Abaixo-assinado pede que Gisberta Salce Júnior, uma mulher trans assassinada, seja nome de rua no Porto
Há 15 anos, no dia 22 de fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior, mulher trans de 45 anos, brasileira, profissional do sexo e seropositiva, foi brutalmente assassinada, após dias de agressões. Como consequência deste ato de violência, dá-se, nesse mesmo verão, início à marcha LGBTI+ no Porto. Gisberta tornou-se assim num símbolo da luta pelos direitos humanos, pela dignidade e autodeterminação.
Agora, a actriz Sara Barros Leitão, a Comissão da Organização da Marcha do Orgulho LGBT no Porto (COMOP) querem atribuir o nome de Gisberta a uma das ruas da cidade. Sendo assim, foi lançada uma petição online para entregar à Comissão de Toponímia do Porto.
Esta semana a actriz Sara Barros Leitão revelou na sua conta do Twitter que “Em março do ano passado, entreguei à Comissão de Toponímia Portuense um abaixo assinado pedindo a atribuição de dois nomes de mulheres a dois arruamentos da cidade: Gisberta Salce Júnior e Palmira de Sousa. Essa carta era resultado de um espectáculo que criei para e sobre a cidade, “Todos os dias me sujo de coisas eternas”, em que me propunha reflectir sobre as ruas do Porto. Durante o processo de criação, descobri que as ruas do Porto com nomes de mulheres representavam cerca de 2,5%. Concretamente, até essa data, havia no total 51 ruas com nomes de mulheres, e, por exemplo, 86 apenas com nomes de homens que começavam por “Dr.”.
No espectáculo, entre outras coisas, reflectia sobre a representação da mulher na estatuária da cidade e sobre a sua ausência no espaço público, nomeadamente, nos nomes de ruas, o que perpetua a narrativa de uma história patriarcal e androcêntrica. No fim, convidava o público a assinar um documento que pedia a atribuição de dois nomes de duas mulheres, sobre as quais falava no espectáculo, a duas ruas da cidade. O documento tinha mais de uma centena de assinaturas e foi entregue à Comissão de Toponímia a 11.03.2020.”, declarou a actriz que afirmou ainda que “Recebi a confirmação da recepção do documento, mas nunca obtive resposta relativamente ao pedido. Este ano assinalam-se 15 anos desde o brutal assassinato de Gisberta. Juntei-me à Marcha do Orgulho LGBT no Porto para, juntxs, voltarmos a endereçar o pedido à Comissão. Desta vez, a carta é aberta a subscrições, e pede a atribuição do nome de Gisberta Salce Júnior a uma rua da cidade. Esta atribuição é importante para que este acontecimento não seja esquecido. Não esquecê-lo significa continuar a lutar para uma cidade mais inclusiva e mais segura, que consiga proteger todas as pessoas que nela vivem, trabalham, caminham e desfrutam.“, afirmou.
A organização da Marcha do Orgulho LGBT no Porto terá ainda um ciclo de conversas e debates: “Se esta rua fosse minha”, que acompanhará esta acção, para se discutir o que se quer da cidade e das ruas, do espaço público e da forma como ele deve servir as reais necessidades de todas as pessoas.