‘A Time Coloured Space’, a exposição que não dá respostas
Este artigo não é um roteiro da exposição “A Time Coloured Space” de Philippe Parreno, não procura dar-lhe respostas, tampouco explicará o conceito por trás de cada peça que está nas treze salas da Fundação de Serralves. Este artigo fala sobre sensações.
A escuridão criada pelos balões de hélio que cobriam o teto do primeiro corredor já se notava antes de entrar nas salas ocupadas pela exposição. A luz artificial tentava escapar, mas os balões de fala, roxos e opacos, não permitiam. Ao fundo, a luz natural rasgava a janela quadrada pensada por Siza Vieira, e um estore ia abrindo e fechando, criando um ritmo quase musical. À volta, nas paredes, uma parte dos duzentos pirilampos da série de desenhos a tinta “Fireflies” (2012-2016) iam procurando a luz que só conseguem obter no crepúsculo. A inspiração (desta série de pinturas) num texto sobre a supressão da diferença cultural, escrito em 1975 para o jornal Corriere della Sera por Pier Pasolini, não era evidente; pelo menos tão evidente como a de Speech Bubbles (1997- atualidade) em Silver Clouds (1966), os balões de hélio espalhados por museus ou pela fábrica de Andy Warhol.
O transparente e o opaco, o luminoso e o escuro, o baço e o brilhante, o silêncio e o ruído, o real e a ficção eram alguns dos binómios que iam surgindo como contraponto numa exposição que fala maioritariamente de repetição sonora e visual. O desconforto ia ganhando uma dimensão crescente e os sons, que surgiam quando os visitantes mais distraídos menos esperavam, iam-se intensificando. A partitura musical da Fuga n.º24 em ré menor, de Dimitri Shostakovich, não surgia de forma literal, mas ia-nos acompanhando o tempo todo- fosse no ritmo dos estores, de uma parede giratória, dos apagões de luzes ou dos sons eletrónicos.
Passo a passo, sala após sala, o passado de Parreno ia-se espelhando nas obras produzidas ao longo da sua carreira, e ganhando uma dimensão de presente à medida que estas se encontravam umas com as outras e com a arquitetura do edifício. E é assim que o autor quer que vejamos a exposição- como um todo, e não somente como um conjunto de peças singulares cujo ponto de ligação é o seu criador.
Procurar respostas em “A Time Coloured Space” tornará a visita em vão. Deambular entre as salas, os corredores, o foyer e o Auditório poderá ser uma experiência exigente, algo desconcertante, e deixará perguntas por responder, que poderão, posteriormente, dar aso a reflexões.
Philippe Parreno explora os detalhes do edifício de Siza e conta a sua história- a de um artista plástico sensível, que soube transformar a sua bagagem em maturidade- características que o tornam um artista completo, singular e uma das grandes referências do século.
“A Time Coloured Space” estará patente na Fundação Serralves até 7 de Maio.
[supsystic-slider id=3 position=”center”]
Fotografias de Mariana Gomes/CCA