Presidenciais 2021
Numa altura em que só se fala das presidenciais decidi fazer uma pequena análise de cada candidato, o resto é convosco.
Eduardo Nelson da Costa Baptista: a típica pessoa que diz que vai, marca com “vou” no evento, responde que sim nos grupos, chega o dia e diz que não consegue aparecer. Abaixo os Nelsons deste país.
Marisa Isabel dos Santos Matias: Se isolarmos o primeiro e o último nome, Marisa Matias tem nome de alguém que representa algo que ela diz combater. Não deve ser fácil viver assim. Mas Marisa Matias tem esta ambiguidade, tanto no nome, como nas eleições de 2016, quando ficou à frente de Belém, mas foi da Maria (arriscada esta, desculpem).
Marisa Matias disse que ia derrotar André Ventura, e prometeu não desistir à favor de Ana Gomes. Enfim, políticos e as suas promessas. Marisa Matias durante as entrevistas que deu disse várias vezes “a gente”, o meu eu de 8.º ano sentiu-se representado. Marisa Matias no Twitter conseguiu vencer todos os debates, mesmo aqueles em que esteve menos bem. Twitter a ser um tipo de pessoa é claramente aquela que diz “eu quando gosto, gosto mesmo”. Mas tiro o chapéu à Marisa Matias, fez grande parte da campanha com duas costelas partidas, e no fim, acabou de lábios pintados. Deu a volta.
Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa: “Marcelo Nuno”. A prova que os betos não são perfeitos (longe disso!). O nome do atual presidente faz-me lembrar aqueles casacos que se pode usar de duas formas (do avesso e não só), mas numa delas fica estranho. Explico: “Duarte Rebelo De Sousa” — escritório de advogados. “Marcelo Nuno” — loja de ferragens. Marcelo não escolheu a versatilidade que tem. Trouxe do berço. De todos, Marcelo é o candidato mais positivo: nos afectos e nos testes covid. Marcelo testou positivo à Covid-19 e decidiu fazer vários testes para ter a certeza. Qual mulher grávida. Há uns meses decidiu ficar em isolamento por opção própria, e quando testou positivo fez de tudo para comparecer presencialmente num debate. Sabia que de máscara não podia presentear o país com as suas caretas, e Marcelo faz tudo pelo país. Mas tentou jogar à melhor de 3 com o covid e perdeu. O mais certo é que renove o mandato, tanto que prescindiu do seu tempo de antena. É o populista cool.
Tiago Pedro de Sousa Mayan: Tiago Mayan tem uma particularidade: faz-nos lembrar alguém, mas não chegamos a saber quem. O Mayan é o “Tino de rans” da elite. Têm os dois uma base pequena de eleitores, têm pouca experiência em debates, ambos falam de forma sôfrega e ambos ganharam créditos no Twitter depois do debate com o Ventura. Mayan é liberal e diz que estávamos todos melhor sem Estado, ou com menos Estado. Sobre este assunto tenho de fazer uma confissão: nos tempos da faculdade faltei às aulas sobre o liberalismo e neo-liberalismo, e apenas consegui passar a cadeira graças aos apontamentos de um colega que veio da Covilhã para Lisboa estudar com uma bolsa. Do Estado. Por isso não tenho profundidade para comentar este assunto.
André Claro Amaral Ventura: Claro que dá para perceber de onde vem o ódio aos ciganos e aos negros. Claro. Incrível como analisando os nomes dos candidatos encontra-se muitas respostas para muitas questões. André a maior parte das vezes que fala esbraceja, esperneia, e grita muito. Parece o tio bêbado e o beto malcriado. Há quem diga que não se deve dizer o seu nome, há quem diga que se deve dizer. Decidam-se. Odeia minorias na mesma proporção que adora fotografias impressas. A Esquerda vê-se aflita para combatê-lo, a Direita vê-se aflita para abraçá-lo. Incrível como alguém consegue ser básico e esperto ao mesmo tempo. André tem mais cassetes na cabeça que um videoclube. Todos temos alguém que não concordando com ele, já disse, uma vez que seja: “mas ele tem razão nisto.” Isso é preocupante. É muitas vezes descrito como o candidato que diz “as verdades”. Quando diz que odeia bandidos, mas é financiando por bandidos. Diz que defende o povo português, mas diz não ser o candidato de todos os portugueses, diz que há uma metade que trabalha para pagar outra metade que não quer trabalhar (banqueiros riram). Diz que é contra refugiados, mas já defendeu que o país devia acolher mais refugiados (2015). Diz uma coisa e seu contrário sem que isso importe quem vê nele a esperança para o país. Uma nota: Já vi rappers a imitar o que se faz nos EUA, nunca pensei ver um político fazê-lo.
