Entrevista. Abebe Bikila (BK’): “O rap é uma cultura de rua e salva as pessoas na rua”

por Sofia Batista,    7 Setembro, 2023
Entrevista. Abebe Bikila (BK’): “O rap é uma cultura de rua e salva as pessoas na rua”
Abebe Bikila (BK’) / Fotografia via Facebook do artista
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Abebe Bikila Costa Santos é um cronista empenhado em ver suceder todos os que o acompanham desde o primeiro disco. Na música, encontrou a liberdade necessária para partilhar as histórias do seu dia-a-dia. Jovem, preto e proveniente de um contexto periférico no Brasil, os seus desabafos líricos, por sua vez, ressoa(ra)m com os muitos milhares de pessoas cujas vivências também giram em torno dos temas: cultura, auto-estima, futuro e melhoria. Assim, tem vindo a ganhar cada vez mais notoriedade, numa carreira que já se estende há quase uma década.

Nascido em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o rapper de 1989 ouvia, na infância, Djavan e outros nomes da Música Popular Brasileira (MPB), por meio da mãe (professora e militante no movimento negro), e — na sua ausência — canções de MV Bill ou as fitas de funk proibidão. De fora do Brasil, recebeu as referências norte-americanas da cultura hip hop, através de 2pac e JAY-Z. Quando atingiu a maioridade, fez um curso numa Escola de Arte e Tecnologia na área do audiovisual e, aí, nessa altura, já a viver no centro da Cidade Maravilhosa, consolidou o seu contacto com o mundo do rap: ao ajudar, na parte visual, CHS e Sain — com quem, depois, acabou por dar os primeiros passos enquanto MC.

Abebe Bikila (BK’) / Fotografia via Facebook do artista

A partir daí, o resto é história: quatro aclamados álbuns de renome balizam uma discografia que se estende por muitos outros projetos, trabalhos e colaborações. “Icarus” é o lançamento mais recente e, inspirado na personagem da mitologia grega, Ícaro, permitiu que o artista fizesse um (segundo) Voo à Europa. Desta vez, com cinco destinos: Portugal, Espanha, França, Irlanda e Inglaterra. Na primeira dessas paragens, tivemos a oportunidade de conversar com o rei dos “Castelos & Ruínas”, um dos “Gigantes” e “O” próprio “Líder em Movimento”: BK’.

Atualmente em plena tour europeia, mas também estás a trabalhar na mixtape do selo [label] Gigantes e no meio de tudo manténs o hábito de tentar escrever todos os dias. Como é o teu processo de selecionar um conjunto de músicas para um álbum?
Quando lanço os EPs assim, acho que é até para tirar o excesso e deixar realmente o foco principal no trabalho, porque sou muito criativo mesmo, tipo assim, escrevo muito, tenho muitas ideias, mas nem sempre toda a ideia que a gente tem é uma super ideia, nem sempre é a melhor ideia, mas não deixa de ser ideia e às vezes é legal mostrar. Então, sempre solto o EP antes, que é para também tirar um pouco do excesso e mostrar um pouco que me estou divertindo. Quando é o processo do álbum, acho que álbum é onde está a minha marra ali de MC, é onde tenho que errar menos. O processo é quase cirúrgico, é detalhe, tem que estar na melhor vibe, na melhor tudo, então, é um processo que pode-se dizer que é até meio chato [risos]. Cara, amo fazer álbum, amo fazer disco, mas o fazer álbum é chato. O começar a fazer um álbum, o ato de começar é chato, mas aí quando você consegue entrar no embalo e acompanhando todos os processos acaba-se tornando um processo bem bom, quando está na metade assim para lá. Graças a Deus, tive quatro resultados maravilhosos e pretendo continuar tendo resultados maravilhosos. Estou fazendo a mixtape e, agora, como ela não tem o peso de um álbum, como não é um trabalho a solo meu — vai ter música do Jonas, música dos artistas novos que a gente está trazendo, várias participações — então, é algo que eu faço mais livre. Não tenho um peso de assim “não, eu tenho que acertar, o álbum tem que ser algo… uma tentativa de clássico” não, são versos que eu quero soltar.

