As lides dos sistemas competitivos
Em sistemas competitivos, as dúvidas guardam-se e as certezas proclamam-se. Sobre este desígnio, qualquer profissional, até o se que autointitula «da alma», insufla narcisismos e esconde fragilidades. A exposição ao defeito e, ainda menos, à sua compreensão, não são motivo de discussão construtiva e empática.
«Na terra onde fores viver, faz como vires fazer», diz-nos a sabedoria popular. A sabedoria popular que, diga-se, só nos convém, dependendo da situação: ora é sabedora, ora é popular. Na verdade, raramente temos a coragem de a encarar como sendo ambas as coisas: tão ambivalente como a vida, não será necessário dizer que, para cada ditado, existe o seu contrário («Cada cabeça, sua sentença», por exemplo).
Fazer na terra onde se vive o que se vê fazer não acalenta singularidades, nem permite o usufruto de um dos maiores bens que temos: a liberdade. Não só a liberdade externa, a de podermos actuar construtivamente sobre o meio, mas, ainda antes, a liberdade interna, isto é, a de concedermos a nós mesmos a possibilidade de pensarmos do modo como desejamos.
Claro que este último ponto acarretará inquietações e colocará interrogações. Ninguém quer ser tomado por estúpido, e neste forjamento do complexo de inferioridade, todos se encarreiram numa estupidez geral: partilham-se as culpas, unem-se os equívocos.
A espontaneidade é, ela própria, «rançosa», pois, ninguém quer ser apanhado desprevenido, até mesmo diante da morte ou, ainda menos, diante da loucura. O escárnio é utilizado como defesa quotidiana destas nossas sombras. Uns farão a glorificação dos seus actos, numa espécie de psicopatia dos afectos, em modelos predefinidos prontos a utilizar; e outros, mais conscientes, terão que se adaptar, enviesados, a esta nova realidade.