China censura “Nomadland”, da realizadora Chloé Zhao. O filme venceu os Globos de Ouro e é dos mais esperados do ano
A cineasta chinesa Chloé Zhao, que também escreveu, montou e produziu este filme, é a primeira mulher asiática a ganhar um Globo de Ouro de melhor realização com “Nomadland” (ler crítica). A realizadora, que se formou em cinema em Nova Iorque, está agora também envolvida numa polémica com a China e que lhe pode prejudicar a estreia do seu filme no seu país natal.
“Nomadland” é uma adaptação do livro de 2017 da escritora e jornalista Jessica Bruder e reflecte, em 2011, o impacto da crise financeira de 2008. “Nomadland” retrata assim cidadãos norte-americanos desfavorecidos que viajam pelo Oeste do país e que vivem de empregos temporários. O filme fez história nos Globos de Ouro onde ganhou dois prémios, entre os quais dois dos mais importantes: o de melhor filme e o de melhor realização.
Depois de vencer vários prémios, o sucesso da cineasta chinesa Chloé Zhao, que nasceu em Pequim mas que reside nos Estados Unidos, atraiu a admiração da China e de vários orgãos de comunicação social chineses. A realizadora foi descrita, entre várias coisas, como “uma fonte de orgulho” para o país. No entanto, e após declarações atribuídas a Chloé Zhao na revista norte-americana Filmmaker, e em 2013, em que a cineasta critica o seu país natal, as coisas mudaram de tom: “é um lugar onde há mentiras por toda parte“, afirmou a realizadora à revista. A Filmmaker chegou mesmo a apagar esta parte da entrevista no passado mês de Fevereiro, dias antes do anúncio da data de lançamento de “Nomadland” China, pode ler-se na Variety.
Agora, e após a descoberta destas declarações, a palavra “Nomadland” não pode ser encontrada na rede social Weibo, uma das redes sociais mais populares na China, mas as discussões sobre o filme e a sua realizadora não foram censuradas. A China parece assim ter recuado e qualquer peça jornalística ou publicitária ao filme “Nomadland” foram também discretamente “varridos” da web chinesa.
A estreia de “Nomadland” na China estava oficialmente programada para 23 de Abril, mas a data também deixou de aparecer nas principais plataformas de cinema do país e o seu lançamento passa agora a ser incerto, segundo a Variety.
Recentemente, o artista Ai Weiwei, e em entrevista ao Screen Daily, disse que ser realizador de cinema na China é “uma piada” e foi mais longe dizendo que “Cada linha de texto, cada frame, é fortemente censurado pela máquina de censura mais forte do século XXI. E todos os dias ela se torna mais forte no controlo das ideologias das pessoas e na distorção das informações, promovendo um entretenimento puro, desprovido de conteúdo estético ou profundamente filosófico“, afirmou o artista e activista chinês que tem uma exposição inédita programada para o nosso país, na Cordoaria Nacional, em Lisboa, a partir de 4 de Junho de 2021.
“Nomadland” está programado estrear nos cinemas portugueses em Março, segundo o IMDB, mas devido ao confinamento a data de estreia (18 de Março) pode não ser cumprida. O filme também estreou no nosso país no Lisbon & Sintra Film Festival em 2020.