Vampire Weekend: uma crónica da fila da frente
Quando cheguei à bilheteira do Coliseu dos Recreios e descobri que o meu bilhete de imprensa para ver os Vampire Weekend era para um camarote, em vez de ser para a plateia em pé, fiquei algo desolado. Sendo eles a minha banda favorita, a necessidade de estar perto deles e dos restantes fãs falou mais alto, pelo que desisti desse bilhete e comprei um normal. A partir daí, sabia que não me poderia cingir à típica reportagem de concerto – mas sim criar algo mais especial, que representasse a minha ligação com a banda. Não é a primeira vez que me dedico a escrever algo assim sobre eles, por isso não é algo complicado de fazer.
Para já, o título deste texto é erróneo, porque na verdade estava na segunda fila. No entanto, a vista desimpedida para o palco e a sensação que se viveu ao longo do concerto nas primeiras filas deu azo a este título – já para não falar que soa muito mais interessante do que “crónica da segunda fila”. Quais são as sensações que se vivem num concerto dos Vampire Weekend? É sobre isso que discorrerei ao longo deste texto, mas que pode ser sumariado numa palavra: “alegria”. Tão simples quanto isso.
As melodias da banda têm uma leveza rejubilante. Ao vivo, tocadas fielmente às versões de álbum, ganham uma nova intensidade que pede todo o entusiasmo manifestado pelo público. É por isso que se desencadeiam moches amigáveis na frenética sequência de “Diane Young”, “Cousins” e “A-Punk”, que o público se abana ao ritmo galopante de “Worship You” ou então entoa o clímax gaélico de “Unbelievers” como se de um cântico de futebol se tratasse. São poucas as canções que não têm uma reacção efusiva. Até mesmo algumas do mais recente Father of the Bride já têm tratamento VIP, como “This Life” – a canção tão perfeita que poderia durar para sempre – ou o colosso single “Harmony Hall”, que até na Rádio Comercial toca.
A banda reconhece e respeita o seu público. Por mais que uma vez, o vocalista Ezra Koenig relembra que este é o primeiro concerto a solo da banda em Portugal desde 2010. Isso demonstra não só um certo carinho pelo nosso país – certamente redobrado após este concerto espectacular –, como também uma atenção especial aos fãs, cuja memória teimava em não esquecer os concertos no Campo Pequeno e no Coliseu do Porto, como forma de aguentar até uma nova oportunidade de comungar com a banda. É certo que houve dois concertos em festivais pelo meio, mas nunca nada tão apoteótico como um set de 28 músicas, de mais de duas horas (!), como foi este. Não haveria melhor forma de nos compensar.
Que outra boa forma de compensar os fãs teriam eles senão tocar canções não tão frequentes? Por isso, ouvimos o ritmo saltitante da talvez um pouco esquecida “Everlasting Arms” e, surpreendentemente, a canção que a banda emprestou à banda sonora do terceiro filme da saga Crepúsculo (“não faz mal se não gostarem dos filmes, a música não tem nada a ver com eles”, assegura Ezra), “Jonathan Low”, facilmente a mais emo da banda, sublinhada por uma tristeza deliciosa e inocente.
No encore, já se sabia o truque: a banda daria oportunidade ao público de escolher três canções, como tem feito em recentes concertos. A primeira foi outro deep cut, “Ladies of Cambridge”, uma das primeiras canções lançadas pela banda, no ido ano de 2007, que tem garra, mas a leveza náutica do indie rock soalheiro da banda. É punk de sapatos de vela, que puxa pelo público sem o afastar com distorção ou outras distracções. Depois, um pedido especial levou Giacomo, de Nápoles, ao palco, para tocar “My Mistake” com a banda. Foi um momento tocante, o pináculo da interacção fã-artista. Giacomo saiu-se muito bem, tanto no piano como a representar os restantes 4000 elementos que estavam no Coliseu. Revi-me nas palavras “já vos ouço desde os 13 anos”, porque é mesmo verdade. Foram uma banda seminal no meu crescimento.
Outro dos motivos pelo qual este artigo nunca poderia ser uma reportagem imparcial é porque o último pedido foi meu. “The Kids Don’t Stand a Chance” foi uma canção que me acompanhou na altura em que a minha avó faleceu e a sua melodia nostálgica ensinou-me que não fazia mal chorar. Cada um tem a sua própria ligação às canções dos Vampire Weekend – algo notório nas diferentes reacções às diferentes músicas –, mas eu não poderia ter escolhido outra. Foi uma estreia em Portugal e um momento muito especial para mim.
Ver Vampire Weekend também é, no final do concerto, ter de arranjar energia para “Walcott”, apesar de estarmos esgotados. Sabemos que é o derradeiro momento para retribuir tudo aquilo que a banda nos deu, e algo impele-nos a fazer isso mesmo. Por isso, saltamos ao ritmo da correria que é a bateria de Chris Tomson e gritamos “Walcott, don’t you know that it’s insane?”.
No fim de contas, mesmo no meio de 28 canções, faltaram algumas indispensáveis, como “Hannah Hunt”, “M79” ou “White Sky”. Ao longo desta tour, os Vampire Weekend tocaram literalmente todas as canções da sua carreira, por isso algumas teriam de faltar no nosso concerto. As promessas de não voltarmos a ter de esperar 9 anos para as poder ouvir soam genuínas. Depois de um espectáculo assim, como podemos não acreditar?