“Este Lugar Não Existe”, Herberto Helder (poesia)

por Guilherme Gomes,    19 Março, 2017
“Este Lugar Não Existe”, Herberto Helder (poesia)

Podemos, de vez em quando, conviver com uma realidade que não é a de todos os dias. Começamos a contrariar o que achamos do mundo, pensamos que talvez o mundo não seja feito das certezas que dele temos, mas da dedução do que, por sinais, nos dá a conhecer. Há uns dias reuni alguns dos actores que participarão nos vídeos do Dizedor. Reunimo-nos para gravar este vídeo. Foi comovente ver como aderiram a uma ideia tão incerta – uma ideia, apenas. Pedia-lhes que não fizessem nada, que estivessem voltados para si-mesmos. Contava ideias que tinha para os outros vídeos, o porquê de estarem agora ali, o porquê de não estarem as outras pessoas. Pedia-lhes isso e desconsolava-me o pedir uma tão pouca coisa. Falava de espectros, de quadros, de poesia. Tive a brilhante sorte de ter comigo neste barco um conjunto de pessoas que são a maravilha na maravilha. E até o Sr. Donato aceitou ficar atrás do balcão para o vídeo.

Gravámos no Sport Clube das Amoreiras, e antes de chegarem os actores estava eu, com quem no café estava, a assistir a um jogo de futebol.

O vídeo tem como mote um poema do Herberto – sobre quem não falarei muito, por falta de atrevimento. Uso-o como dica para o que é o Dizedor: este lugar não existe, realmente – estamos a filmar lugares impossíveis, pessoas impossíveis, símbolos ou sinais. De um postal onde vemos a Ilha dos Mortos, de Arnold Böcklin, passamos para o que pode muito bem ser um postal do inferno, da morte, do desencontro em si. Não é tema alheio a Herberto, esta coisa de se morrer: desde novo que foi sempre adiando a morte, sentimo-lo, sabemo-lo pela sua poesia.

PUB

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados