Entrevista. Soen: “É sempre difícil voltar aos outros países depois de vir a Portugal”
Em plena tour do seu mais recente álbum Lotus, tivemos oportunidade de falar com Martin Lopez e Stefan Stenberg, membros dos Soen, antes do concerto de Domingo no RCA, em Lisboa. À espera da banda sueca, que já passou algumas vezes por Portugal, estava uma casa cheia, depois de na noite anterior ter conquistado o Porto.
Naquele que é abertamente um dos seus locais de passagem favoritos (no Lykaia Revisited a banda lançou dois temas gravados ao vivo durante o concerto em Lisboa), abordámos alguns tópicos como a relação da banda com o nosso país, a tour de Lotus, o seu último álbum e a chegada de Cody Ford à banda.
O que acham de Portugal? Gostam de cá vir?
Adoramos vir cá. É lindo. É a quarta vez, penso eu, que tocamos em Portugal. Começamos sempre as nossas tours na Suécia ou no oeste da Europa e sempre que cá vimos o tempo está fantástico, o público é brutal e a comida também. É sempre um dos pontos altos da nossa tour.
Estiveram no Porto a noite passada, como correu?
Excelente. Estava esgotado, era um público fantástico. Cantavam muito, sabiam as letras todas. É sempre difícil voltar aos outros países depois de vir a Portugal.
Como tem corrido a tour até agora?
Penso que o melhor momento até agora foram os concertos no Porto e em Madrid. Tivemos já vários concertos esgotados como o concerto de Amesterdão que também foi muito bom. O espírito entre as bandas (ndr: Wheel, Ghost Iris e Soen) no autocarro da tour tem sido fantástico. Penso que é a nossa melhor tour até agora.
Sentiram algum tipo de pressão na criação deste novo álbum Lotus, depois do sucesso que foi o Lykaia?
Nós temos sempre pressão, mas a pressão é nossa. Queremos sempre algo melhor do que fizemos antes. Claro que ficámos muito contentes com o resultado de Lykaia, mas pensámos que havia muita coisa que podíamos melhorar, sobretudo a nível de som, então certificamo-nos que teríamos muito boas canções, um melhor flow, melhores melodias e quisemos garantir que teríamos as pessoas certas para fazê-lo, como os produtores David Castillo e Iñaki Marconi. Tínhamos uma visão de como o álbum deveria soar, e chegámos lá. É o único álbum que lançámos em que eu consigo simplesmente relaxar e apreciar, completamente satisfeito com o resultado e sem pensar no que poderíamos melhorar ou no que poderíamos mudar.
Qual é o tema do álbum? Qual é o significado, qual a sua mensagem? É a crítica social?
Sim, é, mas não diria crítica, porque para criticamos algo temos de ter uma solução, certo? Nós não temos uma solução, falamos mais dos problemas que vemos. Estamos a criar os nossos filhos, a integrá-los em sociedade, mas parece tudo errado, a sociedade está podre. Enviamos os nossos filhos para escolas onde são julgados pela roupa que vestem, ou pelas notas que tiram, ou pelo trabalho que arranjam. Coisas assim. Já não interessa ser feliz. A verdadeira essência de ser feliz parece que já não importa. Vemos um sem abrigo e se ele te diz que é feliz tu não acreditas porque o vemos apenas como um sem abrigo. Começámos a banda e ninguém tinha filhos, e agora todos temos, e debatemo-nos com isto. Descobrimos isso com o passar dos anos. A sociedade é muito dura, não é um sítio simpático, e queríamos falar disso, o que acaba por se refletir nas nossas letras pelo que diria que esse era o tema principal do álbum.
Podemos dizer que os mártires são as pessoas que não querem viver sob a regras dessa sociedade? Que são as pessoas realmente verdadeiras consigo mesmo?
Sim. É a única maneira, não é? Desde que te sintas feliz e as pessoas à tua volta te amem porque és uma pessoa amável e que pratica o bem, penso que essa é a única forma de encontrar a felicidade, mas não acho que seja fácil. Creio que a sociedade não está a ir no caminho correcto.
Vocês vão para o estúdio já com as ideias ou é no processo de gravação que as criam?
Nós vamos para estúdio já com as músicas quase feitas, só a precisar de alguns ajustes aqui e ali. O processo de escrita é o que demora mais, pelo que quando entramos em estúdio é já para fazer as demos.
Vocês escrevem em tour ou tentam encontrar um período concreto onde escrever as letras?
Nós escrevemos sobretudo em tour. Não agora, porque acabámos de lançar o álbum, mas escrevemos muito material em tour. Aproveitamos esse tempo juntos. Não estamos com as nossas famílias, estamos todos juntos. Nós estamos constantemente a escrever e estamos já a pensar no próximo álbum, mas demora algum tempo.
Como é que se deu a entrada de Cody Ford (novo guitarrista) na banda?
O Marcus saiu, e tínhamos espectáculos para preparar. Não sabíamos o que fazer, mas o nosso engenheiro de som disse para ir ao Instagram e ver alguns guitarristas que lá postavam vídeos. Vimos alguns no Instagram, e contactámos alguns que gostámos. Enviámos algumas músicas para eles tocarem, acho que a Sectarian e a Lotus, e pedimos para eles improvisarem um pouco. O código dos Soen é difícil, mas o Cody simplesmente apanhou-o. Começámos a falar por Skype para ver como ele era, e é daquelas pessoas fantásticas, de quem te queres rodear. Muito humilde, uma pessoa de fácil lide. Não queríamos ninguém de uma banda, senão na apresentação é X de uma banda, Y de outra banda, e nós não queríamos isso, queríamos um começo fresco. Somos os Soen.
Consideram o RCA um bom local para concertos ao sentirem esta proximidade com os fãs?
Sim, é fantástico. O nosso homem do som não ama (risos), mas nós adoramos, achamos óptimo. É um pequeno Coliseu, o pessoal ali no balcão super próximo. Portugal é um sítio familiar para nós. Parece que nos outros países tivemos de trabalhar imenso desde o primeiro momento e agora sim estamos a ter o reconhecimento, mas em Portugal e Itália acolheram-nos de imediato. Toda a gente é super simpática connosco, do fã ao promotor.
Entrevista de João Estróia Vieira e Pedro Piedade