“WandaVision”, a criativa fórmula Marvel entre humor e sentimento
Depois de um ano parado por aquilo que todos nós bem sabemos a Marvel está de volta, porém desta vez no pequeno ecrã. Wandavision é a primeira verdadeira ligação da Marvel entre a televisão e o cinema. Já houve várias séries da marca (como Daredevil ou Agents of S.H.I.E.L.D.), mas a ligação com os filmes era vaga para não dizer nenhuma. Produtores, escritores e atores tanto confirmavam como negavam. Esta minissérie é o ponto de partida para o futuro em que o streaming (em especial a Disney+) tem um papel importante e cada vez é mais, devido aos tempos que vivemos.
A Disney+ permite à Marvel ser mais criativa usando abordagens diferentes e mais ousadas que diferem sobre a famosa fórmula. Além de mais, têm oportunidade de desenvolver de uma forma orgânica as personagens secundárias ou menos conhecidas, sem gastar tantos milhões de dólares. A dúvida agora fica no consumidor, porque é tanto conteúdo que uma pessoa tem que consumir para ficar a par de tudo, no entanto, se todo o produto for da mesma qualidade de WandaVision penso que não vai ser um problema.
E que bela maneira de começar neste novo formato, a bagagem da banda desenhada em específico destas personagens e a criatividade da equipa da Marvel liderada por Jac Schaeffer (showrunner) não poderia ser mais perfeito. Contando estas histórias através de uma mistura de géneros fazendo uma homenagem ao legado de sitcoms. Retirando influências de séries como “Modern Family”, “Malcolm in the Middle”, “The Office” e outras mais clássicas como “The Dick Van Dyke Show” ou “I Love Lucy” variando dependendo da linha temporal do episódio.
Assim, Wanda Maximoff imagina como seria viver (e torna realidade) com o seu amor falecido Vision através da vida supostamente perfeita das sitcoms, em que tudo que está mal acaba sempre bem. Mas existe sempre algo que não bate certo na ilusão, algo sinistro em cada episódio que muda de forma drástica o tom do ambiente. Além disso, o tempo muda e somos apresentados ao passado da televisão, aos anos 50, aos anos 60, aos anos 70, por aí fora até chegar ao presente.
“WandaVision” é mais desafiante em comparação com os filmes da mesma franquia ao ter uma história não linear que constrói muito a partir da intriga. Apesar disso, não tem grandes reviravoltas, mas tem boas surpresas e toma o tempo necessário para revelar tudo, no sentido e na lógica que podes esperar de um mundo repleto de fantasia. O guião é criativo que consegue abordar as cinco fases do luto e ligar bem a realidade com a ilusão sem nunca expor todas as respostas de uma vez, existe sempre algo no fim por contar.
Como o nome indica é sobre Wanda e Vision uma história de amor incomum entre dois heróis, uma mulher traumatizada com poderes absurdos e um robô supostamente morto ou partido? Qual será o termo correto? De qualquer forma, a química do par é tão natural que parece que contracenam aos anos, é realmente agradável de ver tanto as discussões como os afectos e isso deve-se muito às representações de Elizabeth Olsen e Paul Bettany. Não demonstram nenhuma dificuldade quando é um momento tolo de comédia ou um momento mais dramático. É curioso vemos outras facetas que ainda não tínhamos visto, o passado difícil de Wanda, a humanidade e o humor de Vision um charme nunca antes visto nos filmes.
Outra parte engraçada que já é familiar por parte da Marvel é o retorno de personagens já anteriormente apresentadas nos filmes como “Darcy Lewis” (Kat Dennings) dos dois primeiros “Thor” e Jimmy Woo (Randall Park) de “Ant-Man and The Wasp” e Monica Rambeau de “Captain Marvel” que aparece já crescida e a ser representada por Teyonah Parris. Fazem um trio dinâmico interessante acompanhar, apesar de infelizmente perderem um pouco a importância no final, mais concretamente nos últimos dois episódios. E também importante é o papel de Kathryn Hahn como Agnes, uma vizinha bisbilhoteira de Wanda e Vision que apresenta muitos momentos cómicos e outros, assenta que nem uma luva nesta história.
A frontalidade com que apresentam esta aventura nos primeiros três episódios a partir de uma comédia a preto e branco, pode não ser para todos os gostos, no entanto a partir do quarto episódio tudo muda e mostra que o enredo e as personagens são ricas em camadas. Todavia, no final algumas personagens perdem a importância, vários problemas são resolvidos à pressa e outros são postos possivelmente para um outro filme ou série. Wanda também é levemente confrontada com as suas ações, devia ter havido uma maior preocupação no desfecho como sucedeu no resto dos episódios.
Para terminar, “WandaVision” não é só mais um filme ou neste caso uma série, é sim uma aposta corajosa e criativa de uma história comovente sobre amor merecida de ser contada que valoriza o legado da plataforma, tendo ainda muito humor, emoção e um conjunto de personagens carismáticas com muito futuro pela frente.