O que José Cid tem a menos que os jogadores de futebol de praia?
(eu sei a resposta… e a maioria de nós também)
Há umas semanas escrevi aqui sobre Marco Paulo. Ou melhor, não foi sobre ele que escrevi, foi mais acerca de um complexo elitista. Questionava-me da razão que leva o poder político a esquecer sistematicamente figuras que desempenharam um papel importante para tantos milhares de portugueses. Devo comparar Maria João Pires ou José Mário Branco com Marco Paulo? Não, são realmente incomparáveis. Porém, Marco Paulo é, para o bem e para o mal, parte do nosso edifício que, como todos os edifícios, é feito de vários materiais. Uns mais nobres do que outros, uns mais sofisticados do que outros, mas todos importantes para a construção da nossa casa comum.
Espanhóis, franceses ou alemães não têm esse problema. Como não existe essa questão para italianos, americanos ou brasileiros. Mas nós insistimos numa espécie de elitização das condecorações que é um desrespeito para uma parte dos portugueses – por mais que não goste de Marco Paulo (e não gosto) tenho o dever de o reconhecer.
Isto a propósito de José Cid. Que com toda a surpresa conquistou um Grammy Latino. O homem canta há 50 anos. Ganhou festivais. Compôs canções que todos os portugueses sabem cantar de cor. Festejou 77 anos e continua a pensar nos próximos álbuns e a cantar em todos os buraquinhos do país, por mais esquecidos que estejam ele não desiste de estar e cantar.
Isto também a propósito de o Presidente da República entregar comendas aos vencedores de um campeonato de futebol de praia(!) e não tenha sequer a gentileza de chamar José Cid ao Palácio de Belém e lhe oferecer um abraço que seja. Não é por mal, claro que não. Mas é um sinal errado que dá, o sinal de que a cultura (popular e não popular) está ao nível do chinelo. Não é correto. Ele também é Portugal e o país deve-lhe bastante. Mais do que a qualquer jogador de futebol de praia, por Deus.