Estados da União Europeia têm de reforçar proibição de discriminação nas leis nacionais, defende Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia

por Lusa,    10 Abril, 2024
Estados da União Europeia têm de reforçar proibição de discriminação nas leis nacionais, defende Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia
Fotografia de Waldemar / Unsplash
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Os Estados-membros da União Europeia têm de reforçar a proibição da discriminação racial e étnica nas leis nacionais e recolher mais dados sobre má conduta policial, defendeu hoje a Agência dos Direitos Fundamentais da UE (FRA).

O apelo é feito no primeiro relatório da FRA à escala da União Europeia (UE) sobre o racismo no policiamento, hoje divulgado, no qual a agência sublinha que a falta de dados nacionais dificulta a avaliação do problema.

Embora adiante que as pessoas de etnias minoritárias nos Estados da UE se queixam mais de comentários racistas, de paragens mais frequentes em operações ‘Stop’ e até de violência, a FRA admite não ser possível avaliar a magnitude do problema e conceber respostas eficazes.

É preciso que os países da UE “recolham sistematicamente dados sobre a má conduta policial, tornem a notificação mais segura e o registo de incidentes policiais eficaz e aumentem a diversidade nas forças policiais”, até porque “o racismo no policiamento tem efeitos de longo alcance, alimentando a exclusão social e prejudicando a confiança nas forças policiais”, refere a FRA no relatório.

Sublinhando ser essencial erradicar o racismo das práticas policiais em toda a UE, o estudo propõe medidas para combater lacunas encontradas nos regulamentos.

Além de um reforço antidiscriminação nas legislações, a FRA defende ser essencial recolher dados sobre má conduta policial.

“A maioria dos países da UE não recolhe dados oficiais sobre incidentes racistas envolvendo a polícia ou não os regista adequadamente”, aponta a FRA, acrescentando que “a recolha sistemática de dados fiáveis e comparáveis, desagregados por género e por tipo de incidente, ajudaria os países a medir e a resolver a questão”.

Esses dados, adianta ainda a agência, devem ser publicados regularmente por cada país.

Outra das medidas defendidas pela FRA é que seja garantida a supervisão e proteção dos denunciantes.

“Quase todos os países da UE têm órgãos de supervisão policial, mas muitos não são independentes e não têm poderes para impor sanções. Os denunciantes temem retaliações e têm dificuldade em denunciar incidentes de forma segura e confidencial”, conclui a agência da UE.

Por outro lado, é necessário também “fornecer formação e aumentar a diversidade” para garantir que as forças policiais representam a sociedade.

Mais uma vez, a FRA lamenta que, na maioria dos países, não existam dados sobre a diversidade étnica dos polícias, tornando impossível “acompanhar a evolução da carreira dos agentes de origem étnica e o impacto que isso pode ter nas práticas policiais”.

“As práticas racistas corroem a confiança das pessoas e fazem correr o risco de alimentar a exclusão nas sociedades”, afirmou a diretora da FRA, Sirpa Rautio, em comunicado divulgado a propósito da apresentação do relatório.

“Os incidentes de caracterização étnica e o uso excessivo da força são expressões de racismo no policiamento que os países da UE precisam de resolver. Uma componente vital do policiamento é proteger todas as comunidades”, defendeu, apelando aos países do bloco e às autoridades para que tomem medidas urgentes para erradicar o racismo nas práticas policiais.

Um relatório publicado em 2023 pela FRA sob o título “Ser negro na UE” mostrou que 58% dos entrevistados de ascendência africana que foram parados pela polícia consideraram que a medida teve motivação racial.

A análise adiantava ainda que a polícia detém mais frequentemente homens jovens, minorias étnicas, muçulmanos ou pessoas que não se identificam como heterossexuais.

A agência, que tem recolhido dados sobre as atitudes da polícia em relação às minorias no âmbito do plano de ação antirracismo da UE (2020-2025), destacou que essas experiências “diminuem significativamente a confiança na polícia”, lembrando que publicou um guia sobre como prevenir a definição de perfis étnicos ilegais e um manual para formadores de polícia.

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