‘Black Panther’ não é só mais um filme da Marvel
Vamos no décimo oitavo filme do universo cinemático da Marvel e já não deveríamos estar saturados de filmes de super-heróis? O truque é que estes filmes são cada vez menos filmes típicos de super-heróis, eles misturam-se com outros géneros. Por exemplo, o filme Thor: Ragnarok é um filme de comédia e o Capitão América: Soldado de Inverno é um thriller político e acontece o mesmo com este filme. Black Panther é o terceiro filme do realizador Ryan Coogler, o mesmo de Creed e Fruitvale Station, e Chadwick Boseman volta a interpretar o papel de T’Challa a.k.a. Black Panther.
Black Panther começa logo a seguir aos eventos do Capitão América: Guerra Civil. T’Challa volta a casa para ser coroado rei de Wakanda através de um ritual de aceitação das cinco tribos, e anulando assim a possibilidade de algum outro líder poder tentar reclamar o posto para si. No entanto, os problemas surgem com decisões erradas de líderes anteriores e para os resolver T’Challa tem ser um líder diferente.
Vamos por partes; Wakanda é um país fictício situado em África que foi atingido por um meteorito com vibranium, a matéria-prima (também fictícia) mais valiosa do mundo, e ,devido a isso, esta é a nação tecnologicamente mais avançada do mundo e, por consequência, esconde-se do exterior. A caracterização de Wakanda é bastante rica, uma mistura moderna com a cultura africana e está mais bem conseguida que “Asgard” nos filmes do Thor. O guarda-roupa, a construção da língua, os hábitos e as tradições dos wakandianos estão também muito bem construídos, quase parece um lugar verdadeiro.
A pontuação musical, ao contrário de outros filmes da Marvel, não passa despercebida e o trabalho que Ludwig Göransson, o mesmo de Creed, Fruitvale Station e que até deu uma ajuda no soundtrack de Get Out, colocou nesta pontuação é incrível: acontece uma mistura entre música africana tradicional e o hip-hop, o que combina perfeitamente com o filme.
Outro dos pontos fortes de Black Panther é a existência de diversas personagens complexas com quem podemos nos identificar e que nos causam sentimentos profundos. Michael B Jordan como Killmonger, e ao contrário de muitos vilões da Marvel, é uma personagem profunda, extremamente ameaçadora com motivações lógicas e com um passado dramático por consequência de decisões do pai de T’Challa. Killmonger é frio, demonstra imensa raiva e uma falta de empatia que facilmente se torna como um dos melhores vilões da Marvel.
Mas é claro que não podemos deixar de falar do protagonista, T’Challa, interpretado por Chadwick Boseman parece já estar muito confortável com a personagem e consegue fazer com que nos importemos com tudo que T’Challa está a sentir. Seja pelas suas dúvidas, vulnerabilidades, motivações, frustrações ou até alegrias. Para além disso, ele está acompanhado de personagens secundárias muito bem construídas como é o caso de Okoye (Danai Gurira), Nakia (Lupita Nyong’o) e Shuri (Letitia Wright). Mas não nos esqueçamos de Andy Serkis como Ulysses Klaue que nos dá uma interpretação bastante energética e divertida e que guia muito bem o filme.
Black Panther é uma reflexão aprofundada de uma história de um continente, de um país, de uma família da realeza e de um jovem rei que enfrenta diversos problemas e para os resolver tem que ser diferente dos seus antecessores. Pantera Negra coloca-nos em confronto com diversos temas: se devemos abdicar do nosso estilo de vida para ajudar outros com mais necessidades, quando é sabemos que temos recursos para apoiar os outros, ou se nos devemos concentrar só em nós próprios.
Para além dos pontos fortes, existem também alguns pontos fracos no filme: as sequências de luta não são muito memoráveis e o CGI em alguns desses momentos transforma o filme num videojogo. No meio de tantas personagens boas e interessantes a personagem de Martin Freeman é um ponto negativo porque não tem muito para fazer e está meia perdida no filme.
Para concluir, Black Panther continua a ser um filme da Marvel que segue um padrão pré-definido mas é muito mais que isso. A sua ambição estética, as suas personagens complexas e os seus temas profundos fazem com que o filme não seja só “mais um filme da Marvel”.Crítica de João Fernandes