Stone Dead: “Tínhamos uma necessidade de tocar música juntos”
Antecipando o concerto no festival Milhões de Festa, em Barcelos, estivemos à conversa com Stone Dead. Os rapazes de Alcobaça acabavam de regressar da tour europeia com os Killimanjaro e estavam de volta à estrada com datas marcadas por Portugal. A algumas horas de subirem ao palco na cidade do Porto encontrávamo-nos então com Bruno Monteiro, João Branco, Jonas Gonçalves e Leonardo Batista.
Antes de mais, vocês acabaram de regressar de uma digressão pela Europa com os Killimanjaro. Como foi a experiência e a recepção do público internacional ao vosso som?
Bruno: É como cá, há sítios melhores e sítios piores… é relativo.
Leo: Foi interessante apresentar lá fora aquilo que temos vindo a apresentar cá e ver as reações e as opiniões do pessoal lá de fora e acho que a malta recebeu bem. É como o Bruno estava a dizer, há sítios melhores e há sítios piores
Jonas: Não há sítios piores! Há sítios menos bons…
A pergunta da praxe: como surgiram os Stone Dead?
Jonas: Eu e o Bruno conhecemo-nos quando éramos muito jovens, crescemos juntos…
Bruno: Na altura da catequese… depois houve a história de amor com o João, mas essa parte conta ele.
João: Basicamente o Jonas e o Bruno conheceram-se na catequese e depois eu conheci o Bruno na escola e tivemos mais ou menos uma relação de meses e entretanto acabámos mas a música continuou. Depois disso o Bruno comprou uma bateria, o Jonas comprou uma guitarra, eu já tinha uma guitarra e tínhamos um baixista que era o Botas e há mais ou menos um ano entrou o Leo para a banda. Já o conhecíamos das bandas dele.
Leo: A nível de originais tenho outra banda que são os Fuzzil e depois chamaram-me para fazer parte dos Stone Dead e ter oportunidade de tocar com eles está a ser do caralho. Eu via Stone Dead na frontline antes de fazer parte da banda, era quase groupie deles!
Bruno: Isto começou quando eu andava com o Jonas na escola no 7º ano, ou antes, e começamos a ouvir álbuns que o pai dos Jonas tinha em casa, tipo Censurados, Peste-Sida e os Sex Pistols e começamos a descobrir o punk e ficamos com vontade de fazer o mesmo! E então criamos uma banda e nem sabendo muito bem foi do género «tu tocas guitarra, eu fico com a bateria» e na altura tocávamos com um baixista que era lá da nossa escola também e foi ele que nos apresentou o João, que cantava. A partir daí começamos a tocar as cenas que curtíamos, punk e por aí.
Vocês começaram por ser uma banda de covers, correcto? Como se deu o processo até decidirem criar os vossos originais? Como é que se aperceberam que era esse o caminho que a banda queria seguir?
Jonas: Acho que só tocávamos covers porque começámos a tocar todos juntos. Quando comprámos os instrumentos e fomos tocar uns com os outros, começámos por aí porque nos era mais fácil e simples. Após isso tivemos necessidade de fazer originais e queríamos que acontecesse e aconteceu.
Leo: Houve uma grande vontade de fazer originais porque chegou a um ponto em que as covers não nos preenchiam totalmente…
Jonas: As covers são um processo de aprendizagem, de nos conhecermos e isso… até porque formamos a banda de covers, antes de termos os instrumentos, simplesmente queríamos ter isso juntos. Tínhamos uma necessidade de tocar música juntos.
Bruno: A cena é que descobrimos isso na altura do punk, descobrimos os Ramones e essas cenas todas e queríamos ter uma banda e formamos a banda antes de sequer sabermos tocar instrumentos. E a cena foi tocar essas músicas que nós curtíamos e automaticamente começamos a criar música, nem te sei bem explicar porquê, nem foi por sentir necessidade, surgiu mesmo…
Como é que o desejo de fazer música surgiu na vossa vida?
João: Pessoalmente o que me fez ter vontade de aprender a tocar guitarra foi um documentário que vi uma vez na RTP2 sobre o Bob Dylan. Na altura já tinha uma guitarra acústica em casa e ainda nem tinha acabado o documentário peguei na guitarra e tentava decorar como é que ele punha os dedos naquela merda e imitar. Ainda era novinho.
