Casa das Histórias Paula Rego exibe nova exposição de mais de uma centena de obras da pintora portuguesa

por Comunidade Cultura e Arte,    7 Julho, 2023
Casa das Histórias Paula Rego exibe nova exposição de mais de uma centena de obras da pintora portuguesa
Paula Rego. Madame Butterfly, c. 1985. Tinta acrílica sobre papel montado em tela, 76,5 x 56,4 cm. Coleção particular em depósito na Fundação D. Luís I / Casa das Histórias Paula Rego – Fotografia © Valter Vinagre
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Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora da programação e conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a exposição “Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos” apresenta uma cuidadosa selecção de obras da autoria de Paula Rego que integram a Colecção da Câmara Municipal de Cascais / Fundação D. Luís I / CHPR, além de obras que integram importantes colecções privadas nacionais, para oferecer ao público uma visão perspetiva do seu percurso criativo, desde a década de 1950 até aos últimos anos de produção artística.  

Através da exposição de mais de uma centena de obras, a mostra descortina o processo criativo de Paula Rego ao longo de sete décadas, para evidenciar como foi capaz de construir um território figurativo único e pessoal, onde as histórias funcionam, desde as suas primeiras criações, como verdadeiras estruturas realistas.  

Paula Rego pintou para contar e foi, ao mesmo tempo, personagem e narradora de histórias intemporais, reinscrevendo-as no seu próprio tempo. A sua personalidade insubmissa e o combate pela afirmação da auto-expressão levaram-na a declarar independência face aos movimentos artísticos do seu tempo e a uma redefinição constante da sua linguagem figurativa”, afirma Catarina Alfaro, curadora da exposição, que ocupará todas as salas do emblemático edifício projectado pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, destinadas à apresentação de exposições temporárias. 

Além de pinturas e desenhos a óleo, tinta acrílica, guache, aguarela, pastel, lápis de cera e de cor sobre os mais variados suportes, colagens, tapeçaria, serigrafias, água-forte e água-tinta, para listar apenas alguns dos materiais e técnicas que Paula Rego utilizou durante a sua longa carreira, a exposição apresenta também cerca de 18 estudos em tinta da China sobre papel executados por Paula Rego para algumas das pinturas que viria depois a realizar.   

As décadas de 1960 e 1970, dentro do panorama da obra de Paula Rego, são caracterizadas pela exploração de práticas experimentais, que estarão na origem da construção do seu universo simbólico particular. Nesse período, com a inclusão elementos autorreferenciais ou autobiográficos, refletiu e confrontou nas suas telas a complexidade das questões da época: a rigidez da realidade política e social sob um regime ditatorial, patriarcal e católico, e a multiplicidade de sensações que isso causava, do medo, à ansiedade e à raiva. 

É também nessa altura que Paula Rego reclama a sua autonomia perante os movimentos artísticos do seu tempo, uma especificidade que a sua obra manteria até ao final. Nos anos de 1980, esse sentido de liberdade em relação às convenções impostas ao modo de “fazer arte” intensificar-se-ia, resultando numa reformulação do seu processo criativo e no estabelecimento de uma linguagem visual radicalmente nova, para contar as suas histórias através da pintura.  

Nas décadas seguintes, a sua metodologia de trabalho tornar-se-ia paulatinamente ainda mais complexa e arrojada, com o uso de modelos vivos ou bonecos tridimensionais, rigorosamente vestidos e posicionados entre objectos e adereços para construir a história e compor tactilmente a cena a ser transportada para a tela. “A dimensão narrativa, sempre presente na sua obra, é organizada a partir da vivacidade e solidez do seu mundo imaginário”, observa a curadora.  

Obras como “Noite” (1954), “Batalha de Alcácer-Quibir” (1966), “O cerco” (1976), “Os Amantes” (1982), “Madame Butterfly” (c. 1985), “Branca de Neve no cavalo do Príncipe”, (1995), “Príncipe Porco e a sua primeira noiva” (2006), que poderão ser vistas pelo público a partir de 13 de julho em “Mudam-se as histórias, mudam-se os estilos”, evidenciam a personalidade insubmissa de Paula Rego e a sua determinação por uma expressão artística livre de amarras e convenções, que a levaram a uma redefinição constante da sua linguagem figurativa e à criação de telas composicionalmente complexas,  que abrangem contextos narrativos e inspirações muitíssimo diversificados. 

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