A França também ocultou a verdade de Chernobyl
O último reactor de Chernobyl (eram 12) foi desactivado no ano 2000.
O acidente nuclear em Chernobyl é um dos temas mais falados do momento. A série de cinco episódios, escrita por Craig Mazin, conquistou o público e o tema nuclear voltou a ser assunto do dia.
No entanto, nem todos ficaram contentes com a nova jóia da coroa da HBO. De acordo com o The Moscow Times, o Governo russo não ficou satisfeito com a visão do canal de televisão norte-americano sobre o desastre de Chernobyl considerando que a série está cheia de mentiras.
Alguns meios de comunicação social russos escreveram inclusive que a série é uma “caricatura” e que só faltam “ursos e acordeões”. A juntar a isso, outras entidades nucleares foram acusadas de promover a série da HBO para manchar a reputação da Rússia.
Segundo o The Moscow Times, o canal nacional NTV, um dos três mais vistos da Rússia, pretende realizar uma nova série sobre a tragédia e que terá por base a conspiração norte-americana, pelas mãos da CIA, que segundo a teoria russa, enviou espiões para o local para realizarem actos de sabotagem.
A série será dirigida por Alexei Muradov, que não hesitou em justificar o argumento desta nova versão: “Há uma teoria que afirma que os americanos sabotaram a fábrica nuclear de Chernobyl e muitos historiadores não negam que, no dia da explosão, espiões inimigos estava presentes no local.”
No entanto, o próprio The Moscow Times, através do jornalista Ilya Shepelin, lamenta que o Kremlin e Putin não tenham feito mais para honrar o que aconteceu em Chernobyl ou falar do heroísmo russo que ajudou a salvar o país e partes da Europa das garras da condenação radioactiva. O jornalista criticou ainda no mesmo artigo o canal de notícias Rossia 24 e o jornal nacional Komsomolskaya Pravda, que foram bastante duros com a série da HBO, acusando-a de não ter contado as coisas como aconteceram. De acordo com Stanislav Natanzon, apresentador do Rossia 24, o Komsomolskaya Pravda foi precisamente o meio utilizado para publicar um artigo de Valery Legasov sobre “a verdade” que o cientista viveu. Mas o que Natanzon não conta, e o The Moscow Time corrige, é que esse artigo foi rejeitado pelo jornal em 1987, pois Legasov ainda era vivo, e só foi divulgado em 1988, ano em que o químico morreu.
Mas, e segundo o jornal The Guardian, não foram só os Soviéticos a mentir sobre o assunto. A França foi outro país que ocultou a verdade: “As autoridades francesas esconderam informações sobre a nuvem radioactiva no seu território, Hans Blix, então Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atómica — ainda acusado de minimizar os perigos após a catástrofe — divulgou uma declaração em que seria seguro viver em Chernobyl (…) o cientista dissidente Andrei Sakharov também foi enganado.”. Blix, que actualmente é um político e diplomata sueco, disse ainda que “Para minha vergonha, no início fingi que nada havia acontecido“, afirmou. O responsável foi também o primeiro representante ocidental a inspeccionar no local as consequências da catástrofe de Chernobyl.
Depois de acontecer o desastre, e segundo relata o jornalista Kim Willsher ao The Guardian, muitos médicos insistiram que havia um aumento de cancros e leucemias. As crianças nasciam com deformações raras, incluindo “pernas de sapo” e outras tinham problemas cardíacos e cancros da tiróide que se pensava terem sido causados pelo iodo radioactivo. No entanto, as autoridades insistiram que tudo isso acontecia por causa da pobreza e falta de comida e não tinha qualquer relação directa com o desastre de Chernobyl.
Actualmente, mais de 70% da energia eléctrica da França é gerada por tecnologia nuclear. Em 2017, o Governo francês, pelo então ministro da Ecologia Nicolas Hulot, admitiu encerrar provavelmente até 17 centrais nucleares até 2025, para cumprir o objectivo de transição energética no país.
Artigo editado às 21h40.