‘Beuys’, o que é a arte?
O “homem do chapéu”, Joseph Beuys foi um dos mais importantes e influentes artistas da segunda metade do século XX. Nascido na Alemanha, e com uma família sem raízes artísticas, Beuys viria a alistar-se na Força Aérea Alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, na qual teve um grave acidente, Beuys dedicou-se à Arte, tendo-se tornado inclusive professor de escultura. Nos anos 60, Beuys fez ainda parte do movimento artístico Fluxus que viria a influenciá-lo a seguir uma direcção artística mais voltada para a performance e happening.
Com o propósito de nos dar a conhecer o artista e um pouco da sua obra, Andrés Veiel tentou fazer um documentário, também ele, de forte cunho pessoal, como uma peça de arte o é. No entanto, são discutíveis algumas decisões de edição, alternando entre um documentário que se quer focar nas obras e nos relatos sobre o artista para depois nos dar um breve resumo biográfico do mesmo e voltar às obras ou a imagens de um debate que nunca chega a ter o destaque e esclarecimento devido sobre a sua importância (Beuys é questionado sobre a sua arte e sobre os seus métodos pouco convencionais). Demasiadas pontas soltas, Andrés Veiel foi ambicioso demais quando não teve todo o espólio que desejou (admitido pelo próprio) sobre as obras de Beuys.
Não perde por isso importância este importante trabalho sobre um dos mais interessantes e carismáticos artistas mundiais. “Forget the conventional idea of art. Anyone can be an artist. Anything can be art, especially anything that conserves energy.” Beuys não só quebrou tabus em relação ao conceito mais convencional de Arte, como acreditava que todos eram artistas e que através desse pensamento colectivo a arte seria veículo de transformação e revolução social – o conceito de “social sculpture” criado por Beuys. A partir do momento em que pensávamos, esse mesmo pensamento era produto da nossa criatividade e era portanto uma criação artística, ainda que o artista fosse acidental e não tivesse idealizado a “obra” com uma finalidade artística.
Beuys expandiu o conceito de arte, mas de que forma? E como é que isso se efectivou? Quem influenciou? Como influenciou tantos à sua volta? Como é que a arte de Joseph Beuys, tantas vezes questionada (tal como o próprio documentário nos mostra) ultrapassou fronteiras e se tornou tão influente no mundo artístico? Estas são algumas das perguntas que são levemente levantadas por Veiel no documentário, mas ao qual o mesmo não consegue responder satisfatoriamente.
Beuys soube ser diferente, e por isso foi olhado de lado pelos que, na altura, não estavam ainda preparados para a forma como o alemão vivia a Arte. Para ele, a escultura era sobretudo um meio de comunicação provocatório para um despertar de consciência política (participou activamente na política tendo até sido um dos membros fundadores do Partido Verde Alemão) e social. Algumas das suas performances, como por exemplo “I like America and America likes me” queriam sempre passar uma mensagem, ainda que através de métodos pouco ortodoxos, e é esse factor que as torna intemporais. Essa era a maneira de Beuys viver e fazer Arte. “Isto aqui é como Hollywood” diz-nos logo no início do documentário. Um homem à frente do seu tempo e sempre de sorriso fácil.