A doce sonoridade Mallu Magalhães no Coliseu de Lisboa
Já habituada a Lisboa, Mallu Magalhães pisou, finalmente, o Coliseu, numa noite que prometia espalhar a doce sonoridade da sua música. Bem acompanhada pela grande banda que a rodeava, a cantora deixou-se envolver pelos vários instrumentos, oscilando entre a guitarra eléctrica e a acústica. A abertura fez-se com Pelo Telefone, tema do seu mais recente álbum Vem, nome, também, da tour que levou a cantora às duas maiores cidades do país.
Apesar de Vem, lançado em 2017, ter servido de pretexto ao concerto, não teve maior nem menor destaque que as restantes músicas interpretadas. Desde Sambinha Bom, despertador de um sentimento de nostalgia em quem tem vindo a acompanhar, ao longo dos anos, o percurso da cantora, a Olha Só, Moreno e outros temas de Pitanga, Mallu teve, ainda, tempo para recordar músicas da Banda do Mar, projecto de sucesso que acabou por funcionar como um incentivo à descoberta das carreiras a solo não só da cantora, mas também do seu marido, Marcelo Camelo. Me Sinto Ótima e Muitos Chocolates integraram esta viagem pelo reportório da intérprete, comprovando a versatilidade de alguém que tão depressa provoca no público uma vontade incontrolável de dançar, como uma imobilidade aterradora de quem não consegue desprender o olhar do palco.
O seu contacto com o público, nos intervalos das músicas, ficou marcado por inúmeros “obrigados”; na verdade, revelando o seu ar mais dócil e sincero, a cantora desfez-se em agradecimentos como forma de trocar algumas palavras com as pessoas que estavam sentadas à sua frente e que, como referiu, tornaram possível a realização daquela noite. Numa tentativa de levar o público a quebrar o sossego que o caracterizara até ao momento, Mallu questionou-o porque não estava a dançar, apresentando, logo de seguida, a resposta: “o coliseu é muito chique”. No entanto, fossem mais, ou menos, as pessoas que abanavam o pé ao ritmo da música ou que dançavam bem agarradas às cadeiras, ninguém ficou indiferente à cantora, quer fosse pela tranquilidade que transmitia dentro do seu vestido branco, quer fosse pelo reviver de memórias através de temas antigos ou, simplesmente, pela sua forma genuína de estar em palco.
A companhia da sua banda, composta por bateria e outros instrumentos de percussão, baixo, teclas, guitarras e variados instrumentos de sopros, não lhe retirou a coragem de enfrentar sozinha o Coliseu em momentos que lhe possibilitaram o reforço da sua ligação ao público. Para além dos já citados temas que interpretou, não deixou de lado alguns dos sucessos brasileiros que mais admira como a Culpa, do artista O Terno.
Portugal ocupa já um lugar de destaque na vida da cantora e Lisboa, onde reside há algum tempo, serviu de inspiração à letra de Navegador – não a cidade em si, mas as pessoas com que se cruzou –, história que nos contou a meio do espectáculo. Talvez seja este especial carinho que tem pelo nosso país que ajuda a explicar o facto de, com as eleições brasileiras à porta e a sua origem paulista, não ter mencionado Bolsonaro e o caos que rege o Brasil. Não foi só esta a surpresa que provocou no público; ao ter deixado fora da setlist Você Não Presta demonstrou que não precisa de ser agarrar aos seus temas de maior sucesso para ser fortemente aplaudida.
Para finalizar, a cantora deixou-nos com uma nova música, despertando a curiosidade do público para o seu próximo trabalho. Love You e Vai Vem marcaram, ainda, a despedida deste sábado, onde, durante duas horas, Mallu deu vida a novas canções, recordou outras e, principalmente, provou a sua capacidade de captar a atenção total do Coliseu naquele que foi um concerto de reconfortar o coração.