Jonas: Lembro-me de estar na cave a ouvir Pink Floyd e o álbum tinha as letras e eu não sabia inglês mas eu e o meu pai cantávamos por cima das músicas de forma estranha e aquilo marcou-me imenso na infância. Lembro-me de ouvir Taxi e depois já na altura do punk de que o Bruno falava de ouvir Censurados, e aquilo dizia-me imenso e depois pegámos numa guitarra e vimos que era simples de tocar essas músicas e começámos a ganhar entusiasmo para não só tocar essas músicas como também para criar algo.
Leo: Isto vem de influências do meu pai também, que ele adorava Pink Floyd e Santana…
(começa a tocar «Beat on the Brat» dos Ramones e por alguns segundos a entrevista torna-se num acapella de Stone Dead a cantar Ramones para o gravador)
Bruno: O primeiro contacto que tive com a música foi quando me ofereceram um disco dos Humanos e curti bué daquilo, ouvi vezes sem conta e foi assim que começou para mim…
Quais foram os vossos primeiros álbuns? Aqueles que se lembrem…
Bruno: Foi um dos Humanos…
João: Eu tive dois primeiros álbuns: um do Marilyn Manson e outro dos Papa Roach.
Jonas: O primeiro que comprei com o meu dinheiro foi dos Da Weasel.
Leo: O primeiro que comprei foi dos Van Halen mas nem teve muita influência na minha vida, foi mais os que tinha em casa tipo Led Zeppelin e Pink Floyd e assim, mas o importante é descobrir sempre música nova.
Em 2014 lançaram o vosso EP, The Stone John Experience. Como foi o processo de criação e gravação?
Jonas: Os EPs que lançámos até então, no fundo, eram para nos darmos a conhecer, conseguir concertos com eles e tocar no fundo. Só agora com este álbum é que foi algo mais pensado e quisemos que acontecesse realmente. Aquilo era só para ter algum crédito para tornar mais fácil arranjar concertos e ter as nossas músicas a tocar, e também éramos mais miúdos na altura. Agora já nos identificamos com o que estamos a fazer… é o processo natural das coisas, penso eu. Porque no fundo foi tocarmos juntos, chegar com ideias à sala de ensaios, tocar, ir ao estúdio que nos era próximo e familiar, gravar e lançar por nós porque não tínhamos editora, foi tudo super caseiro.
E qual a recepção do The Stone John Experience?
Bruno: É sempre positivo porque foi o primeiro, não há muita expectativa… Estás a dar-te a conhecer.
Jonas: Deu para chegar às pessoas e a palcos que, para nós, eram importantes.
Foi nessa altura que se aperceberam que havia, de facto, um público receptivo à sonoridade dos Stone Dead?
João: Havia tipo nichos de pessoal, acho que nunca houve muita gente.
Bruno: Nós na altura também tínhamos um som diferente, era mais stoner, eram outras influências.
João: Nós nem ensaiávamos… gravávamos e tocávamos. Não tínhamos planos.
Jonas: Não era uma coisa tão pensada. Era mais a vontade de toar e de fazer alguma coisa, e de mostrar alguma coisa e também éramos miúdos, nessa altura tínhamos 19 anos ou algo assim. Quanto a isso este Good Boys já é bem diferente.
O EP conta a história do Stone John. No novo álbum vocês contam a história do Tony Blue. Como surgiu a ideia de criar personagens para os vossos trabalhos?
Bruno: O Stone John não era propriamente uma personagem… o disco não conta nada sobre ele.
João: Sim, o Stone John foi mais para dar cara à cena, porque não escrevemos nada sobre ele. Neste álbum as músicas contam todas a história do Tony Blue.
Bruno: Sim, o álbum foi todo baseado na história do Tony Blue.
Jonas: Acaba por não ser só uma compilação de músicas e torna a coisa mais coerente e há alguma fantasia à volta da coisa.
João: Pessoalmente acho mais interessante até contar uma história com o disco.
Bruno: Estivemos dois anos para escrever este disco, e durante esses dois anos um gajo pensa em coisas diferentes do que pensava antes, se calhar eram coisas mais parvas, e agora são mais maduras e a cena da personagem foi a cena ideal para refletir isso de uma cena mais adolescente e de agora uma cena mais adulta e acho que dá para notar isso com o avanço das músicas, que há mais maturidade.
Quem são o Stone John e o Tony Blue segundo os Stone Dead?
João: O Stone John é o avô do Tony Blue.
Quais são as vossas influências a nível musical?
Bruno: Censurados.
Jonas: Da Weasel.
João: Tudo o que é bom influencia…
Leo: Pessoalmente, posso mencionar Jefferson Airplane e Deep Purple.
