida que procura caracterizar os seu protagonistas como seres mundanos que podiam tanto existir na década de 1850 como na de 2010, mas é precisamente ao não encontrar o equilíbrio entre as várias linguagens que procura explorar que “The Sisters Brothers” perde o seu foco, limitando-se a deambular sem destino ou propósito que não seja o mero exercício da curiosidade fílmica.
Indeciso em relação ao tom que o seu filme deve assumir, Audiard descaracteriza-o banalizando as suas várias vertentes. Quando parece que já é suficiente, “The Sisters Brothers” teima em não terminar, da mesma forma com que teima em não chegar a nenhuma conclusão. No final fica a sensação de que se calhar houve qualquer coisa a escapar-nos nos vários subtextos apresentados pelo filme, para rapidamente concluir que não é o caso. Todas as temáticas apresentadas por Audiard ficam pela rama num filme que pouco mais tem a oferecer que a boa química entre os seus amáveis protagonistas. Há talento por detrás de “The Sisters Brothers”, mas não foi aqui que o vimos na melhor forma.
“The Sisters Brothers” estreia nos cinemas portugueses a 31 de Janeiro de 2019.