“A minha forma de lançar um disco, de fazer um disco, é realmente escrevendo muito, é treinando até chegar no dia do jogo, no dia da luta. O meu processo é realmente um processo de fazer até amadurecer a ideia.”

No caso do “Icarus”, é o teu álbum mais recente, como é que decidiste que este era o momento certo para lançar essa obra específica na tua carreira?
O álbum ia ser “Cidade do Pecado”. O EP, antes, ia ser o álbum, mas tipo assim, faltando duas semanas para lançar o álbum, eu falei “cara, não, não é isso ainda, acho que não tenho uma história fechada para ser contada” então a gente, no processo de lançar o álbum “Cidade do Pecado”, a gente falou “não, vamos lançar…” foram cinco faixas, o EP. A gente lançou cinco faixas e era uma parada mais experimental, uma parada que uns gostam, outros não, então… mas é isso, a galera não tem esse entendimento ainda do que é um EP, do que é um álbum, acha que todo o trabalho é um trabalho super sério. E acho que a galera tem esse direito de pensar isso também, porque é isso, ela quer um lançamento do artista, então ela quer que seja algo incrível, mas na minha cabeça é mais algo que eu quero soltar mesmo. Foi o que eu falei. Às vezes liberar um pouco do excesso para chegar no principal que é o disco, e foi mais ao menos isso. Então, na “Cidade do Pecado” — porque o álbum não era o que a gente queria de um álbum, mas ele tinha um caminho para o álbum — o “Icarus” nasceu de “Cidade do Pecado”. “Icarus” ia-se chamar “Luzes da Cidade”. Esse ia ser o nome de “Icarus”, mas aí… a mesma coisa: a gente, no estudo, ouvindo, eu falei “cara, eu já fiz o “Gigantes”” — que teve “Antes dos Gigantes Chegarem” e “Gigantes” — “não vou fazer a mesma coisa, o EP com o mesmo nome do álbum, então vamos procurar aqui, dentro do que a gente tem, um conceito novo”. A gente tinha metade do álbum antes de chegar no conceito de Icarus [risos]. Foi muito brainstorm, a gente, pessoal do Coala, pessoal do AKQA, muito estudo, lendo muita coisa, chegou no Mito de Icarus, que se aproximava do álbum e a partir daí comecei a fechar o álbum também. O meu processo criativo, a minha forma de chegar num álbum, acho que essa resposta responde tanto à primeira pergunta como à segunda: a minha forma de lançar um disco, de fazer um disco, é realmente escrevendo muito, é treinando até chegar no dia do jogo, no dia da luta. O meu processo é realmente um processo de fazer até amadurecer a ideia.

Há alguma música que tenhas ficado relutante em deixar de fora da tracklist final?
De “Icarus”? Cara, não relutante assim em deixar fora, mas “Músicas de amor nunca mais” ela foi a última musica que eu fiz do álbum. E foi a música que talvez a gente mais… mexeu nela assim, porque eu falei “cara, quero ter uma música aqui legal aqui” porque não tinha love song no álbum de antes. N’“O Líder em Movimento”, não teve love song. Eu falei “cara, acho que dá para ter uma love song legal aqui, acho que cabe” porque ela faz parte da história do álbum, que eu fiz do labirinto: eu fiz do labirinto do relacionamento, do labirinto do ego, são várias formas de fugir de um labirinto. Um relacionamento pode ser um labirinto [risos], tá ligado? Infelizmente já vivi relacionamentos que foram labirintos, e eu tive que fugir dali. Então, “Músicas de amor nunca mais” ela foi a última assim. Eu falei “pô, será? vamos? a música tá bonita, vamos”. Houve vários amigos que eu mostrei assim, pessoas ouviram, e choraram a ouvir a música, então funcionou! [risos] Se chorou, vamos lançar, é mesmo assim.

