Depois do filme, “O filho” estreia no teatro em Portugal para debater fragilidades da saúde mental na adolescência

por Lusa,    15 Abril, 2023
Depois do filme, “O filho” estreia no teatro em Portugal para debater fragilidades da saúde mental na adolescência
Fotografia de Barry Weatherall / Unsplash
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A saúde mental sobretudo na adolescência dá mote à peça “O filho”, a segunda de uma trilogia sobre o tema do dramaturgo e realizador francês Florian Zeller (1979), que o Teatro Aberto estreia no sábado, em Lisboa.

Com versão de Vera San Payo de Lemos, que também assina a dramaturgia, e de João Lourenço, responsável pela encenação, cenário e vídeo – este em conjunto com Nuno Neves -, a peça começou a ser ensaiada no Teatro Aberto ainda antes da estreia do filme “O filho”, em janeiro último, com realização do autor francês. Zeller também assinou o argumento, com Christopher Hampton, com quem já tinha partilhado a escrita de “O pai”, com que venceu o Óscar de Melhor Argumento Adaptado em 2021.

A peça “O filho”, estreada em 2018 em França e, no ano seguinte, em Londres, centra-se na complexa teia de relações familiares entre Pedro e Ana, um casal que acaba por ser divorciar, e Nicolau, um jovem de 17 anos, filho de ambos. 

Após “O pai” e “A verdade da mentira”, este é o quarto texto do autor francês a subir ao palco do Teatro Aberto que tem uma versão adaptada do texto original e que apresenta diferenças em relação ao filme homónimo estreado em janeiro último nos cinemas, disse João Lourenço à agência Lusa.

Embora os problemas depressivos de Nicolau sejam anteriores ao divórcio dos pais, só depois deste é Pedro e Ana se apercebem da tristeza profunda em que o filho vive, das suas ausências à escola e das alterações de comportamento que demonstram que o jovem não está bem consigo nem com ninguém, acrescentou o encenador.

Após o divórcio dos pais, Nicolau vive três anos com a mãe, Ana, numa relação marcada por violência psicológica sobre a progenitora, em que esta receia que chegue à física. O jovem acaba depois por ir viver com o pai que, entretanto, voltou a casar-se, com Sofia. Os dois são pais de um bebé de três meses.

Pedro começa a viver momentos de desespero, culpabilizando-se pela depressão por que o filho atravessa, julgando que esta fora provocada pelo divórcio, sem se aperceber, tal como acontecera com Ana, que tem em mãos uma ‘granada’ pronta a explodir e da sua impotência, tal como a mãe, para resolver a situação.

Pedro e Sofia acolhem Nicolau, cuja depressão se vai agravando, a ponto de Sofia temer pela integridade física do filho bebé.

Referências à religião e à obra de Marcel Proust estão implícitas na peça em cenas como aquela em que, já num estado de grande degradação, o filho pede “Pai, não me abandones”, ou numa outra em que “oferece Madalenas à mãe”.

Numa obra “violenta”, propícia para debater a “fragilidade dos adolescentes” e “o aumento de problemas de saúde mental nesta faixa etária após a pandemia de covid-19”, João Lourenço, ao deparar-se “com esta tragédia contemporânea”, sentiu necessidade de acompanhar a carreira do espetáculo com debates sobre o tema, disse à Lusa.

“Para ter mais eficiência e ser ainda mais serviço púbico”, frisou.

Daí que, dia 29, às 19:00, “Um sentido para a vida” seja o tema de debate que tem como convidados a escritora Dulce Maria Cardoso, a médica Nazaré Santos, do Departamento de Neurociências, serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o jornalista Nuno Rogeiro. A moderar estará o jornalista Tiago Palma.

No Teatro Aberto, a ação desenrola-se num palco rotativo, num cenário quase operático e minimalista, onde pontuam as paredes altas, onde as cenas se sucedem como se fossem sequências de um filme. 

João Lourenço recorreu ainda a ecrãs do tamanho dos cenários, nas laterais do palco, que vão abrindo e fechando e projetando pequenos filmes de 40 segundos, reflexo da mente de Nicolau.

A roda das cores é o primeiro impacto visual que o público tem quando entra na sala, para depois a ação se fixar no preto, branco e cinzento.

O negro, que marca a casa onde Nicolau viveu com os pais, o branco da instituição de saúde mental onde acaba por ser internado, e o cinzento da nova casa do pai.

Cleia Almeida (Ana), Pedro Pires (Pedro), Rui Pedro Silva (Nicolau), Pedro Oom (Médico), Pedro Rovisco (enfermeiro) e Sara Matos (Sofia) são os intérpretes de “O filho”.

Com figurinos de Lia Freitas e coreografia de Cifrão, a peça vai estar em cena na Sala Azul até 18 de junho, com récitas à quarta e quinta-feira, às 19:00, à sexta e ao sábado, às 21:30, e aos domingos às 16:00.

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