Aquilo que podemos pensar sobre a efemeridade de existir
Não entendemos a nossa própria existência e isso já diz bastante sobre nós. “Seremos apenas um monte de partículas elementares num contentor gigantesco à escala mundial? Ou constituirão os nossos pensamentos, os nossos desejos e as nossas esperanças uma realidade própria; e, nesse caso, que realidade constituem?”
Deparamo-nos constantemente com a efemeridade dos significados e das significâncias. Permanecemos, por isso, na materialidade do imaterial e aproximamo-nos , não raras vezes, da imaterialidade do material. Que significado têm as coisas para além do significado que lhes são atribuídas?
Nesta corrente de pensamento, surge-nos uma constante ideia de efemeridade. Já que tudo é efémero no sentir e no pensar, podemos perguntar: o que é verdadeiramente real? Quem é que decide o que é real? Se juntarmos todas as perspectivas que existem sobre o mundo, o mundo torna-se maior que o universo. E isso é real? A imaginação é muito maior que o universo, embora seja ‘imaterial’, e, para alguns, até irreal. Todas estas questões surgem através da leitura de um livro chamado “Porque Não Existe o Mundo”, do filósofo alemão Markus Gabriel.
Markus não nega o materialismo nem se fica por teorias idealistas, ao apenas evidenciar o seu super lado de pluralista ontológico. Com isto, acredita que o mundo não existe, mas nega a existência de um mundo que advém apenas de uma coisa. Nada existe isolado ou sozinho, tudo se inclui dentro de um domínio próprio. Por exemplo as galáxias existem, mas apenas existem dentro do campo da ciência e da física. Markus conclui que cada coisa que achamos que existe se rodeia de campos de sentido. Só através destes campos – que estão dentro de outros campos – é que as coisas podem existir. Todo o existir, efémero como é, é tão relativo como parece ser.
Em “Porque Não Existe o Mundo”, o autor atravessa pelas filosofias de Hegel, Heidegger e Habermas e mantém-se nos campos de significado que o pensar pode ter. Tudo parece real porque tudo se encontra dentro do seu próprio universo de significados, onde cada um tem as suas devidas propriedades. Se vivemos num mundo limitado, significa que não existe mundo como o conhecemos. Markus apresenta esta teoria do novo realismo, algo bastante contemporâneo e curioso.
Estar naquilo a que chamaram mundo é um projecto meramente da metafísica (disciplina filosófica) que tenta explicar a nossa existência no mundo enquanto mundo. Isto enquanto desenvolve uma teoria à volta de tudo o que acontece dentro do mundo. Só assim é que algo faz parte de algo ainda maior ou mais pequeno. Uma espécie de teoria da existência através da inclusão. Sendo o mundo a totalidade de coisas que existem (espaciais e temporais), o mundo é, portanto, uma construção filosófica, e, por isso, uma ilusão. Existem factos que se dizem reais, mas os factos não são espácio-temporais, sendo, sim, formados apenas por conceitos. A existência é o facto de algo aparecer num contexto, logo, existir é estar presente em determinado contexto.
Podemos concluir que existem factos, existem pensamentos, sentimentos, mas o que existe, essencialmente, são as diferentes perspectivas e a multiplicidade de discursos. O alemão Markus Gabriel apresenta um livro muito peculiar, ou, como diria o pensador esloveno, Slavoj Zizek, “um magnífico exercício de pensamento” que te deixa a reflectir sobre aquilo que achamos que existe, sem nunca pensar na significância da existência. Na realidade, fica-nos uma ideia de liberdade, liberdade de não fazer parte de um todo, mas de ser um todo (efémero) num determinado espaço e num dado tempo.