Seremos a geração da prometida mudança?
Não olhando à luz de Geração X e Y, nem da famigerada questão dos millenials, esta é a geração mais informada e informatizada de sempre. O manancial de recursos à sua disposição, tanto ao nível dos valores, como das próprias fontes de informação, é imenso, e só será replicado e aumentado nas futuras. No entanto, como até estas são incertas, importa cingir àquilo que é a realidade. Esta geração está capacitada, mais do que nunca, para fazer frente às questões pelas quais se vem batendo em manifestações várias pelas ruas. As causas fundamentam-se cada vez melhor, para além de congregarem bem mais gente, pelo que partilham entre si e em si.
Integrando-me nesta, apresento o meu testemunho pessoal. Cada vez que alguma questão suscita o meu interesse, e reforça a importância de eu ter uma posição perante um desafio de todos nós, não me custa debruçar em várias fontes, em meio físico ou digital, e receber respostas aos porquês de partida. A esses, outros tantos surgem, numa escalada permanente e incessante de dúvidas, às quais quero respostas. Por vezes, coloco-as aos de gerações passadas, para perceber como, de facto, foi vivido e sentido todo o discurso no qual assenta a fundamentação histórica do que fomentam hoje. Os testemunhos de quem abriu as portas para que a nossa geração pudesse ser a mais espontânea e capaz de se inteirar do seu mundo devidamente são essenciais para que percebamos as vitórias que nos entregaram de bandeja, sem que fosse preciso o suor da nossa parte.
No fundo, as problemáticas adensam-se. Hoje em dia, são mais os subterfúgios a partir dos quais um qualquer pode levar a sua ideia adiante. Basta tocar nas emoções mais inflamadas e recalcadas, para além de soar aos ouvidos dos mais conservadores e de demais detentores que não passam nas manchetes dos jornais, fora quando os escândalos rebentam. São as bolhas aconchegantes por onde circulam interesses que não passavam pela cabeça de vários dos mais interessados. A iliteracia, por mais que fosse uma realidade, e que ainda subsiste nos dias de hoje, não era causa suficiente para essa perceção, porque as fontes que validassem essas conjeturas escasseavam. Do alto dos cadeirões, os gracejos aumentavam, até que as investigações jornalísticas e literárias se proporcionassem e revelassem, para lá da mera hipótese, a verdade.
Hoje em dia, todo o lastro que acumulamos de trás ajuda-nos a deter uma visão mais clara e realista de um passado que, em sua génese, não diverge muito do presente. Os mecanismos são os mesmos. Em vez de debates, conflitos. Em vez de ideias, armas. Em vez de critério, espalhafato. Situamo-nos num mapa que se desmaterializou, mas que nos fez mais globais. Cada vez mais unidos e interrelacionados, não nos deixando esmorecer pelo que se passa na mais ínfima aldeia de um país das mais distantes periferias. A realidade está sobre nós, apetrechada dos factos e das evidências que, outrora, só chegavam a uns quantos. Hoje, basta um pequeno esforço para que tudo nos pare nas mãos. O tempo, mais ou menos amigo, é gerido em favor dessas revelações consistentes e permanentes, porque semear as entrevistas aos problemas contemporâneos nunca deixou de ser feito.
As tecnologias, para lá dos reforçados problemas individuais que avultou, trouxe uma série de benefícios. A globalidade, para lá da proporcionada globalização, sustenta uma união, uma simbiose de interesses, de gostos, de conhecimentos e de práticas que aumentam o apetite pela exploração do mundo. Esse sonho deixou de ser tão intangível, como cada vez mais recomendável e louvável. É, também, nesse domínio lato das tecnologias que nos podemos socorrer de uma série de automatismos que nos facilitam as burocracias da vida. A transposição deixa-nos com mais meios e caminhos pelos quais redescobrir a nossa envolvência, que deve ser incentivada e considerada com imprescindível do nosso quotidiano. No que toca aos desafios que o digital nos induz, são vários, e cada vez mais intrincados, com muitos deles a serem de exclusiva responsabilidade das máquinas. As éticas e as moralidades caem e recaem com mais interesse, originando a necessidade de procurar pensadores mais ou menos modernos para nos iluminarem o rumo de toda esta espiral imersiva e progressiva.