Este ano lançaram o Good Boys. Como tem sido a recepção deste álbum?
Bruno: A recepção é uma coisa demorada, ainda vai demorar algum tempo a percebermos como é que a malta tem recebido o álbum…
João: Até agora o pessoal tem falado bem do álbum, não tem sido muita gente mas quem fala tem recebido bem
Jonas: E tem chegado a mais gente até por ser de uma editora já mais bem assente no meio, foge um bocado daquilo que tínhamos feito antes por isso as pessoas podem estranhar de início e podem ou não gostar daquilo que fazemos agora, esperemos que sim. No geral, o feedback está a ser positivo.
Leo: Daquilo que eu tenho ouvido, o pessoal que curtia o som do Stone John, a recepção podia ser bem pior. O som está diferente mas o pessoal percebe a cena.
Jonas: Porque quem nos ia acompanhando ao vivo foi acompanhando a transição até porque fomos tocando algumas músicas novas ao vivo de vez em quando e percebia-se que ia surgir algo um pouco diferente.
Quem é o menino querido e sorridente na capa do Good Boys?
Bruno: É o Tony Blue. O Tony Blue é a personagem que criamos para este disco, ou seja, contamos a vida do Tony Blue desde o início até ao fim do disco, ele nasce e morre ao longo do disco, é basicamente isso.
Quem teve a ideia de criar a personagem do Tony Blue?
Bruno: Fomos todos. Foi uma ideia que em que fomos matutando. Não surgiu de repente, estivemos a pensar e a discutir até chegar ao Tony Blue.
Como se dá o vosso processo criativo como banda?
Bruno: Neste último álbum mudou um bocadito. No EP, surgia tudo na sala de ensaios e juntava-se ali as cenas. Agora sou eu e o Joao que compomos em casa nas guitarras acústicas e depois levamos para o estúdio e cada um incute um bocado de si, mas como é algo individual acho que acabam por ter mais identidade.
João: Sim, nós compomos as músicas em conjunto e depois fazemos os arranjos finais com a banda. No final do verão vamos começar a gravar novamente.
Bruno: Sempre a bombar…
Desde o EP até ao Good Boys nota-se uma maturidade no vosso som, mas sempre muito fiel ao rock ‘n roll.
Jonas: Foram fases diferentes da nossa vida.
João: Tem a ver também com a maturidade, com o passar dos anos. São mais anos a tocar e mais anos a ouvir. Não é à primeira que sabes o que queres fazer, são mais anos a afunilar essa informação toda.
Bruno: Às vezes também a maturidade pessoal, nem tem a ver com a música, a maneira de veres a vida muda um bocado e percebes para onde queres ir ou não. Quando um gajo era puto só queria era tocar e fazer umas malhas, era mais por aí… agora já temos outros objetivos.
Leo: Acho que do ponto de vista de quem está de fora, o Stone John é mais algo de fazer e meter cá fora para tocar e dar concertos e o Good Boys é algo mais pensado.
Quais foram as principais diferenças entre a gravação do EP e do Good Boys?
Jonas: Neste álbum as músicas forma mais trabalhadas…
João: O Good Boys foi mais escrito na guitarra acústica, o outro é tudo mais feito na hora, nos ensaios, os riffs, a melodia…
Bruno: Sim, era tudo feito na hora, riffs, melodias e quê. Com o Good Boys fazíamos as músicas em casa, mais pessoais, e nos ensaios é que cada um dá um bocado da sua cena e se calhar as músicas têm um bocado mais de identidade porque são mais trabalhadas em casa. Não é tanto uma cena que se mistura ali tudo na hora.
João: Agora também temos mais harmonias vocais e mais cuidado nas letras.
Este ano vão tocar na edição do Milhões de Festa, em Barcelos…
Jonas: Tem um significado especial porque é um festival ao qual costumamos ir como público e agora vamos lá tocar. É sempre um gosto especial.
Quais as perspectivas para o futuro dos Stone Dead?
Leo: Compor mais, gravar mais e ver até onde conseguimos chegar com isto.
Bruno: Não há muitas expectativas, quer positivas, quer negativas… o objetivo agora é arranjar um estúdio só nosso para estarmos mais à vontade para gravarmos as nossas cenas.
João: Ser uma banda full-time, trabalhar em estúdio permanentemente.
Bruno: Sim, dedicar-nos a mais a isto do que nos dedicávamos antes.
Fotografias de: Stone Dead