Vampire Weekend lançaram “Contra” há 10 anos
Contra normalmente não é o álbum mais amado dos Vampire Weekend. A segunda iteração da banda que aterrou como um meteorito no indie rock do virar da década com o seu álbum homónimo é assumidamente mais caótica, alternativa e variada. Tudo isso torna Contra no álbum mais único da banda. No entanto, há 10 anos, ainda era fixe odiar os Vampire Weekend. Caso as pessoas tivessem olhado para lá do exterior aprumado e das palavras caras, teriam visto o potencial que este álbum tem. Olhando para trás, após quatro álbuns bem sucedidos, é aquele em que a banda parece tomar mais riscos, numa tentativa de fugir à maldição do segundo álbum que realmente funciona. As músicas bem formadas passam a ideia de que a banda se divertiu a fazer o álbum, não cedendo à pressão do sucesso avassalador do primeiro.
Depois da placidez de grande parte do primeiro álbum, Contra levou os Vampire Weekend de volta ao local de onde são originários: a cidade. “White Sky” é um belíssimo exemplo disso, com a sua linguagem citadina que contrapõe novo e velho na Midtown de Manhattan, em que os jovens praticam skateboarding numa escultura de Richard Serra e os donos de lojas idosos não olham as pessoas com desconfiança. Há jovialidade e liberdade nos episódios ricos, que são acompanhados pelo refrão jubiloso sem palavras, o ritmo saltitante e a melodia deliciosa dos sintetizadores.
Foi neste álbum que a banda introduziu mais influências electrónicas e que demonstraram a versatilidade e pluralidade do seu som. O ex-membro Rostam Batmanglij teve muita mão nisso, principalmente na fabulosa “Diplomat’s Son”, que ainda é a música mais longa que a banda alguma vez fez. Aí, usaram um sample da artista M.I.A. e interpolaram a bridge com uma canção dos Toots and the Maytals, juntaram influências jamaicanas e narraram uma história de amor tão críptica como todas estas estruturas que compõem a canção. Ao fim destes anos ainda conseguimos discernir detalhes novos, como uma torneira a correr por detrás do solo de guitarra, aberta pelo colega de casa de Rostam, que tinha começado a trabalhar na canção na sua própria casa.
“Giving Up the Gun”, mais um tema electrizante, fez a ponte com outros universos e levou ao seu videoclipe personalidades como Jake Gyllenhaal, RZA, Joe Jonas e Lil Jon – referido em “Oxford Comma”, do álbum anterior. A canção em si retrata a nostalgia pelos olhos destes jovens, numa demonstração de maturidade que depois veria totalmente a luz do dia em Modern Vampires of the City, o álbum de consagração da banda. O que a este último falta e que Contra tem é realmente a energia imberbe que se sente na frenética “Cousins” ou na canção que ainda hoje é difícil de acompanhar, “California English”, fruto da confiança de uma banda que sentia que podia fazer qualquer coisa.
Um dos grandes motivos do ódio à banda advinha do seu fundo privilegiado – afinal de contas, estes são os rapazes que andaram na Universidade de Columbia, instituição de ensino privada em Nova Iorque –, um motivo algo injusto e que não reflecte tudo aquilo que os membros da banda são. Em Contra, a banda junta-se aos detractores e satiriza a sua própria condição de membros da Ivy League. À semelhança do álbum anterior, encontra-se pejado de referências, mas neste há uma jocosidade na forma como o vocalista Ezra Koenig pronuncia cada palavra elaborada. A banda chega a passear-se vestida de aristocratas por Los Angeles no vídeo de “Holiday”, que continua a ser a canção perfeita para iniciar as férias.
Na maior parte dos dias, este é o meu álbum preferido deles. Lembro-me de ir ao supermercado comprar farinha de arroz para fazer horchata – mas em Julho, não em Dezembro –, de vibrar com os sintetizadores a imitar trompetes do refrão de “Run”, de delirar com as constelações projectadas durante “Taxi Cab”, no concerto que a banda deu no Campo Pequeno em 2010, e de aprender a amar o final pacífico de “I Think Ur a Contra”, com os sintetizadores que soam a uma aragem e os bongós que nos levam de volta aos trópicos das influências que sempre caracterizaram a sua música.
Este álbum foi um prenúncio do que se seguiria; 10 anos depois, temos a confirmação. Apesar da influência deste álbum não se fazer sentir tanto como a de Vampire Weekend, é uma peça igualmente importante na discografia de peso da banda, pela forma como concentra influências tão diversas e demonstra uma visão tão bem definida por parte de uma das bandas mais reconhecidas do indie rock contemporâneo.