O nível médio de instrução da população aumenta. Os partidários pelas causas das minorias são proporcionais. A própria tolerância vê-se a aumentar, por muito que remanesça, na nossa geração, a tendência de olhar de lado perante o diferente. Cada vez mais as incompreendidas passagens dos jovens são abarcadas e potenciadas pelos mais expeditos e sensíveis psicólogos, providenciais nesta nova forma de se fazer filosofia, em questões que abundam e que, não raramente, se viram contra o próprio questionador. A sociedade, pelos números, vê-se em progressão, mesmo perante os fantasmas ressequidos de tempos idos, em que os direitos que reivindicamos hoje se remetiam a uma abafada utopia. Estamos melhores do que a geração anterior à nossa estava há 20, 30 ou 40 anos atrás, embora não justifique a abstenção eleitoral e o sucessivo desinteresse, a ser catapultado pela oportunidade de mudar. Cada vez mais temos a chance de construir um caminho totalmente nosso, à luz daquilo que sonhamos, seguindo as paixões e vocações. Perante a realidade, o nosso dever é maior, porque temos acesso a, não obstante os continuados ruídos do sensacionalismo, informação pertinente, minuciosa, criteriosa, com qualidade para nos transmitir aquilo que é o nosso mundo. Está em nós a responsabilidade de saber escolher o que ler e o que assumir como bases para aquilo que pensamos, e para o que acreditamos.
Temos o mundo nas nossas mãos. Não é descabido afirmar isto, perante aquilo que nos é possibilitado saber, conhecer, digerir, entender, louvar, criticar. Uma chuva de música, uma enxurrada de literatura, uma panóplia de cinema e séries, uma miríade de demais artefactos e significados artísticos. Tudo isto para além das teorias cozinhadas e mais ou menos saborosas na política, na economia, no ambiente, na sociedade, na justiça, nas ciências, no desporto, etc. A promessa foi-nos incumbida de ser realizada. Perante as soluções alternativas, que prosseguem rumos de transparência e de sentido definido, está o cenário que ecoa tudo aquilo que vimos defendendo. A nossa participação na vida cívica aumenta em proporções desmesuradas, nem que seja com a existência de uma postura crítica, fundamentada naquilo que se viu, se vê, e se espera (não) ver.
Profetiza-se uma mudança. Todos falam do sistema com olhos pesados e embargados, como algo inalcançável e inatingível, mas onde já se denotam algumas fissuras. A “verdade dos factos” é-nos cada vez mais familiar. O interesse por perceber o que nos rodeia não começa nesta idade, mas já espoleta em tempos de criança, onde nos punhamos a maravilhar o bom gosto do recreio e o mau gosto das aulas. A estimulação dessa curiosidade dá-se na fase decisiva, onde a educação daqueles que nos concederam essa promessa importa. Estará aí o nosso rumo? O que será de nós? Seremos assim tão à rasca, conforme proclamaram os mais desdenhosos? Cabe a nós, novamente, no auge da nossa capacidade de pôr o mundo em perspetiva, responder a tudo isso. O futuro desenha-se já hoje. Por mais que as promessas e as expectativas se adensem na crescentemente complicada da mente, sugere-se que se siga o coração. Para que, acima de tudo, no colorir dos dias frequentemente cinzentos, se viva, se sorria, se ame. Tudo isto sem nunca arregalar a vista e bradar a contestação perante a injustiça, a iniquidade, a corrupção, a guerra. No esmiúçar da notícia, no calor da amizade, no partilhar do amor, no caminho da verdade. Seremos a mudança talhada em bonança?