A “Love on Tour” de Harry Styles soube a morangos numa tarde de verão
A digressão mais desejada dos últimos dois anos aterrou na Altice Arena e foi tudo o que prometia. Harry Styles foi o protagonista da noite e de um espetáculo exuberante que nos levou numa viagem no tempo — desde clássicos de One Direction até ao seu mais recente álbum, Harry’s House. O jovem inglês de 28 anos estreou-se ontem em nome próprio em palcos portugueses e trouxe consigo “Love on Tour”.
A energia do público foi notória desde o momento em que deu os seus primeiros passos dentro do recinto. A audiência era composta por diversas faixas etárias de todos os estilos, mas com um grande fator em comum: a atenção ao detalhe no planeamento dos seus outfits. Entre plumas, glitter, chapéus de cowboy e padrões com cores garridas, é de congratular a audiência pelo seu preparo, dado que muitos dos trajes orgulhosamente ostentados foram por eles personalizados com as iniciais do intérprete ou até mesmo inspirados em looks usados previamente pelo mesmo.
A noite começou animada quando, pelas 20 horas, os Wolf Alice trouxeram o seu rock alternativo ao palco da Altice Arena, cumprindo o warm up de uma noite cheia de expectativa. Foram 40 minutos de uma performance dinâmica onde a banda e a vocalista Ellie Rowsell navegaram entre músicas de hard rock e tons mais melancólicos com elegância e suavidade.
Pelas 21:15, soaram os primeiros acordes de “Music For a Sushi Restaurant” e finalmente surgiu Harry Styles. O intérprete fez-se apresentar com a mesma música que introduz Harry’s House. Com uma melodia que nos transportou até à pop dos anos 70 com um toque de jazz, demos início à nossa viagem. Apesar de o lançamento do álbum ter-se dado apenas em maio, esta música foi recebida com grande euforia por um público que tinha cada palavra e melodia gravada na mente.
O astro da pop, considerado por muitos um ícone da moda (sendo que foi o primeiro homem a figurar a solo na capa da Vogue americana), envergava uma camisa cor-de-rosa da sua coleção colaborativa com a Gucci, com um urso e um excerto da sua obra “Watermelon Sugar”, em perfeita sintonia com os 5 elementos da banda que usavam jardineiras da mesma cor.
Avançamos com uma ode ao álbum Fine Line, sendo entoadas “Golden” e “Adore You”, músicas estas amplamente conhecidas e queridas pelos fãs arrebatados. Harry domina o palco e a audiência com mestria, não só pela forma descontraída com que conduz o espetáculo, mas também pela fluidez com que circula, fazendo do pavilhão a sua casa.
Imediatamente a seguir, vislumbramos um Harry Styles sorridente e deslumbrado no que viria a ser a sua primeira interação com o público português. Apesar de dispensar apresentações, de forma humilde, o cantor apresenta-se a si e à sua banda. Num bonito discurso, incentiva a audiência a divertir-se o máximo possível (ou tanto quanto o próprio se divertiria) e a celebrar a sua individualidade, convidando todos a estarem à vontade e serem, naquele momento, tudo o que sempre quiseram ser.
Após “Daylight”, “Cinema” e “Keep Driving”, observamos Harry a caminhar para a região mais distal do palco, acompanhado pela baixista Elin Sandberg e pela baterista Sarah Jones. Segue-se um momento acústico e íntimo, com o próprio cantor a assumir a guitarra. Somos presenteados com “Matilda”, tema pelo qual o intérprete refere ter um carinho especial e que claramente não deixa a plateia indiferente.
O concerto prossegiu com celeridade e a questão “Do you really know who you are?” — que em português significa “Sabes mesmo quem és?” — soou no ar e serviu de mote para um dos momentos mais icónicos da noite, com “Lights Up”. Harry segurava uma bandeira arco-íris enquanto toda a plateia acendia luzes de várias cores de forma a auxiliar o artista a celebrar o amor em todas as suas formas e esplendor. E falando em amor, após ver um cartaz em grande destaque, Styles ainda ajudou um fã sortudo a propor a namorada em casamento.
Após o festejo do amor, o cantor segue celebrando a sua segunda escolha feita em Portugal… Depois de um grande momento de suspense e um forte rufar de tambores, Harry ergueu um pastel de nata, exclamando com entusiasmo “These things are unbeliavable!”.
Segue-se na setlist “Treat People With Kindness”. Indubitavelmente, naquele espaço e naquele momento, muitos encontrámos um ambiente onde nos sentimos bem e onde experienciámos a aceitação de nós mesmos e do outro. Motivado pelas palavras do próprio, “Treat People With Kindness” é um hino que impele a prática de um exercício contínuo de respeito não só pelo outro como também por nós próprios.
Foi então que vivemos a verdadeira viagem ao passado, com o artista a revisitar um dos clássicos de One Direction, “What Makes You Beautiful”, e uma plateia a aproveitar ao máximo o momento contagiante.
À medida que a hora da despedida se aproxima e com a chegada iminente do encore, observamos desde sorrisos rasgados e muita dança com a música “Late Night Talking” a lágrimas emotivas motivadas pela balada “Love Of My Life”, durante a qual o público preparou um tributo ao músico exibindo diversos corações recortados em papel.
Como não podia deixar de ser, a última data da tour europeia merece ser celebrada. Surge então no alinhamento uma surpresa, com Styles cedendo aos múltiplos pedidos do público e arrancando com a performance da composição “Fine Line” pela primeira e única vez ao longo da digressão, para contentamento de muitos fãs. Foi a saída perfeita para o que viria a ser o primeiro “até já”.
“Sign Of The Times” foi a mítica balada escolhida para prolongar as quase duas horas de um intenso concerto que, apesar de esgotado, se fez sentir muito pessoal e íntimo. E, mais uma vez, a mensagem assumiu a supremacia quando vimos Harry envolto na bandeira ucraniana enquanto cantava “We gotta get away from here”.
Sentimos que o concerto está mesmo no seu epílogo quando ouvimos soar as enérgicas e inesquecíveis “Watermelon Sugar” e “As It Was”. Esta última é notável por ter quebrado o recorde masculino de streaming da gigante Spotify, somando mais de 16 milhões de reproduções em apenas 24 horas, garantindo ao artista a entrada para o Guinness World Records.
O momento dos agradecimentos chegou com Harry a agradecer efusivamente à banda, a toda a sua equipa, aos fãs e a Wolf Alice, motivando assim a última surpresa da noite. Ellie Rowsell, vocalista da banda supracitada, surge então para um dueto improvisado de “No Hard Feelings”, obra esta que o músico refere ser a sua preferida da banda.
A despedida fica marcada pelo pop rock de “Kiwi”, pertencente ao primeiro e homónimo álbum do artista. A canção fecha o concerto com chave de ouro, dado que integra todos os elementos tão intensamente vividos desde o primeiro minuto. A dança, a energia e os ânimos mantiveram-se inesgotáveis ao longo de uma noite que muitos juraram ter sido a melhor que vivenciaram em algum tempo.
Em suma, e no rescaldo de uma noite emblemática como esta, não podemos esquecer os muitos fãs que, devido à elevadíssima procura de bilhetes, não conseguiram fazer parte desta experiência. Para eles fica a seguinte mensagem: não há dúvida de que a segunda data que tanto pediram à promotora ou a relocalização do concerto para um estádio teriam sido mais que merecidas, mas da parte do intérprete fica a promessa de um regresso rápido, para que possamos voltar a sentir esta noite que vai deixar saudades.
Texto de Daniela Martins