Tony Allen, embaixador e co-fundador do Afrobeat, vai colorir Lisboa
É frequentemente apelidado como um dos grandes percussionistas jazz de todos os tempos, e um dos mais influentes definidores do afrobeat. Tony Allen, nigeriano nascido em 1940, trilhou uma carreira importante no cruzamente neotradicional entre o yoruba e o highlife que ritmavam a região do Gana desde os anos 30, e as sonoridades de jazz que nos anos 50 e 60 marcavam a história da música norte-americana. Tendo integrado ao longo de 11 anos o colectivo Africa 70, liderado por Fela Anikulapo Kuti, Tony Allen ajudou a definir os sons quentes e ritmados do afrobeat. Fela Kuti chegou mesmo a afirmar que, sem o contributo do percussionista nigeriano, o género não existiria. Duas décadas passadas da morte de Fela, Allen será talvez o mais importante embaixador do afrobeat; e estará em Lisboa na próxima semana, num concerto de final de tarde enquadrado no cartaz do Lisb-On.
A partir de 1975, Tony Allen aventura-se numa carreira em nome próprio; colaborando ainda inicialmente com os Africa 70, nos álbuns que posteriormente vieram a provar-se como os mais essenciais da sua discografia. Entre os anos 80 e 90 abranda o ritmo da edição, mas em 1999 inicia uma nova vaga de trabalhos que chega até ao ano corrente. The Source, o mais recente álbum, tem lançamento marcado para 8 de Setembro. Será o oitavo trabalho de estúdio em vinte anos. Allen, hoje com 77 anos, prova que a idade não tem impedido a sua veia criativa de continuar a oferecer o hard bop e os ritmos africanos e jazzy a um público que recebe sempre com muito balanço o que o género tem para oferecer desde a sua fundação.
Impressiona a intensidade com que um álbum como Secret Agent, editado em 2009, se apresenta ao ouvinte. Os sons de Tony Allen, apoiado por big bands que adornam o som complexo, soam a clássicos – frutos de uma formação e experiência vastas, marcam a paisagem musical contemporânea à sua forma, com as cores que lhe são praticamente inerentes (fenómeno figurado de sinestesia). Secret Agent, que aqui citamos a título de exemplo, é um mostruário de qualidade e frescura sónica, sempre a partir de complexas estruturas rítmicas, e no cruzamento entre a tradição e a inovação.
O afro-funk e afro-jazz do artista da Nigéria (actualmente residente em Paris) visita a nossa capital enquadrado na edição de 2017 do Lisb-On, festival de música que se assume como um evento desenhado a pensar num público melómano, eclético e urbano. O Jardim Sonoro, palco do festival, situa-se num recanto do Parque Eduardo VII, e o cartaz e sucesso das anteriores edições aponta-o como lugar de digna celebração do fecho do verão.