Universidade de Coimbra conquista 1,2 milhões de euros para estudar o autismo

por Comunidade Cultura e Arte,    8 Dezembro, 2021
Universidade de Coimbra conquista 1,2 milhões de euros para estudar o autismo
Imunohistoquímica de um organoide cerebral humano em desenvolvimento ©Ana Rafaela Oliveira, Catarina Seabra e João Peça
PUB

Um consórcio internacional liderado por cientistas da Universidade de Coimbra (UC) acaba de conquistar 1,2 milhões de euros da ERA-Net NEURON para estudar o autismo.

O projeto, intitulado “Astrocytes dysfunctions in Phelan-McDermid syndrome: from mechanisms towards new therapeutic strategies (SHANKAstro)”, é liderado por João Peça, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), e conta com a participação de cientistas da Alemanha, Bélgica, Itália e Suíça.

O grande objetivo da investigação, que tem a duração de três anos, é perceber quais são as células do cérebro que têm um papel principal no autismo, e, em particular, como é que as mutações no gene SHANK3 têm impacto na função normal durante a fisiopatologia da doença.

João Peça explica que as mutações no gene SHANK3 «são uma das causas mais comuns diagnosticadas para o autismo. No entanto, surpreendentemente, ainda pouco se sabe sobre as consequências decorrentes de mutações neste gene. Desde a sua descoberta original, as mutações no SHANK3 têm sido mais comummente estudadas em neurónios».

João Peça / DR

Contudo, sublinha, «evidências recentes sugerem que os astrócitos, células do cérebro algo negligenciadas, também podem desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento do autismo. Os astrócitos fornecem suporte metabólico e trófico críticos para os neurónios e foram recentemente identificados como “atores-chave” na formação e maturação dos circuitos neuronais. Portanto, a disfunção dos astrócitos, resultante da mutação no gene SHANK3, pode levar a problemas na formação e maturação do circuito neuronal, o que acabará por levar a anormalidades comportamentais e cognitivas».

Neste estudo, que reúne vários especialistas na área do gene SHANK3 e da biologia dos astrócitos, vão ser utilizados modelos inovadores, incluindo modelos de ratinhos geneticamente modificados, bem como organoides de cérebro humano capazes de imitar de perto a fisiologia celular humana.

Se os cientistas conseguirem decifrar o impacto que as mutações no gene SHANK3 têm no autismo, será possível «descobrir e desenhar terapias bem-sucedidas para doenças do neurodesenvolvimento», conclui João Peça.

A ERA-NET NEURON é uma rede de financiamento europeu para investigação em Neurociência, focada em doenças do cérebro e distúrbios do sistema nervoso. 

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados