‘Uma boa escultura dá-nos a perceção de que não estamos sozinhos’
Precisamos da arte como de pão para a boca. Nas suas várias formas de expressão, sentimo-nos compreendidos por ela e não há quem nos entenda melhor do que nós mesmos. Por vezes, parece ter consciência própria ao se aperceber das nossas necessidades e fazendo um esforço para as colmatar. É de salutar o papel de confidente e de parceira que a arte assume nas nossas vidas.
Quando queremos nutrir a alma, a arte é o melhor remédio. Um bom livro permite visitar novos contextos, novas culturas, novas perspetivas e aprofundar a capacidade imaginativa. É bonito enriquecer a capacidade de conjeturar e de relacionar objetos, sujeitos e incidências, sendo estes imaginativos ou reais. Um bom filme permite idealizar novos sonhos, novas ideias a partir do campo visual. Também a capacidade sensorial é estimulada ao máximo quando acabamos ligados a um pormenor do mesmo, nem que seja um cenário, um símbolo ou um figurante.
Uma boa música, em que se navega pelas entrelinhas da melodia e se calcorreia o mundo do êxtase auditivo. Fragmentos de prazer em que adoçamos a postura perante os desafios que se avizinham. Um bom quadro ajuda a entender a complexidade do ser humano na medida em que exterioriza uma plenitude de sensações e de juízos. Os padrões de cor e as formas que moldam a realidade do artista acabam por se revelar o ponto de interesse e, muitas vezes, a razão pela qual nos ligamos tanto a uma simples tela ocupada por um número finito de coisas.
Uma boa escultura dá-nos a perceção de que não estamos sozinhos na contemplação e na inércia que, de quando em quando, decide visitar o nosso íntimo. A vida deve ser vivida mas também nunca fez mal a ninguém ser apreciada com carinho e bondade. Uma boa construção espelha a magnificência do Homem. O que ele consegue conceber, estruturar e forjar é imenso para a sua pequenez material. A verdade é que o seu sonho e o que põe de si mesmo no dito sonho faz a diferença. É por isso que nos sentimos tão intimamente conectados às expressões artísticas.
A arte tem raízes na simbologia que os artistas dão às suas criações. Sentimos o cunho dos autores nas suas obras. O seu sentimento, o seu ideal, a sua ética, o seu sacrifício, o seu fascínio pelo que produz. Ligamo-nos uns aos outros através do que há de mais nobre e profundo em cada um de nós e isto trata-se do Amor. Do Amor em bruto, daquele que, sem passar pela censura da Razão, acaba processado da forma mais espontânea e brilhante que o mundo tem para oferecer.
O Amor tem o seu quê de arte. No entanto, o curioso é que a arte é Amor. Amor pelas pessoas, pelos seres, pelos estares, pelos fazeres e pelos acreditares. Ao seu próprio ritmo, a arte faz a diferença. Desde sempre para sempre.