‘Search Party’: a procura de uma geração
Nota: este artigo não tem spoilers. Quaisquer pontos da narrativa expressos no texto estão presentes em qualquer sinopse da série.
Search Party é uma série de comédia que começou no ano passado, com uma premissa baseada no desaparecimento de uma pessoa. Um ângulo narrativo que já foi explorado várias vezes, é aqui usado como um mecanismo para explorar a geração conhecida como millenials – palavra cuja mera referência pode ser suficiente para fazer revirar olhos. Aqui, o retrato é fiel e humanizante, com todos os defeitos e qualidades que vão além dos clichés usuais. Representa-se narcisismo, falta de empatia e uma atitude de quem não olha a meios para atingir os fins; mas também a determinação, ambição e resiliência de uma geração que, ao mesmo tempo que vive num mundo mais cómodo, e em que muitas coisas lhe foram entregues numa bandeja, se confronta com dificuldades e pressões inerentes à sociedade actual, por vezes incompreendidas.
Dory Sief – magneticamente interpretada por Alia Shawkat, conhecida como a Maeby Fünke de Arrested Development – está na segunda metade dos seus 20 anos, a trabalhar como assistente de uma típica mulher nova-iorquina rica, não seguindo o seu curso de design gráfico (facto quase não mencionado ao longo da série). A sensação transmitida pela sua vida é de modorra e falta de objectivos; como alguém que simplesmente anda a pairar por este mundo. O desaparecimento de Chantal, uma antiga colega de faculdade, dá um abanão à sua vida, assim como um propósito: o de a procurar. Por mais altruísta que isto possa soar, quais serão as verdadeiras intenções por detrás desta decisão? Chantal era apenas uma conhecida de Dory, pelo que a sua dedicação compulsiva toma traços algo auto-congratulatórios.
A série analisa de forma subtil as intenções de cada personagem que a povoa. As consequências das suas decisões, algumas delas aberrantes, levam a um desenvolvimento de carácter bem espelhado ao longo dos 10 episódios, e incomum à generalidade das séries de comédia. As cinco personagens-base estão bastante bem definidas. Tome-se o exemplo de Portia, representada por Meredith Hagner, que começa por dar a impressão de ser uma personagem unidimensional, e que deve algo à inteligência. Isso acaba por tornar ainda mais satisfatória a forma como a personagem vai ganhando profundidade, ao demonstrar que não é ignorante e, acima de tudo, tem uma sensibilidade especial.
A forma como as personagens estão escritas pelos co-criadores Charles Rogers e Sarah-Violet Bliss leva a que nos relacionemos com elas de uma forma pessoal; celebramos as suas vitórias, lamentamos as suas derrotas e, acima de tudo, quando as relações entre elas estão em risco – algo que a busca por Chantal acaba por despoletar, directa ou indirectamente – descobrimos o quão investidos estamos nas mesmas. A relação entre Dory e Drew – interpretado por John Reynolds, que muitos poderão reconhecer da série de sucesso Stranger Things – transmite uma sensação acolhedora e familiar, talvez por não serem o mais efusivo dos casais. Esta dimensão realista ainda equilibra bem o enredo plausível, com uns toques de absurdez bem-vinda.
A segunda temporada está neste momento em exibição e é um testemunho da qualidade da série. Após a conclusão aflitiva da primeira, que fechou a narrativa de forma adequada, a série reinventou-se, mudando de direcção ao mesmo tempo que reteve a sua marca de humor negro, mistério e análise psicológica. Quer se sintam perdidos na vida, ou apenas queiram acompanhar um mistério envolvente que vos faça rir, Search Party é a série indicada.