“Visões do Império” estreia esta semana. Documentário mostra passado colonial português através de fotografias
Visões do Império, documentário da autoria de Joana Pontes, Filipa Lowndes Vicente e Miguel Bandeira Jerónimo, realizado por Joana Pontes – uma produção e distribuição Vende-se Filmes – estreia no dia 15 de Julho nas cidades portuguesas, nomeadamente, em Lisboa (Cinema Ideal, Cinema City Alvalade), Porto (Cinema Trindade, NOS Alameda Porto), Coimbra (NOS Alma Shopping), Leiria (Cinema City Leiria, Cineplace LeiriaShopping), Loures (Cineplace LouresShopping) Setúbal (Cinema City Setúbal), Viseu (NOS Forum Viseu) e Ovar (Cinema Vida, nos dias 15 a 18 de Julho).
Sessões especiais:
Em Lisboa, nos dias 15, 16 de Julho, há sessões especiais, no Cinema Ideal, com convidados. No dia 15, a conversa no final da sessão conta com a presença da realizadora Joana Pontes, da escritora Dulce Maria Cardoso e do historiador António Araújo. Sexta, dia 16, estarão presentes Filipa Lowndes Vicente (investigadora e uma das autoras do filme) José Lino Neves (membro da direcção da Associação Batoto Yetu Portugal) e Isabel Castro Henriques (historiadora).
Ainda em Lisboa, no dia 20 de Julho, há sessão especial no Cinema City Alvalade, com Joana Pontes, José Eduardo Agualusa (jornalista e escritor) e Miguel Vale de Almeida (antropólogo)
No Porto, no Cinema Trindade, realiza-se uma sessão especial, no dia 18 de Julho, com Joana Pontes (realizadora), Miguel Bandeira Jerónimo (investigador e um dos autores do filme), Tiago Guedes (director artístico do Teatro Municipal do Porto) e Joana Brites (historiadora).
O filme é uma viagem colectiva ao passado colonial através de uma selecção de fotografias do império português, captadas desde os finais do século XIX até à Revolução de Abril de 1974, que pôs fim tanto ao regime político que governava Portugal, como ao estatuto colonial de vários territórios africanos que só em 1975, depois de uma longa guerra, se tornaram países independentes.
As reflexões suscitadas pela revisitação de fotografias da infância da realizadora em Angola são o fio condutor de uma procura de contextos e sentidos sobre a documentação fotográfica do império colonial português, existente em Portugal. Essas perguntas levaram a realizadora, Joana Pontes, ao encontro de dois investigadores, Filipa Lowndes Vicente e Miguel Bandeira Jerónimo.
Com Filipa, descobrimos os locais onde hoje se compram e vendem fotografias e postais realizados em contextos coloniais e os arquivos onde se guardam as milhares e milhares de fotografias relacionadas com o passado imperial português. Pela mão de Miguel, percebemos os diferentes usos e apropriações da fotografia como instrumento político, propagandístico, documental e probatório. A busca pessoal da realizadora revela a relação diversa que diferentes pessoas – de coleccionadores e comerciantes, a arquivistas e académicos – têm hoje com o tão vasto e heterógeneo arquivo fotográfico centrado no antigo império colonial português, nos seus territórios, recursos e populações. Revela ainda como a coincidência temporal entre o colonialismo moderno e a crescente democratização da câmara fotográfica tornou a prática fotográfica num elemento central na imaginação e construção do projecto imperial. A fotografia é, assim, um objecto indispensável para repensar criticamente a história de Portugal e a das antigas sociedades coloniais.
Joana Pontes refere: “gostaríamos que o documentário surgisse também como uma forma de tomada de consciência histórica por parte das pessoas que viveram nesses espaços coloniais. Mas que funcionasse ainda como um modo através do qual as gerações nascidas já depois de 1974 conhecessem melhor um passado recente que, muitas vezes, ainda se cruza com as suas histórias de família: pais que estiveram na guerra colonial, de um ou outro lado, avós ou bisavós que lá viveram, como administradores coloniais ou como colonos migrantes à procura de melhores condições de vida. Tal como os muitos portugueses asio-descendentes (timorenses, goeses ou macaenses) e afrodescendentes (de origem guineense, cabo-verdiana, são-tomense, angolana ou moçambicana), que têm inscrita a história da nação colonizadora na sua pele, nos seus percursos e nas suas histórias”. Para a realizadora, “Visões do Império caracteriza-se pela diversidade de contextos, vozes e sentidos, explorando a ligação entre personagens e espaços, tendo a fotografia como intermediária. Partilhamos algumas das muitas histórias que podiam ser contadas. Muitas estão ainda por narrar”.
Visões do Império levanta e pretende responder a questões como “onde estão hoje estas fotografias? Que viagens fizeram estas imagens e que memórias e histórias é que elas nos contam? Porque é que tantas fotografias de África não estão em África? Porque dependemos tanto dos arquivos situados nas antigas metrópoles imperiais? Porque é que sabemos tão pouco sobre tantas das mulheres, homens e crianças que nelas aparecem? Como é que no presente lidamos com estes legados fotográficos do passado? Que conflitos e experiências sugerem estas imagens, entre memória e história, narrativa pessoal e narrativa oficial? Que problemas éticos decorrem de possuirmos imagens de pessoas que não têm nome ou identidade e que, na maior parte das vezes, não tiveram uma palavra a dizer sobre a sua produção e uso? Que uso devemos fazer hoje dessas imagens?