Vitorino Francisco da Rocha e Silva: É o Tiago Mayan do povo. Vitorino Silva é ridicularizado por betos de direita, e acarinhado por betos de esquerda. Lembra-me o meu colega da Covilhã. De todos é o candidato com mais tino. Tem a destreza de um político a sério para fugir às questões. Consegue falar sempre da mulher e da filha mesmo que lhe perguntem pelo preço do pão. Usa pedras para fazer analogias, aliás tem o mérito de introduzir calhaus no debate político em Portugal. Existe o “não percebes faço-te um desenho”. Tino patenteou o “não entendes, explico-te com calhaus.” Quem ouve Tino falar fica com a sensação de que ele leu livros do Paulo Coelho, mas decidiu dizer por palavras suas. Não era para ter debates nenhuns nestas eleições, porque Portugal é uma democracia a sério, e o Twitter fez com que quase tivesse mais debates que os outros. O Twitter está para Portugal como a Rússia esteve para as eleições americanas. Tino é o “populista fofo.”
João Manuel Peixoto Ferreira: tem nome de treinador de futebol (nome de treinador do Nacional da Madeira). Tem boa barba. E um clube de fãs. Deve ser dos poucos que ficou feliz com o afastamento do Robles, pelo menos já não tem de dividir o título de “bonitão da política”. João Ferreira ainda não foi eleito, mas se for, por mim, pode saltar a parte da cerimónia em que se jura cumprir a Constituição, tal é a quantidade de vezes que já o fez. Nunca vi ninguém jurar tanto desde que eu era criança (era, eheh), e fui acusado de comer a última fatia de um bolo. Mas soube-me bem aquela última fatia. João Ferreira é, também, o candidato que nos veio mostrar que é possível ser homem e abrir a boca e haver quem só esteja interessado no nosso corpo. Se todas as pessoas que querem o João Ferreira na sua cama votarem nele, vence. Aliás, o slogan do candidato comunista devia ser: “Pára de me sexualizar, vai votar”.
Ana Maria Rosa Martins Gomes: sem querer ser machista (daqueles em desconstrução como se vê agora) diria que a Ana Gomes é mais uma mulher que adora homens fardados, tal é a quantidade de vezes que fala nos militares. Mais uma candidata que tem um nome versátil. “Ana Maria” — nome de quem tem boas notas no secundário. “Rosa” — nome de mulher que vai de férias e deixa a comida feita para o marido, mesa posta, e instruções de como mexer no microondas. (Lá está, estou em desconstrução).
Chamam-lhe a “populista do bem.” Fala de corrupção, e apoia Rui Pinto. Quão confortável alguém tem de estar com o que tem na “nuvem” para não se importar que um hacker espreite correspondência alheia. Quem me dera.
Há quem diga que é o Herman em mulher. Só acredito nisso quando vir um vídeo da Ana Gomes a dar sopa à mãe. A comunicação da Ana Gomes no Twitter lembra-me o meu Eu na adolescência a tentar vestir bem, mais são as vezes que falha dos que as que acerta. Aliás, a comunicação da Ana Gomes lembra-me os anúncios do mini preço com os tiktokers. Sempre que olho para aquilo, só me vem uma coisa à cabeça: porquê? Apesar de tudo, a Ana Gomes mostrou que é possível a Esquerda combater o populista do mal. E por isso, e não só, terá o meu voto.
Posto isto, votem. Nunca foi tão imperativo fazê-lo.
Crónica de Carlos Manuel Pereira
Carlos Manuel Pereira, até ver. Licenciado em Ciência Política no ISCTE, mestrado em “discussões sobre o racismo” no Twitter. Humorista, pelo menos eles dizem que tenho piada e eu acredito neles. Tenho uma rubrica de humor da RDP África – NA CORDA BAMBA. E amigo dos seus amigos porque ser amigo dos seus inimigos é parvo.