Não devemos continuar a confundir fraqueza com fragilidade
Quantas vezes ouvimos coisas do género “um homem não chora” ou “seu maricas, grande gay pareces uma menina”. Sim, são em grande parte as migalhas patriarcais de uma receita machista tóxica e cíclica. Mas este fenómeno é também transversal a todos os géneros, idades e feitios, a todos nós.
Por vezes tenho a sensação que nunca atravessámos a Idade da Pedra ou talvez o Homem das Cavernas nunca tenha chegado a sair de nós. Talvez todo o antagonismo, criado por defeito, pelo capitalismo tenha gerado demasiada concorrência e conflitos em querer ser o primeiro ou o melhor, e daí tenhamos colocado uma pedra no lugar do coração. Impingiram-nos uma ideia fria de que temos de fechar a fonte quando só nos apetece afogar em lágrimas, mas assim como nunca devemos interromper o percurso natural de um rio, também não podemos travar a espontaneidade das nossas sensações. Criamos tantas capas e Homens de Ferro que não permitimos compreender o Ser na sua totalidade. Só aceitamos o bom, só choramos de alegria, muito criticamos e pouco construímos. Não há que arranjar justificações para não chorar quando há mais que motivos para o fazer. E não, não és menos nem te tornas mais fraco ou perdes qualidades por isso.
Se formos até a cultura Japonesa por exemplo, uma escultura partida ou rachada ganha o dobro do valor, por não haver erros iguais em nenhuma parte da vida. São essas fendas que nos tornam únicos e dão-nos personalidade. A grafia afiada da língua portuguesa também tem a sua culpa. O futuro trouxe-nos tanta rapidez e informação que nos diluímos nos detalhes e definições. Cometemos o deslize de consecutivamente confundir fragilidade com fraqueza, assim como vento com frio ou até mesmo bêbado com ressecado. O semelhante não é similar. Chorar, estar triste, cansado ou deprimido não é mau ou errado, de todo. É só um lado frágil de nós que precisa de existir, ser compreendido, aceite e por consequência evoluí-lo.
Este tipo de frases transportam disfarçadamente alguma homofobia e machismo. Como se ser-se Mulher significasse ser fraco ou haver algo de errado com a homossexualidade. Assim como a discriminatória “cor de pele” que nos ensinam erradamente numa tenra idade. Dispenso gastar palavras com pessoas que não vêem as cores todas deste espectro.
Fraco é desistir, não seres sincero contigo mesmo, escolheres o conforto e não o controlo, não víveres a tua verdadeira personalidade. Fraco é mesmo que te critiquem por chorar, não rires sobre isso, não fazer o esforço para compreender mas exigir ser respeitado ou aceitar que evoluir passa por também por desconstruir. Se a vida nos faz chorar é para que saiba melhor sorrir.
E o irónico é que a mulher é forte, mas o homem não pode chorar, portanto mais uma vez a masculinidade é menos completa que a feminilidade e a sua sensibilidade. Deixo-vos com um verso do rapper Valete “Durões dizem que não amam porque é sinal de fragilidade/ Mas eles são os mais frágeis porque não têm a outra metade”.
Crónica de João Grilo