A confissão da arte

por Lucas Brandão,    7 Março, 2018
A confissão da arte
Vincent van Gogh, ‘A Noite Estrelada’, Junho de 1889
PUB

O que a arte assume passa para lá do que se é. No seu pendor abstrato, constrói e canaliza os operários da alma para os esforços de uma vida. Benévolos ou malévolos, os génios dispõem-se continuadamente, emergindo numa sintonia clara e distinta. Todo o fôlego soprado no escalar da vida sossega a ameaça de morte. Nada se coloca no caminho da afirmação evidente do que a humanidade quer ser. O desejo, o estado de alma está ligado à corrente das experiências, vivas e vividas na essência ulterior ao mundo. Em jeito de poema, discursa o bem entender artístico, descrito nas estrelas de quem acredita na sua maravilha.

O contágio propicia-se ao natural, sem final. Do rupestre das grutas, tudo se sucedeu. Linhas de escrita, de pensamento, de expressão, e outras mais, conheceram o colorido de uma vida sentida por aí além. A imortalidade descansa o espectro perseverante da partida, por mais programada e propagandeada que seja. O tempo de consagração no mundo é movediço e imprevisível. Cabe a cada um o esforço consentâneo com a glória procurada no êxito humano.

Em constante debate com a realidade, vem e surge a nostalgia, a utopia, a filosofia; para além da surrealidade, que, muito mais além de impressionar, arrebata. Uma conquista que não impele ao empunhar das armas, mas sim ao encantamento criativo dos feitos experienciados, e das próprias ferramentas desenvolvidas pelo engenho da científica arte, e da artística ciência. Rotinas que se fidelizam com os intuitos apaixonados e sentidos da trabalhada e dissociada expressão, que procuram a disrupção em relação às lides habituais dos dias. Uma prática habitual, mas que percorre os limites do paradoxal.

Tudo isto, no seio da artificial criação, autentica aquilo que a realidade acolhe como parte de si, e corrobora o seu ímpeto humano. A investigação, em plena prática da teoria equacionada, desenrola-se com vista ao império das ideias e das produções, sem opressões ao nível da criação, da conceção. Uma anarquia gerida no alto da consciência, que explora o que melhor sabe de cada um, e entregando-lhes os devidos proveitos, tanto na moral, como na própria pintura individual. Por mais tentadora que a inconsciência se apresente, a arte é do fazível, daquilo que está à disposição dos sentidos. Quando se sonha, soa a badalada. Desperta a razão e a alma para a abençoada e empolgada transmutação. É tempo de se gritar: eis a arte.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados