Ai Weiwei: “Toda a indústria cinematográfica é manipulada na China. É a maior máquina de censura do séc. XXI”
Ai Weiwei, que estreou recentemente em Portugal “Human Flow” (ler crítica), um documentário sobre a crise dos refugiados, revelou, em entrevista ao Screen Daily, que ser realizador de cinema na China é “uma piada” e foi mais longe dizendo que “Cada linha de texto, cada frame, é fortemente censurado pela máquina de censura mais forte do século XXI. E todos os dias ela se torna mais forte no controle das ideologias das pessoas e na distorção das informações, promovendo um entretenimento puro, desprovido de conteúdo estético ou profundamente filosófico“, afirmou o artista chinês.
Na mesma entrevista, o também arquitecto, artista plástico, pintor e activista, que vive radicado na Alemanha, depois de ter conseguido sair da China em 2015, disse que o Partido Comunista faz tudo isto há 70 anos e “controla todos os filmes que saem da China. Todos os grandes festivais de cinema ocidentais, de boa ou má vontade, consciente ou inconscientemente, aceitam a autoridade daquela ditadura. A auto-censura tem sido claramente exercida não apenas pelos cineastas chineses, mas também pelo Ocidente. Toda a indústria cinematográfica está ansiosa pelo sucesso de bilheteira na China continental“.
Weiwei, que lançou na Dinamarca o seu novo documentário “The Rest”, no “CPH: DOX”, um dos mais importantes festivais de documentário da Europa, disse ainda que para além China investir em Hollywood, o regime usa o seu mercado para recompensar ou punir quem concorda ou discorda com a sua ideologia: “Para o Partido Comunista, a cultura tem sido usada como o “poder brando”, que é tão poderoso quanto qualquer arma no campo de batalha política e económica internacional“.
Ainda em declarações ao Screen Daily, Weiwei afirmou ter consciência que “seria um milagre” exibir os seus filmes na China: “Isso nunca vai acontecer. Nem mesmo o meu nome pôde ser mencionado quando “Human Flow” foi seleccionado para ser exibido no Festival de Cinema de Veneza. Qualquer coisa relacionada comigo é claramente um tabu para a China“.