Duas exposições para ver no Maat – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia
As duas exposições abrem ao público no dia 23 de Setembro.
Ballad of Today de André Cepeda é uma longa caminhada contínua, através de uma cidade, a princípio hesitante, depois acelerada. Em plena luz do dia, ao anoitecer, na escuridão, na sombra da noite, ao longo de muitos caminhos diferentes que se cruzam, que nos conduzem ao tão sedutor quanto repelente brilho do centro financeiro e nos fazem descer à sombria sucção dos esgotos. André Cepeda parece seguir os cães, os vadios, o trajecto dos noctívagos e dos desempregados através dos canais de um organismo complexo. Silenciosamente, mas com uma atenção aguçada, com uma perceção que parece reunir olfacto, tacto e visão num só sentido amplamente abrangente.
A cidade na qual André Cepeda mergulha é Lisboa, para onde se mudou há dois anos vindo do Porto depois de passar os primeiros anos de vida na Holanda e a juventude em Coimbra, com algumas estadias na Bélgica. Ele vagueia na sua nova cidade, infiltra-se nela, vasculha-a, distancia-se, perscruta-a, questiona-a e investiga-a minuciosamente — não tanto de uma forma descritiva, em jeito de síntese, mas como se quisesse perfurar o corpo da cidade com a sua máquina, abrir buracos nela, roçar nela, aguçar os sentidos e o pensamento na sua complexidade.
Embora habitualmente utilize uma máquina fotográfica de grande formato 4X5inch e um tripé, parece que as suas imagens foram feitas por um cão vadio, que com o seu focinho húmido toca os pavimentos das ruas, as fachadas das casas.
O resultado é esta inquietante balada de uma cidade, uma balada da cidade enquanto sistema urbano, da sociedade actual, da nossa existência individual e coletiva. No seguimento dos seus projectos anteriores, Depois (2016), Rien (2012) e Ontem (2010), André Cepeda aumenta a sua intensidade, renova a sua luta com o real, tornando mais concreta a linguagem das imagens, impregnada da sua “condição” física, emocional e social.
Ballad of Today, a exposição de André Cepeda no maat, mostra cerca de 80 fotografias a cor e a preto e branco e em diversos formatos e modos de exposição, dando forma a um corpo visual da cidade. É acompanhado por duas instalações sonoras produzidas em colaboração com Maria Reis e Gabriel Ferrandini. Um livro homónimo é simultaneamente editado pela Pierre von Kleist Editions.
Já a exposição Festa. Fúria. Femina – Obras da coleção FLAD assinala os 35 anos da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Pela primeira vez, em tão larga escala, a coleção de arte contemporânea da FLAD é dada a conhecer em exposição com 228 obras que representam o trabalho de 61 artistas portugueses de várias gerações, selecionadas a partir das 1000 que integram a coleção.
Em 1986, poucos meses depois da criação da FLAD, adquiriram-se as primeiras obras de arte por Manuel Castro Caldas que iniciou esta colecção e consubstanciou-a até ao princípio deste século, afastando qualquer intenção de representatividade nacional para a colecção, pese embora ela seja constituída maioritariamente por obras de artistas portugueses.
A exposição Festa. Fúria. Femina – uma coprodução entre a FLAD e a Fundação EDP/maat – parte do vasto acervo e integra desenho, pintura, fotografia e escultura, combinando trabalhos de várias origens e períodos e convocando contextos e enquadramentos sociais e históricos.
Três eixos dão nome a esta exposição. Festa. Fúria. Femina – Obras da Coleção FLAD celebra a coleção, evoca a dimensão de performatividade nas artes contemporâneas e destaca a sua dimensão feminina, exigindo um renovado olhar sobre a História de Arte.