Os teus shows têm recebido muitos elogios, em parte também devido à dimensão estética. Como é que a tua experiência na produção de conteúdo fotográfico, vídeo e edição influencia hoje a criação de uma narrativa visual para as tuas músicas, álbuns e shows?
Sim, como você falou, vim do audiovisual então prezo muito isso nos meus shows, até porque a turnê de “O Líder em Movimento”, a gente fez uma turnê mais básica até por conta da época Covid. Tudo o que tinha planejado, não podia entregar. A gente não entregou um terço do que queria entregar de estrutura, de palco, de audiovisual. Eu falei: “então, o “Icarus” eu vou ter de vir agora com uma coisa muito foda”. Além de entregar um material novo, de compensar também o que não rolou no último álbum, que é um álbum que eu considero bem importante para a minha carreira, e pelo contexto do Brasil na época, e não teve tanta grandiosidade assim na forma, que eu posso dizer, é isso, não teve um clipe… Além de a gente ter vencido prémio com a capa, com o design da capa, que foi minha ideia da capa — deixando claro aqui, né? [risos] Eu que dirigi a capa de “O Líder em Movimento”, que a ideia foi minha. É, mas a partir daí… é isso, a gente não conseguiu explorar mais o mundo d’“O Líder em Movimento”, assim como conseguiu explorar o mundo de “Gigantes”. “Gigantes” a gente conseguiu entregar clipes maravilhosos, a gente conseguiu fazer um show com banda. “O Líder em Movimento”, por conta da pandemia… Eu falei, então, “tudo o que eu não entreguei, eu quero entregar. Além de entregar um trabalho novo em “Icarus”, eu quero trazer isso mais para compensar “O Líder em Movimento” também”. Então foi querer entregar realmente um trabalho incrível e compensar o último trabalho.

Abebe Bikila (BK’) / Fotografia via Facebook do artista

No ano passado, apresentaste o “Icarus” no Museu de Arte do Rio, onde Nikolas Demurtas fez uma reinterpretação da obra “O Voo de Ícaro”. No entanto, não é a primeira vez que colaboras com um artista carioca. Qual a importância, para ti, dessa interseção entre a arte visual e a música? Especialmente quando resgatas referências clássicas.
Sim. Muito legal você falar disso agora também que eu já colaborei com artistas antes assim, que às vezes o pessoal esquece né? [risos] Mas é isso, em 2018, a gente fez, realmente, uma obra de arte. É um quadro de 5 metros, de Maxwell Alexandre. Então, é isso: é bom lembrar os fãs também que não é a primeira vez que a gente tem esse trabalho com artista, não é a primeira vez que a gente tem esse relacionamento com um museu. A gente trouxe isso agora de uma forma, não sei se democrática é a palavra certa, mas quis fazer realmente, dessa vez, algo para o máximo de pessoas poderem ter acesso. Então, a gente conversou com o MAR, que é um museu que tem esse pensamento — que é muito parecido com o nosso — que é da arte ser uma parada para todo o mundo. Quer dizer que a pessoa vira artista? Não, mas ela vai ter uma opção de ver. Ela vai ter opção. Acho que o importante do acesso é isso: a pessoa vai ser isso? não, mas ela vai ter opção. Então, quando você dá acesso, você dá opção para a pessoa. E eu acho que o MAR, eu e o MAR, a gente tem esse pensamento parecido. Aí agora voltando para o Nikolas, é um artista que é muito foda, é um moleque das ruas lá do Rio de Janeiro que representa bastante. Então, a gente conseguiu chegar num resultado super foda e fazendo isso: aproximando a galera com a arte. A nossa banca, Bloco 7, na época, sempre teve muito isso de envolver todas as artes próximas do rap, tá ligado? Tanto que de lá saiu MC, saiu… tem o Abu. Abu, que é artista plástico também, tá direto aqui pela Europa expondo as paradas dele, saiu do nosso rolê. Aí tem mano que virou fotógrafo, tem mano que virou isso, porque é o que eu falei antes: o acesso ele te dá opção. Eu acho que a cultura hip hop ela aproxima muito a gente dos acessos e acaba dando opção.

