“Transformer”: o álbum que projectou a carreira a solo de Lou Reed
A 8 de Novembro de 1972 Lou Reed lançava Transformer, o seu segundo álbum de originais após ter saído dos Velvet Underground. Produzido pelo seu amigo David Bowie e pelo produtor Mick Ronson, que participariam também como músicos durante a sua gravação, este viria a ser o trabalho que lançaria Lou Reed para patamares mais altos, numa altura em que não seria fácil vingar para quem tinha acabado de sair de uma banda de sucesso. Apesar do seu o primeiro álbum de originais ter também ter sido lançado no mesmo ano, foi Transformer quem colecionaria os maiores êxitos do músico norte-americano, projectando assim a sua carreira a solo.
Numa altura em que o Glam Rock estava na moda, e em que David Bowie também tinha lançado recentemente The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, álbum de grande sucesso que contaria também com Mick Ronson como guitarrista, um novo ciclo na música rock começava a surgir. Depois da sua saída dos Velvet Underground, Lou Reed acabaria por voltar a casa da sua família onde arranjaria um pequeno trabalho na empresa do pai. Acabaria também por assinar um contrato com a RCA Records, que valeria o seu primeiro álbum a solo. Este trabalho teria como título o seu próprio nome e fora inspirado em algumas das canções que ficaram por ser gravadas com os Velvet Underground. Contudo, tendo em conta o panorama musical da época, o álbum viria a passar um pouco despercebido. A verdadeira explosão musical estaria para chegar com Transformer, naquele que viria a ser o álbum que valeria o reconhecimento a Lou Reed como um dos mais influentes músicos de uma geração.
Para além do Glam Rock, interpretado em palco com maquilhagens e efeitos sendo muito associado à ficção científica, Transformer acaba englobar outros estilos musicais. As letras abordam temas pertinentes e tabus como a orientação sexual, prostituição e uso de drogas, muito associados à época de então. Algumas das canções já teriam sido compostas e escritas pelo próprio Lou Reed no tempo dos Velvet Undergorund, mas nunca antes editadas. Seriam assim gravadas nos Trident Studios de Londres em Agosto de 1972 e lançadas em Novembro desse mesmo ano. A capa do álbum trata-se de uma fotografia tirada por Mick Rock, uma película que acidentalmente ficou sobre exposta durante a sua impressão. Nela encontra-se Lou Reed com uma Epiphone Riviera, a guitarra muito associada ao músico durante esta fase, num plano escuro. Por coincidência, a imagem acaba também por nos remeter para a Pop Art de Andy Warhol, aquele que foi o grande mentor dos Velvet Underground e também do próprio Lou Reed.
O álbum arranca com Vicious ao som da guitarra electrica, e com os versos “Vicious / You hit me with a flower / You do it every hour / Oh, baby, you’re so vicious” a marcarem compasso nesta canção, muito ao estilo daquilo que já se conhecia de Lou Reed. Andy’s Chest, segunda faixa do álbum, cuja letra fora inspirada no percurso de Andy Warhol, acaba por ser um tributo a uma das maiores fontes de inspiração de Lou Reed. Já Perfect Day, terceira canção do álbum, tornou-se um dos maiores sucessos de sempre de Lou Reed. Introduzida ao som do piano, acompanhado pela sua voz, o tom eleva-se quando Lou Reed canta o refrão “Oh, it’s such a perfect day / I’m glad I spent it with you / Oh, such a perfect day / You just keep me hanging on”, numa canção que acaba por ser mais sinfónica em relação às restantes.
Hangin’ ‘Round, devolve-nos um ritmo acelardo, muito próprio de Lou Reed. Trata-se de uma faixa onde existe uma agradável combinação dos diferentes instrumentos. Walk on the Wilde Side quinta faixa de Transformer, tornou-se numa das mais emblemáticas canções de uma era e que acabaria por marcar para sempre a carreira de Lou Reed. A letra da canção está fortemente associada à Factory (fábrica) o célebre estúdio de Andy Warhol, onde passaram inúmeros artistas. A letra fala das histórias das origens de Holly, Candy, Little Joe, Sugar Plum Fairy, e Jackie, personagens reais, e de como estas chegaram à tal Factory de Andy Warhol. Cada uma das histórias acaba com o verso “Hey, babe / Take a walk on the wild side”, seguida de um trautear interpretado por Lou Reed e pelos coros de apoio, algo que também se tornou numa das suas maiores imagens de marca. Considerada por muitos como uma das mais carismáticas canções dos anos 70, a sua musicalidade bem como a sua letra tornam-na num enorme símbolo da contracultura americana, um movimento cultural que teve início em meados dos anos 60 e que se prolongaria também na década seguinte.
Make Up traz-nos um registo calmo, falando-nos de uma Sleep Little Girl, que serviu de inspiração na letra desta canção. Segue-se Satellite of Love, uma canção onde o Glam Rock é bem exibido quer no título quer no seu conteúdo, com traços fortes de reportório dos Velvet Underground. Wagon Wheel regressa a um estilo mais rock propriamente dito com algum country à mistura, o que a torna numa canção algo inovadora. Já New York Telephone Conversation trata-se de uma canção predominada pelo piano, semelhante a uma melodia folk, seguindo-se de I’m So Free que regressa novamente ao rock característico de Lou Reed. Por fim, e para fechar o álbum, Goodnight Ladies, traz-nos uma melodia pausada, ao estilo swing e dos anos 50. Uma canção que claramente se distancia das restantes apresentadas e que acaba por confirmar a versatilidade do álbum.
Transformer viria a ser um álbum que colocaria para sempre Lou Reed como um dos nomes mais sonantes de uma era musical repleta de transformações, sendo também considerado por muitos como um dos melhores álbuns de música da década de 70. Meio século após o seu lançamento, e quase uma década após o desaparecimento do músico norte-americano, Transformer continua a ser uma peça musical inspiradora, ouvida constantemente como se tivesse acabado de ter sido lançada. E continuaremos certamente a ser inspirados pelas canções deste gigante do rock que permanece eterno na música dos nossos dias.