Ausência de Amílcar Cabral nas escolas da Guiné-Bissau impede o conhecimento do “pai” da independência do país, afirma o investigador Miguel de Barros

por Lusa,    16 Janeiro, 2023
Ausência de Amílcar Cabral nas escolas da Guiné-Bissau impede o conhecimento do “pai” da independência do país, afirma o investigador Miguel de Barros
Miguel de Barros / Fotografia de Danilo Vaz, Bissau, 2021
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O investigador do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral (CESAC) em Bissau Miguel de Barros admitiu que a ausência no currículo escolar impede o conhecimento dos jovens sobre o pensamento do “pai” da independência da Guiné-Bissau.

Instado a comentar de que forma os jovens guineenses olham para a figura de Amílcar Cabral, assassinado há 50 anos na Guiné-Conacri, Miguel de Barros afirmou que aqueles até aspiram a conhecer o fundador da nacionalidade.
Há essa dificuldade de compreensão de Amílcar Cabral, não porque estão contra, não porque não desejam, mas em primeiro lugar porque, tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde, Cabral não está dentro do sistema curricular”, observou o sociólogo formado em Portugal.

Cofundador do CESAC, Miguel de Barros exemplificou as dificuldades citando a ausência no país de bibliotecas sobre o líder nacionalista.

Um jovem da periferia, da classe baixa, rural não tem acesso a Cabral. Não há biblioteca especializada sobre Amílcar Cabral. Dentro do sistema curricular não se compreende a própria história da luta de libertação, da resistência anticolonial, porque não faz parte do processo curricular. Isso dificulta o processo de aprendizagem”, disse.
Miguel de Barros vê, contudo, um novo movimento de jovens na tentativa de busca de melhor compreender Amílcar Cabral, fora do sistema do ensino, potenciado através da Internet, notou.

Hoje esta nova geração tem mais possibilidade de chegar à documentação quer produzida por próprio Cabral, como também produzida sobre Cabral para construir esse diálogo e vê-se por exemplo, nas músicas rap o nível de diálogo que há entre essa geração relativamente ao discurso de Cabral em relação ao estado de governação e também da condição do africano no mundo”, observou o investigador do CESAC.

Miguel de Barros, 42 anos, também investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) salientou que a sua geração, apesar de não ser contemporâneo de Amílcar Cabral, tem-no como “figura máxima e consensual” no processo de luta pela libertação dos povos africanos do jugo colonial, frisou.

Pessoalmente considera Cabral “um visionário e mensageiro”, atributos que disse estarem a ser aproveitados pelos jovens, a partir dos seus discursos, para construção de formas de reivindicação social através da música e intervenção política.
 

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