Entrevista. Joana Azevedo: “O conceito de podcast prova que as pessoas querem conversa, informação e entretenimento”
No Dia Mundial da Rádio, o Espalha-Factos esteve à conversa com Joana Azevedo que foi, recentemente, distinguida como a “Personalidade Feminina do Ano” na categoria rádio.
Em 2019 completou duas décadas de “casa” na Media Capital Rádios, que incluiu passagens pela rádio Cidade. Juntamente com Diogo Beja, Joana Azevedo é uma das vozes por detrás do programa Já se Faz Tarde da Rádio Comercial, que está há cinco anos no ar.
Em 2017, a mesma dupla estreou o podcast Cada Um Sabe de Si, que já contou com muitos ilustres convidados. A portuense falou com o Espalha-Factos e fez balanço sobre os anos ligados a este meio
Antes de mais, tenho de dar os parabéns pelo prémio “Personalidade Feminina do ano” na categoria rádio. O que significa receberes esta distinção?
Receber um prémio é sempre importante. [Para mim] não é individual porque dependo de muita gente para fazer bem o meu trabalho. Felizmente tenho a sorte de ter uma equipa espetacular e é a melhor com quem já trabalhei. Tenho um partner [Diogo Beja] que é metade do prémio, porque vem da nossa relação dentro e fora da rádio e isso nem sempre acontece.
Em pleno Dia Mundial da Rádio, quero tentar fazer um apanhado sobre os teus anos ligados a esta área. Como é que ficaste com o tão chamado ‘bichinho da rádio’? Foi algo que surgiu em criança ou apenas nos tempos da faculdade?
Foi durante a adolescência. Eu praticamente não via televisão, nem via videoclips. Aliás nunca gostei de telediscos. Gostava de música entendes? Ouvia mesmo muita rádio. Era bastante obcecada até. Depois houve um dia que quis conhecer a Rádio Energia, que era, na altura, a minha rádio preferida. Um dia, vim de Lisboa com os meus pais de férias e pedi-lhes para passarem aos estúdios. Fui lá e pensei: “eu quero isto para a minha vida”.
Vim para Lisboa fazer um estágio na Rádio Comercial e fez, no ano passado, 20 anos. Sinceramente não sabia muito bem o que queria fazer, mas queria “estar na radio”. Era o cheiro destas caixinhas de ovos, que agora nos novos estúdios já não existem [risos], o ambiente, as pessoas, a música. Aquele poder de abrir o microfone e estar um país inteiro a ouvir-nos e nós ali escondidos.
Suponho que querias estar “atrás da voz”…
Sim, aquilo é tudo mágico. Claro que, no início, os meus pais não gostaram muito. Achavam que andava à brincar às rádios, mas depois lá se convenceram.
Que memórias tens da passagem pela Cidade?
Devo imenso ao Nuno Gonçalves, que era o diretor da Cidade na altura. Fazia produção e surgiu o convite para integrar as manhãs na rádio Cidade, numa altura que ia deixar de ser com locutores brasileiros para ser uma rádio falada em português de Portugal num projeto para jovens. Foi a partir daí que tudo começou verdadeiramente. Aprendi tudo o que sei na Cidade. O importante é que deixou de ser apenas a música e passou a ser o ouvinte. O foco centrou-se aí.
Nessa altura, havia até um certo mistério sobre quem estava por detrás da voz da emissão. Pelo menos eu sentia muito isso. Em adolescente, ouvia bastante a Best Rock FM, principalmente o programa da manhã com o Diogo Beja e o Miguel Peixoto. Lembro-me de, anos mais tarde, ver uma fotografia do Diogo Beja e ficar espantado porque não correspondia à imagem mental que tinha criado…
[risos] Sim, nunca correspondia.
Tiveste algum episódio semelhante?
Com certeza. Era sempre uma pessoa diferente na cabeça de cada um. Eu já fui alta, loira [risos] achava muita graça a essa parte da rádio. Perdeu-se um bocado esse mistério mas ganhou-se em outras coisas.
O contacto com o público?
Sim. A proximidade. Acho até que a rádio sabe muito bem tirar proveito das redes sociais. A relação entre animador e ouvinte é mais próxima e a rede social desenvolve isso e torna-a mais real. Sentimos que, às vezes, fazemos amigos.
Passando agora para a atualidade: tens dois programas. Um deles é o Já Se Faz Tarde com o Diogo Beja. Que balanço fazes desses cinco anos de emissões?
O balanço é muito positivo. Eu acho que a parte interessante é que o programa cresceu bastante quando nós começamos a fazer o podcast Cada Um Sabe de Si. Porquê? Porque o nosso tempo de conversa e de exposição é limitado devido à música, aos compromissos publicitários, aos noticiários, entre outros motivos, e depois não sobra tanto tempo para falar. No podcast é só conversa. Nós expomo-nos muito mais e as pessoas que foram atrás de nós [no podcast] começaram a conhecer-nos melhor. Isso deu-nos um push muito grande para o programa de rádio.
Já tiveram muitos episódios e convidados no podcast. Qual é o convidado que falta para aparecer no Cada Um Sabe de Si?
Há um convidado que gostava muito de ter, mas ele está constantemente a fugir e isso enerva-me profundamente [risos]. Eu não sei o que ele acha que vai acontecer ou se pensa que vamos fazer perguntas incómodas. Essa pessoa é o Bruno Nogueira. Também gostava muito de ter o Miguel Esteves Cardoso. É muito difícil entrevistá-lo. Se tivesse no lugar dele se calhar não o fazia, por isso eu percebo. Ah! E a Rita Blanco, que já esteve para vir mas virá de certeza. Estamos apenas a dar espaço. Adoro a Rita Blanco.
Apesar do conceito de podcast já existir há algum tempo, achas que o formato pode ser um dos futuros a explorar pela rádio?
Acho que sim. [O podcast] Prova que as pessoas querem conversa, querem informação e que querem entretenimento. Isso dá-nos alguma esperança, porque nós, animadores, gostamos de conversar e de espaço que antes nós não tínhamos e é bom saber que há cada vez mais pessoas interessadas a ouvir. A rádio não vai morrer. Ela sabe reinventar-se e está viva com boa saúde neste momento.
Gostavas de voltar ao horário dos programas da manhã?
Sim, claro! Voltaria obviamente [pausa] Depende com quem fosse. Acho que as pessoas e a equipa são muito importante para um projeto dar certo. Sim, voltaria. Não me importo dos horários. A única coisa que não gosto é de fazer rádio sozinha.
Entrevista realizada por João Pardal e que foi originalmente publicada em Espalha Factos.