Depois de Scorsese, Francis Ford Coppola também crítica filmes da Marvel e diz que são “desprezíveis”
Parece que a procissão ainda só vai no adro, como se costuma dizer na sabedoria popular. Que é como quem diz: a polémica em torno da qualidade (ou não) dos filmes da Marvel parece só ter começado agora entre os grandes nomes do cinema.
Depois de Martin Scorsese ter dito que “O valor de um filme (de super-heróis) é como um parque de diversões (…) os cinemas transformam-se em parques de diversões, é uma experiência diferente. Como disse antes, não é cinema, é outra coisa (…) e não deveríamos ser invadidos por isso. É um grande problema e nós precisamos que os donos dos cinemas se juntem e exibam filmes que são narrativas”, disse Scorsese no Festival de Cinema de Londres, que ainda foi mais longe dizendo que tentou ver os filmes da Marvel mas que não conseguiu: “Eu não os vejo. Mas tentei. Isso não é cinema (…) por mais que sejam bem feitos, com os actores a fazerem o melhor que podem sob essas circunstâncias (…) mas isso não é o cinema de seres humanos a tentarem passar experiências psicológicas e emocionais para outro ser humano”, disse o cineasta.
Agora, outro gigante do cinema mundial que veio a público dar a sua opinião sobre os filmes da Marvel foi Francis Ford Coppola, autor de filmes como “Apocalypse Now” (1979), a trilogia “The Godfather” ou ainda “The Conversation” (1974), e que já arrecadou 5 óscares. O realizador disse de forma clara e sem rodeios que os filmes da Marvel são “desprezíveis”: “Quando Martin diz que a Marvel não faz cinema, ele está certo porque nós esperamos aprender algo com o cinema, algum tipo de conhecimento, iluminação, inspiração. Não conheço ninguém que tire algo disso ao ver o mesmo tipo de filme várias e várias vezes seguidas. Martin até não criticou muito os filmes da Marvel ao dizer que os filmes não são cinema, pois, eu acho que são desprezíveis”, disse Coppola aos jornalistas na cerimónia de entrega do prestigiado Prémio Lumière.
“Ao longo dos últimos 20 anos, muitas coisas mudaram no cinema. Essas mudanças ocorreram a todos os níveis, desde a maneira como os filmes são feitos ou até na forma como são vistos e discutidos” (…) “bons filmes de verdadeiros cineastas não são feitos para serem cotados, consumidos ou compreendidos instantaneamente” escreveu Scorsese, em 2017, num artigo de opinião ao The Hollywood Reporter.
Outro nome da 7.ª arte que falou sobre o estado do cinema actual foi Woody Allen, em entrevista ao Expresso. Quando questionado sobre se o chateava ver que os filmes sejam cada vez menos vistos nas salas o cineasta disse que era uma tristeza e foi mais longe “Quando cresci, um dos grandes prazeres da vida era ir ao cinema ver cinema, com a namorada sexta-feira à noite, com a família aos fins de semana ou só como pretexto para faltar às aulas… O cinema era tudo. Até aquele fenómeno de fazer fila, de esperar pela vez, de comprar o bilhete, olhar para quem está à nossa volta e depois entrar numa grande e escura sala, em frente a um grande ecrã com gente carismática que nos ia contar uma história. É inigualável. Agora olho para as minhas filhas a verem filmes nos computadores. Se calhar, nem são filmes. E penso: caramba, que feliz que eu fui na minha infância quando ia ao cinema, com a minha lata de pipocas… Esta lenta erosão da experiência do cinema em sala é uma das coisas que mais me entristecem.”