Documentário sobre Vera Mantero e o seu questionamento na dança antestreia em Serralves

por Lusa,    9 Fevereiro, 2023
Documentário sobre Vera Mantero e o seu questionamento na dança antestreia em Serralves
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A realizadora Cristina Ferreira Gomes acompanhou o processo criativo da coreógrafa Vera Mantero, feito de “pesquisa constante e questionamento incessante”, e o resultado é um documentário que terá antestreia na sexta-feira, em Serralves, no Porto. 

Filmado ao longo de um ano, entre as cidades do Porto e Lisboa, este projeto acompanhou, de forma íntima, a criação do espetáculo “O susto é um Mundo”, de Vera Mantero, e é também uma viagem pelo percurso artístico de quatro décadas de uma das mais importantes artistas contemporâneas do país. 

“Vera Mantero” é o primeiro documentário de três – sobre as coreógrafas Olga Roriz e Clara Andermatt – que Cristina Ferreira Gomes está a criar para a RTP em conjunto com o coreógrafo, investigador de dança e bailarino Luís Antunes, através da produtora Mares do Sul. 

Eu nunca tinha filmado dança e gostei muito. É ‘prazeiroso’ e desafiante, e também um trabalho muito bonito”, comentou Cristina Ferreira Gomes entrevistada pela agência Lusa sobre o documentário dedicado a Mantero, um das figuras mais destacadas da Nova Dança portuguesa.

Vera Mantero “tem um trabalho coreográfico extraordinário, multifacetado, muito denso, de pesquisa constante e questionamento incessante do que ela faz, e do que pretende transmitir ao publico”, descreveu.

O espetáculo “O susto é um Mundo”, estreado no Rivoli, no Porto, e depois apresentado na Culturgest, em Lisboa, em 2021, percorre questões ligadas às contradições da sociedade contemporânea que passam pela ética, o politicamente correto e a educação para a cidadania. 

Quanto ao projeto do documentário, surgiu na continuidade do trabalho que Cristina Ferreira Gomes tem vindo a realizar com Luís Antunes, iniciado com uma colaboração para o programa “Portugal que Dança”, numa série de 16 episódios para a RTP2.

Estivemos mais de um ano a filmar a mais jovem geração de coreógrafos portugueses de dança contemporânea”, indicou, sublinhando que a experiência correu tão bem que resolveram investir em mais projetos sobre esta área artística.

É uma área criativa que tem muito pouca visibilidade em audiovisual, seja no cinema ou televisão, e, por isso, desafiámos a RTP a continuar”, disse à Lusa, acrescentando que a ideia de criar documentários sobre três coreógrafas consagradas foi bem aceite, para serem transmitidos pela televisão pública.

Cristina Ferreira Gomes precisou que os filmes são independentes entre si: “Cada um dos documentários terá uma abordagem individualizada de acordo com o perfil, personalidade, percurso, e densidade de trabalho” de cada coreógrafa. 

Acompanhar de perto a criação do espetáculo “O susto é um Mundo”, de Vera Mantero, ao longo de mais de um ano, com um grupo de bailarinos, foi surpreendente segundo a realizadora: “Foi muito interessante ver de perto esse processo, denso, de grande busca e pesquisa por parte da coreógrafa. Por outro lado, os ‘flashbacks’ sobre a carreira de Vera Mantero, dão a conhecer as raízes dessa forma de trabalho artístico”.

No acompanhamento do modo de criação, a equipa deparou-se com “a exemplaridade da sua capacidade contínua de discutir ideias e de reagir a conjunturas que definem a realidade contemporânea, para depois as partilhar com artistas, performers, pensadores e públicos, em função das suas motivações e expressões artísticas”. 

Vera Mantero estudou dança clássica com Anna Mascolo e fez parte do Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989 e, em 1999, viria a fundar o Rumo do Fumo, estrutura de criação e produção artística.

Em 2002 foi-lhe atribuído o Prémio Almada, do Ministério da Cultura, e, em 2009, o Prémio Gulbenkian Arte pela sua carreira como criadora e intérprete.

Dois anos depois representou Portugal na 2.ª Bienal de São Paulo com “Comer o coração”, projeto criado em parceria com o escultor Rui Chafes.

Cristina Ferreira Gomes indicou que o documentário sobre a coreógrafa Olga Roriz deverá estar concluído no início de 2024 e o de Clara Andermatt “ainda é prematuro anunciar” porque a coreógrafa “não conseguiu apoio da Direção-Geral das Artes”.

É uma situação absolutamente injusta. O financiamento às artes continua a ser um problema gravíssimo no nosso país, em todos os setores, não só na dança, mas também no audiovisual e no cinema, e temos todos de continuar a batalhar em relação a este problema da precariedade e da falta de financiamento adequado para conseguirmos continuar a trabalhar”, lamentou a realizadora.

Questionada sobre financiamento para o projeto dos documentários, disse que a produção teve apoio da Câmara Municipal de Lisboa e que o Programa Garantir Cultura apoiou a criação.

A antestreia do documentário “Vera Mantero” está marcada para sexta-feira, às 22:00, no auditório da Fundação de Serralves, seguida de uma conversa entre a coreógrafa, a realizadora Cristina Ferreira Gomes e o autor Luís Antunes.

O público poderá ver o documentário em estreia na RTP2, no sábado, também pelas 22:00.

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