Anomalia do coronavírus na Alemanha: altas taxas de infecção, mas poucas mortes

por Comunidade Cultura e Arte,    20 Março, 2020
Anomalia do coronavírus na Alemanha: altas taxas de infecção, mas poucas mortes
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O Financial Times de hoje discute o mistério da reduzida proporção de mortes face ao número de infectados na Alemanha. Vários factores parecem concorrer para isto.

Primeiro, o país tem recursos inigualáveis para conduzir testes e está a fazê-lo de forma sistemática. Isto tem duas implicações: 1) há muito mais casos de pessoas infectadas que são detectados (o que aumenta o denominador, reduzindo o rácio mortos/infectados); e 2) os doentes assintomáticas a quem é identificada a infecção tendem a tomar mais precauções para não infectar outras pessoas.

Segundo, na Alemanha o vírus tende a afectar desproporcionalmente a população mais jovem, cujas viagens ao estrangeiro para fazer férias de neve terão sido uma das principais vias de entrada da epidemia no país. Como é sabido, os efeitos do vírus nos mais jovens tende a ser muito menos severo. O facto de as relações familiares inter-geracionais serem menos intensas na Alemanha do que nos países do sul possivelmente ajuda a limitar a transmissão do vírus aos mais velhos.

Por fim, a autoridades alemãs equiparam de forma massiva os hospitais com ventiladores e outros equipamentos para fazer face à epidemia – porque tiveram mais tempo para isso do que outros países (Itália, por exemplo), porque têm recursos financeiros de que outros países não dispõem e porque conseguem realocar parte das competências e capacidade produtiva instalada para estes fins.

Texto de Ricardo Paes Mamede, originalmente publicado na página de Facebook do mesmo.
Ricardo Paes Mamede é um economista e professor universitário português. É professor de Economia Política no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e um dos autores do blogue Ladrões de Bicicletas.

 

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