Eddie Vedder, casa é sempre que estás connosco
É difícil escrever sobre alguém que se admira. Melhor (pior para quem escreve), é difícil fazer um relato imparcial sobre alguém que moldou tanto o conhecimento musical que me leva justamente a escrever. Corre-se o risco de exacerbar enganosamente a presença de um músico que nos tocou pela primeira vez há 22 anos, numa sala do tamanho do palco de onde agora canta com mais vinte mil vozes, como se fossem só uma… Já estarei a fazê-lo? Não; no que toca a Eddie Vedder, qualquer tentativa de exagero cai por terra porque a sua simplicidade impera – embora seja mesmo essa característica que, incrivelmente, lhe faz merecer tão altas descrições.
Assim, um dos músicos mais humanos do longínquo universo do estrelato não intencional esteve em casa para um concerto onde os telemóveis deram lugar aos braços no ar. É casa, apesar da distância a Seattle ou a Washington, pois aqui, ou onde quer que Eddie vá, vozes naturalmente ecoam as letras da sua cabeça e as investidas da sua garganta.
Sendo já a décima primeira vez de Eddie no país e a terceira em cinco anos – duas das quais sem Mike, Matt, Stone e Jeff – cada visita a Portugal renova o sentimento de cumplicidade mútua entre ele e quem não se cansa de o ouvir – sem esquecer as ondas tugas que tanto gaba.
Foi numa que mergulhou, na audiência do Dramático de Cascais, da primeira vez que os Pearl Jam tocaram em Portugal. Corria o ano de 1996 e o Crazy Eddie, num momento de êxtase de final de concerto, salta para a multidão de jovens igualmente eufóricos, que não o consegue agarrar. Acaba a noite no hospital, mas no dia seguinte repete os stunts no palco, não desiludindo quem comprou bilhete para a segunda data.
Se em 96 se afunda na audiência, em 2019, Eddie Vedder navega com ela (uma bem maior e que não o deixa cair, em 28 anos de carreira) pelas ondas do seu repertório. Agora mais maduro e… quieto, o apelidado de último sobrevivente do grunge, que cedo viu ceifados muitos dos seus fortes nomes, prova um crescimento musical sem precedentes na diversidade de estilos e cordas que toca, tocando ainda agora os miúdos dos anos 90 que colavam posters de Pearl Jam no quarto e os miúdos desses miúdos, que cresceram a aprender sobre um género musical que não viram nascer. Não admira que um concerto de Eddie Vedder saiba a casa: ou trouxemos a família ou sentimo-nos parte de uma enorme, quando cantamos lado a lado e com Eddie a uma só voz.