Um amor muito caro
Um homem que sabe tratar bem a mulher com quem casou.
O presidente do Crédito Agrícola, Licínio Pina, é casado com uma mulher a quem a instituição financeira (que representa um conjunto vasto de bancos locais/caixas agrícolas) pagou durante alguns anos mais de 2 mil euros mensais.
Para que não existissem equívocos tudo parece ter ficado convenientemente explicado no contrato. A senhora não tinha nenhuma função específica, o dinheiro que recebia todos os meses tinha como objetivo o de compensar a abdicação da carreira de professora em função da carreira do marido. Licínio terá colocado isso como condição, a sua mulher tinha de ganhar esse ordenado para que ele pudesse ter a estabilidade necessária para fazer um bom trabalho.
Licínio Pina fez um trabalho importante à frente do Crédito Agrícola. Num cenário de crise geral da banca o CA cresceu a sua quota de mercado. É uma instituição privada que representa mais de 400 mil associados e tem quase um milhão de clientes e quase 500 balcões um pouco por todo o lado. Não há talvez nenhum banco com uma cobertura de território tão vasta. E não há nenhuma instituição (para lá da CGD) que represente tão bem as pequenas economias, a economia local, o dinheiro dos pequenos agricultores, do pequeno comerciante, dos que economizaram com a roupa no corpo.
Fico comovido com esta prova de amor de Licínio Pina pela sua mulher. E percebo muito bem que a sua estabilidade emocional dependa da estabilidade emocional dela. Mas compreendo pior que uma instituição que nasceu com os pressupostos do Crédito Agrícola possa aceita pagar dois mil euros do dinheiro dos associados a uma senhora cujo único trabalho é assegurar que o marido possa chegar a casa bem-disposto.
A história foi trazida pelo Jornal de Notícias – excelente cacha de Elisabete Tavares. Uma notícia que não deixa de ser importante. Maria Ascensão, mulher de Licínio, fazendo jus ao seu nome próprio, ascende diretamente para o top das pequenas obscenidades. Licínio dirá que não fez nada de mais. Mas uma instituição que paga à mulher do presidente mais de dois mil euros para ela se manter em casa com o único propósito de deixar o marido com a cabeça limpa, é um ultraje para milhares de pessoas que trabalham para receber muito menos do que isso – a começar pelos colaboradores dos vários créditos agrícolas.
Licínio Pina podia ter feito isto de várias formas – até negociar mais dois mil euros no seu ordenado. Mas isto é uma afronta à inteligência das pessoas. Ou então, mais grave, é o achar que não tem nada de mal. O achar que é justo, o acreditar que tudo lhe é possível.