Alkantara Festival 2022: encontros para encarar os desafios do mundo e desenhar alternativas

por Comunidade Cultura e Arte,    10 Novembro, 2022
Alkantara Festival 2022: encontros para encarar os desafios do mundo e desenhar alternativas
Sun & Sea, das artistas lituanas Rugilė Barzdžiukaitė, Vaiva Grainytė e Lina Lapelytė / Fotografia de Andrej Vasilenko
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A primeira semana de festival traz uma ópera-performance na praia, um percurso junto ao rio, a reinvenção da história do Pinóquio, máquinas de arroz que falam sobre felicidade e gestos ancestrais do Haiti.

O Alkantara Festival – Festival Internacional de Artes Performativas arranca esta semana. Durante 17 dias, peças de dança, teatro e performance ocupam as principais salas de espetáculo lisboetas. Com direção artística de Carla Nobre Sousa e David Cabecinha, o festival propõe também momentos de encontro em festas, conferências e conversas com artistas.

A abertura do festival dá-se com Sun & Sea, das artistas lituanas Rugilė Barzdžiukaitė, Vaiva Grainytė e Lina Lapelytė, depois de no passado fim-de-semana ter passado pelo Teatro Rivoli, no Porto. Com quatro sessões extra no dia 10 de novembro também já esgotadas, a ópera-performance que recebeu o Leão de Ouro na Bienal de Veneza de 2019 estará na Culturgest (sessões às 19h, 20h, 21h e 22h, de 10 a 12 de novembro), uma apresentação em parceria com o CAM – Fundação Calouste Gulbenkian. A partir de uma estrutura de andaimes, o público assistirá a um coro de canções que emergem do cenário familiar de um dia de praia. Com humor e ironia, a aparente quietude veranil revela a ansiedade com que vivemos a crise climática.

“O Making of do Pinóquio”, de Rosana Cade e Ivor MacAskill / Fotografia de Tiu Makkonen

Na noite do dia 11 de novembro, a garagem da Culturgest torna-se pista de dança. Pira, uma proposta do Núcleo MeioFio (Cigarra, Jajá Rolim e Renato Kurup), exalta a folia como gesto de resistência à opressão normativa. Durante a noite, com momentos performativos de Nicole Gomes, Izabel Nejur e Zaya Xiana, a música estará a cargo de Vinicius BigJohn, Odete, RezmOrah e Kaloan.

Nos dias 12 e 13 de novembro, Rosana Cade e Ivor MacAskill, dupla de artistas e casal radicado em Glasgow, apresentam O Making of do Pinóquio no Teatro Nacional D. Maria II (sábado às 19h, domingo às 16h). Partindo da história do Pinóquio, que queria ser “um menino de verdade”, a dupla retrata a sua vivência da transição de género de Ivor. Nesta peça, em criação desde 2018, evocam a imaginação enquanto potência para um mundo queer e de um entendimento mais abrangente do que é uma identidade trans. A partilha continuará após a sessão de domingo, na primeira conversa do festival. Com moderação da investigadora palestiniana Shahd Wadi, o poeta e dramaturgo André Tecedeiro conversará com a dupla de artistas (em inglês, com tradução simultânea em português), num espaço aberto à participação do público.

“The Divine Cypher”, de Ana Pi / Fotografia de Daniel Nicoalevsky Maria

Nos mesmos dias, no TBA, a coreógrafa, artista da imagem e investigadora brasileira Ana Pi apresenta The Divine Cypher (dias 12 e 13 às 19h). Com uma bolsa atribuída pelo MoMA em 2020, Ana Pi investigou a cultura do Haiti e a diáspora africana num diálogo com os registos de Maya Deren e com a pesquisa de Katherine Dunham. Nos anos 40 do século XX, a cineasta ucraniana estudou e registou a cultura haitiana, as danças, a filosofia religiosa Voudoun e o seu património. Várias décadas passadas, The Divine Cypher convida a mergulhar nesses gestos e a descobrir o que deles ecoa na contemporaneidade.

De 12 a 14 de novembro, o artista sul-coreano Jaha Koo, que passou em outubro no Porto, inserido no FIMP – Festival Internacional de Marionetas do Porto, apresenta Cuckoo no CCB (sábado e domingo às 16h, segunda às 21h). O artista leva ao palco máquinas de cozer arroz e, entre momentos musicais, conversa sobre felicidade com elas. Partilhando a história dos últimos 20 anos na Coreia do Sul, os anos de juventude da sua geração, Jaha Koo reflete sobre os efeitos da crise financeira do final dos anos 90: o acentuar de desigualdades, o agravamento do isolamento social entre os jovens e o aumento de taxas de suicído.

“Cuckoo”, de Jaha Koo / Fotografia de Radovan Dranga

Percurso entre Marés – Percurso Imersivo ao Longo do Rio

Numa abordagem imersiva, a proposta do grupo multidisciplinar Natural Contract Lab, fundado em 2021, distingue-se pelo modo como, na atenção sobre a margem do Tejo, reconhece um problema global: a destruição dos ecossistemas ribeirinhos.

Nos dias 12 e 13 de novembro, o grupo de participantes fará um Percurso entre Marés, orientado pelas artistas Maria Lúcia Cruz Correia, Margarida Mendes e Vinny Jones. Procurando a sincronia com os elementos aquosos, o caminho desenvolverá a relação que se estabelece entre quem caminha, o próprio rio e a forma como se alimentam reciprocamente. Ao longo do percurso, que inclui dormida em Alcochete, praticar-se-ão gestos coletivos de cuidados partilhados pelos guardiães do rio.

Embora as inscrições para o percurso já estejam encerradas, no domingo haverá um espaço de conversa aberta ao público, uma Ágora do Rio, para discutir as observações feitas. O encontro acontece no Miradouro Amália Rodrigues às 10h00.

Até dia 27 de novembro, o Alkantara Festival estende-se pelos palcos da Culturgest, do Centro Cultural de Belém, do São Luiz Teatro Municipal, do Teatro do Bairro Alto e do Teatro Nacional D. Maria II, e ainda pelo Espaço Alkantara, a Casa da Dança e os Estúdios Victor Córdon. O programa completo está disponível em alkantara.pt.

Bilhetes e acessibilidade

Os bilhetes para os espetáculos podem ser adquiridos nas bilheteiras, físicas e online, dos teatros parceiros, e a partir do site do Alkantara Festival. Os preços variam entre os 3 e 16 euros. O Percurso entre Marés e a festa são de entrada livre.

Nesta edição, o Alkantara Festival apresenta vários espetáculos com recursos de audiodescrição, LGP e legendas para pessoas surdas, assim como sessões descontraídas. Estão disponíveis políticas de bilhetes acessíveis.

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