Neste álbum, abordas os desejos humanos e as consequências da ambição desmedida. A forma de vestir afeta como uma pessoa é vista e tratada. Além disso, no mundo do hip hop, a aparência é relevante, por ser um indicador de status. Hoje, qual a importância que dás à moda como ferramenta para fugir ao labirinto?
O hip hop ele é uma cultura de você se expressar… e, em todos os momentos da sua vida ali, você está-se expressando de alguma forma: através da roupa, desde a música, e tal; e uma das primeiras coisas que me encantou no hip hop foi realmente a forma de se vestir. Sempre achei muito legal. Eu falei “mano, cara, que incrível”. Você vê uma pessoa vestida de certa forma, você sabe que aquela pessoa faz parte da cultura hip hop, tá ligado? Então, é isso, desde os anos 90, em criança, eu falei “mano eu acho isso muito incrível”, porque trabalha também dentro da autoestima. Isso não tem a ver com marca. Marca aí já é um outro rolê! Tanto que a gente consegue usar várias paradas sem necessariamente ser marca [aponta para as calças] HIGH, [aponta para a t-shirt] Carhartt, tá ligado? Que tem uma história dentro do streetwear que não necessariamente tá ligado a preço, porque a galera confunde muito. Eu não gosto nem de falar muito de moda, eu gosto de falar mais de estilo — porque estilo não tem necessariamente a ver com moda. Estilo acaba sendo… sei lá, acho que a gente tem a alma, tem os ossos, a carne, e tem o estilo também [risos]. Acho que faz parte do… pelo menos para mim, mano. Eu gosto de estar sempre bem vestido. Se um dia estiver mal-vestido, por favor, vão na minha DM e fala “BK’ você está errado, volta para casa, pelo amor de Deus” [risos].

Estamos agora no final do teu 2.º show em território português, mas não é a primeira vez que por cá atuas. Inclusive, na altura, lançaste um single com Sain e o Praso.
Isso! Foi verdade. 2019, a gente gravou o clipe.

Quais são os aspectos mais empolgantes e desafiadores de colaborar com artistas de diferentes culturas?
Acho que o hip hop — dentro do hip hop, a nossa música rap — ela já é uma cultura do sample. Ela já é uma cultura de beber de várias fontes. Então, acho que quando a gente cruza com vários artistas, a gente traz isso. Aprendendo, compartilhando, porque isso vem da cultura hip hop, é o sample. Eu sempre uso como exemplo KGL. KGL é uma música, que é um dos bate-cabeça mais conhecido do Rio de Janeiro, e o Jonas sampleou música clássica [risos], tá ligado? Você consegue aprender e transformar para coisas que fazem sentido para você. Então, acho que o legal de estar colaborando com artistas é isso. Claro, tem aquele lance dos números e tal, você colabora com artista muito grande é legal, acrescentar nos números, mas, é isso, é legal. Você acaba cruzando os universos também, tem pessoas que curtem tal artistas e passam a te conhecer. Eu lembro quando a gente divulgou que ia ter a Marina Sena na nossa tracklist, a galera do rap ficou “ah” reclamando e tirando, mas aí quando saiu a musica ninguém pôde falar mais nada [risos], porque a música é muito foda, tá ligado? E é isso, a gente juntou uma pessoa de um rolê, outra pessoa de outro rolê, e não fez só pelos números, realmente quis criar algo interessante, musicalmente. Se vai ser um clássico? Se não vai ser? Isso aí o mundo que vai dizer, o tempo que vai dizer, mas criar algo interessante. Não tem como falar que “Se eu não lembrar” não é interessante, que é uma música que é um beat que é mistura de grime com funk, eu tenho rima num flow mais de boombap, a Marina Sena curtindo do pop. Então essa junção, esse cruzamento de culturas, é isso, no final acabou virando um estudo.

Desde que cá estiveste, a música brasileira tem ganhado cada vez mais destaque em Portugal. Tendo este ano contado com shows de Baco Exu do Blues, L7NNON e a própria Marina Sena — tudo artistas com quem já colaboraste. Como vês o papel da música na promoção de um entendimento cultural mais amplo entre os 2 países?
Cara, eu vejo assim, é… acho que: tem muito brasileiro vindo para Portugal, tá ligado? [risos]. Então, acho que acaba-se cruzando mesmo. A gente tava trocando ideia com um amigo ontem lá no festival, no Kalorama, e ele falou de um moleque do drill. Esse cruzamento, um divulgando para o outro, falando. Claro, tem internet, né? A internet acelera tudo, mas acaba sendo uma troca muito real quando essa troca acontece na rua, ao vivo: “pô, maneiro, sou do Brasil, tem isso aqui no Brasil” “sou de Portugal, tem isso aqui”. E o moleque falou para um mano, que é um colega nosso, que é brasileiro, de um artista novo do drill de aqui de Portugal. As culturas estão-se cruzando, muito! Há muito brasileiro aqui. Então, acaba… é isso, sample, um trocando disco com o outro [risos].

