‘A Máquina de Emaranhar Paisagens’: Poesia de Herberto Helder chega ao Porto
A partir de textos de Herberto Helder, “A Máquina de Emaranhar Paisagens”, estreada no passado mês de Outubro de 2016 no Teatro do Bairro Alto (ex-Cornucópia), continua a sua digressão e segue agora para o Teatro Carlos Alberto. Quase dois anos depois da morte daquele que, num país de poetas, reinventou uma poesia só para si, o espectáculo co-produzido por Berma, Centro Cultural Vila Flor, TNSJ, estará no Porto de 23 a 26 de Fevereiro.
O árduo trabalho de colocar em palco, no corpo e voz, o peso e consistência de Herberto, é levado a cabo pela produtora Berma, e em particular por dois actores bem conhecidos da TV, Teatro e Cinema, Dinarte Branco, que interpreta e encena, e Cristóvão Campos, que criou e interpreta ao vivo a música original do espectáculo.
Segundo o encenador, o espectáculo propõe a procura da poesia de Herberto Helder em palco, com os espectadores e nele “acredita-se que a imagética, a musicalidade e o ritmo impresso nos poemas do autor tornem real uma outra possibilidade de comunicação, um outro entendimento que a oralidade e a fisicalidade podem trazer aos textos, não na tentativa de os explicar, ou de os resolver, mas de os pensar e receber de uma forma diferente.”
Num diálogo entre texto, actor, música e espectadores, Dinarte Branco lembra que a proposta passa por explorar questões postas pelo próprio poeta, que recusava a escrita meramente mental e racional e dava densidade e vida musical às frases e imagens criadas por si, um dos maiores poetas portugueses de sempre – “o mago das palavras”.
“Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.”
Excerto do poema “O Actor” de Herberto Helder
Ficha Técnica:
a partir de textos de Herberto Helder | direcção e interpretação Dinarte Branco | música original e interpretação ao vivo Cristóvão Campos | cenografia Paulo Oliveira | figurinos Cristina Homem de Gouveia | desenho de luz e direcção técnica Feliciano Branco | assistência de encenação Alice Medeiros, Mia Tomé | produção executiva Daniela Siragusa | co-produção Berma, Centro Cultural Vila Flor, TNSJ.
Fotografia do espólio de Alberto Lacerda