Mobilizar os Psicólogos
Despertei para o associativismo em 1993 e desde então nunca mais parei. Foi pela mão e persuasão da Susana Patrício, minha madrinha de curso. Disse-me ela numa conversa, naquele corredor externo da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa que leva ao átrio de entrada, que havia uma diferença entre mim e ela, é que ela estava envolvida na Associação de Estudantes a tentar mudar coisas com as quais não concordava e eu não. E com isso acabou de convencer-me a colaborar com ela, que era membro da Direcção da Associação de Estudantes. Quando estudante do 4.º ano fui Presidente da Associação de Estudantes e membro de órgãos da faculdade como o Conselho Pedagógico, Conselho Directivo e Assembleia dos Representantes. Em 1995 fundei com 6 amigos o ATV – Académico de Torres Vedras, instituição de utilidade pública, do qual sou o sócio nº1, fui Presidente e dirigente em outras funções e o criador do Projecto Atitude Positiva (e seu gestor até 2011), hoje uma referência nacional para as Academias Gulbenkian. Desde 1997, e do fim da minha licenciatura, que concorri a vários concursos e fui a várias entrevistas em que me apresentei e à profissão, em tempos em que era menos conhecida. Comecei também nessa altura actividade clínica privada, com supervisão, e iniciei a minha formação pós-graduada em Psicoterapia na agora designada APTCCI. Depois de milhares de horas de formação e dessa atividade clínica durante os primeiros 3 anos da minha carreira profissional, iniciei um novo projecto, na sequência de proposta anteriormente apresentada, primeiro a tempo parcial, como psicólogo de uma UNIVA da Câmara Municipal de Torres Vedras e depois nesta mesma autarquia instalando o sector da juventude e seus programas de promoção da empregabilidade, participação cívica dos jovens, desenvolvimento de competências e literacia na área da autonomização para a vida adulta, entre outros.
Fui ainda, começando neste período, dirigente nacional da Federação Nacional de Associações Juvenis e um dos representantes de Portugal em toda a discussão do Livro Branco para as Políticas de Juventude na União Europeia, durante toda a sua negociação ao nível nacional primeiro e depois ao nível Europeu. Em 2002 decidi arriscar uma mudança de contexto de trabalho e aceitei uma proposta para trabalhar como Director de Recursos Humanos na indústria. Iniciei essa experiência com percurso formativo pós-graduado em recursos Humanos, na Universidade Católica de Lisboa entre outras acções formativas na área. Em 2003 fundei em conjunto com outros psicólogos a APOP – Associação Pró-Ordem dos Psicólogos, que iria durante 7 anos realizar o trabalho de influência para a criação da OPP. Em 2007 iniciei o meu primeiro blog, onde ainda escrevo pontual e pouco regularmente “Mais vale tarde do que nunca”. Após em 2008 ter sido aprovada a Lei 57/2008 que criou a OPP e aprovou os seus Estatutos, fui nomeado pela Ministra da Saúde de então como membro da Comissão Instaladora da OPP presidida pelo Telmo Mourinho Baptista, em Abril de 2009. Após o primeiro ano de instalação, fui eleito para a primeira Direcção da OPP. Já no segundo semestre de 2013 passo a Director Executivo da OPP e reeleito no final de 2013 para o exercício das mesmas funções. Tomei posse nos últimos dias de 2016 como Bastonário da OPP. A candidatura surgiu de um inesperado desafio do então Bastonário Telmo Mourinho Baptista, num momento em que já direcionava a minha carreira noutro sentido. Nesse processo eleitoral confrontei-me com a necessidade de superação e desenvolvimento pessoal que abracei de modo a poder sentir-me apto ao desempenho das funções a que me candidatava num processo com muitos ataques pessoais. Chegado hoje aqui, enquanto recandidato, conto não só com um percurso de provas dadas e experiências relevantes acumuladas, de muitas conquistas para os psicólogos, mais oportunidades de trabalho e alguma redução de precariedade, com um reconhecimento e valorização dos psicólogos pelo poder político e pela sociedade, com visibilidade para a profissão e credibilidade para a Ordem que os representa.
Foram mais de 400 os colegas que colaboraram diretamente com a OPP durante estes últimos 4 anos, em grupos de trabalho, comissões e representações. Foi um número infinitamente superior aqueles que colaboraram através de participações em conferências, webinars, e encontros, dos quais poderemos destacar os “Trilhos da Psicologia”, onde os elementos da direção percorreram mais de 60.000 km para conhecer a realidade, juntar e ouvir os psicólogos, conhecendo as suas dificuldades, expectativas, necessidades e ambições. Enquanto Bastonário da OPP estive presente em todas, num total de mais de 220 iniciativas em 4 anos. Se isso não chegasse para mostrar a proximidade da OPP junto dos psicólogos, que dizer dos mais de 23.000 participantes em ações de formação organizadas pelas OPP, excluindo deste número os cursos para psicólogos juniores. A união dos psicólogos e a sua ligação à ordem também se vê por aí.
Cerca de 2000 psicólogos contactaram a Ordem para pedir orientação sobre questões sobre a sua prática profissional. A esses acrescem cerca de 900 que solicitaram pedidos de orientação ética. Muitos destes processos são respondidos diretamente através de reuniões pelo telefone ou presenciais, o que perfaz quase 3000 contactos diretos com psicólogos em 4 anos, no auxílio direto à sua prática profissional. A orientação na decisão ética é mesmo um serviço único no panorama das ordens Portuguesas. A OPP, durante este último mandato, contratou para os seus quadros uma Jurista, que entre outras tarefas, participa também em processos de Aconselhamento Jurídico a membros da OPP. Considero que isto é ter proximidade com os psicólogos.
Numa perspetiva de ajudar os psicólogos no início da sua carreira, a OPP reduziu a quota dos psicólogos nos primeiros 4 anos de exercício para 4 euros mensais, sendo de 8 euros mensais até aos 8 anos de atividade. Reduziu-se ainda em 50% o valor de registo na OPP e passou a aceder-se gratuitamente ao Diploma Europsy, sendo que existem já cerca de 4500 psicólogos e psicólogas em Portugal com o mesmo. Tudo isto garantindo o equilíbrio financeiro da Ordem, com cada vez mais autonomia, reduzindo a sua dívida e melhorando os seus resultados. Desta forma, mostrámos que é possível promover proximidade, união e crescimento profissional com boas contas.
Todos nós, psicólogos e psicólogas, percebemos que ainda existe muito a fazer pela nossa profissão. Mas também é verdade que o papel da Psicologia em Portugal é hoje bem mais relevante do que alguma vez já foi, o reconhecimento da profissão e a sua implementação nos mais diversos campos é cada vez maior, não nos restando dúvidas que ainda há muito caminho por trilhar. Por isso queremos mobilizar cada vez mais os psicólogos e psicólogas para partilharem este futuro connosco.
Crónica de Francisco Miranda Rodrigues
O Francisco é candidato a Bastonário da Lista B da Ordem dos Psicólogos Portugueses