Olhando para o futuro, como vês o potencial desta relação? Existe algum projeto ou colaboração que gostarias de ver acontecer?
Eu estou num pensamento de realmente fazer mais coisas para cá. Acho que a gente tem um público legal aqui, tem a galera que ouve a gente, e até para sair um pouco do básico. Não é do básico, mas é do comum. Todo mundo sabe quem vai colaborar com quem, no Brasil. No rap, a gente já sabe quem vai fazer feat com quem, para tentar bombar. “Ah quero fazer um som de papo reto” chama o BK’ ou Djonga. Então acho que é legal. A gente fez uma colaboração no “Cidade do Pecado” com a Mayra Andrade, foi um resultado assim muito interessante, a música ficou muito gostosa. Então, eu acho que, é isso, é legal. Durante as pesquisas, a gente chegou a trocar uma ideia com umas pessoas. Nao sei se é legal falar porque ainda algumas coisas não andaram, outras pararam a meio do caminho, então acho que não é legal eu citar os nomes agora, mas se acontecer você vai ficar sabendo logo [risos], mas é isso, eu tenho essa vontade, sim, de expandir os lugares para sair dos feats óbvios.

Por fim, sei que és Vascaíno.
Sou mesmo!

E por isso não podia deixar de mencionar os 100 anos das Camisas Negras celebrados no mês passado.
Força Jovem!

Na história do Vasco, vejo várias semelhanças com a do próprio rap: a abertura da possibilidade de trabalho digno para pessoas pobres, pretas, de contextos periféricos que puderam melhorar as suas condições de vida e contribuíram para a popularização da área. Mencionas várias vezes que o rap é político, então acredito que o futebol também o seja. Agora que ambos são fenómenos altamente globais, que papel achas que podem desempenhar na promoção de igualdade e justiça social?
Para ser sincero, sincero mesmo, eu vejo hoje muito mais o rap bem próximo disso, de uma luta de igualdade ou algo do tipo. Acho que o futebol, ele — não vou falar mal do Vasco, o Vasco é perfeito, o Vasco não tem erro [risos], então tiro o Vasco disso — mas é, o futebol, ele é visto muito como uma única opção, de certa forma. Eu não gosto muito disso, de a galera achar que — se você for dentro das comunidades, é isso mano, o sonho das pessoas é — nem só das comunidades, no Brasil, todo o mundo quer ser jogador de futebol, então parece que não existe outro mundo profissional, não acho isso muito legal. Nao sei, não sei — caralho, os meus amigos jogadores vão todos me xingar [risos] — é porque se a gente for pensar em igualdade, em algo realmente assim que pensa ainda num futuro melhor, desculpa, eu não vejo o futebol pensando nisso. Eu vejo o rap. O rap é uma cultura de rua. Tem o mainstream, mas o hip hop ele não acontece no mainstream. O hip hop ele acontece na rua. Ele salva as pessoas na rua. Ele está ali. Óbvio que é legal, tem as festas, tem tudo, mas o hip hop realmente é uma cultura que trabalha na autoestima. É isso, eu acho que agora estou conseguindo raciocinar um pouco mais, tentando juntar as duas coisas, tentar cruzar um paralelo. Eu acho que o hip hop, o rap, você só sendo ouvinte, você não sendo uma pessoa que atua diretamente, o hip hop tem como salvar. Você sendo só um ouvinte, sendo só um grafiteiro, sendo só uma pessoa que admira o graffiti, que admira o break, aquilo já tem como te salvar de alguma forma, de te confortar. Não sei se no futebol é isso. No futebol, tá salvando o cara que tá ganhando dinheiro para caralho [risos] fazendo gol ou não fazendo, tá ligado? Essa é a minha opinião só, posso estar errado, posso mudar de opinião amanhã. Encontrar um contacto agora, um paralelo, entre o rap e o futebol, eu sei lá, acho que eu vou ter que levar essa pergunta para casa, estudar e pensar mais nela, é. Não sei, não sei. A resposta é não sei [risos].

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