Estreias, entradas gratuitas, visitas guiadas, evocações de Abril e protesto no Dia Mundial do Teatro

por Lusa,    24 Março, 2024
Estreias, entradas gratuitas, visitas guiadas, evocações de Abril e protesto no Dia Mundial do Teatro
Fotografia de Barry Weatherall / Unsplash
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Estreias, visitas guiadas a palcos e bastidores, récitas de entrada livre, homenagens, evocações de Abril e um protesto constam das atividades anunciadas para quarta-feira, em Portugal, no Dia Mundial do Teatro, por companhias de norte a sul do país.

Almeida Garrett, Bertolt Brecht, David Mamet, Edward Albee, Federico García Lorca, Pau Miró, Tankred Dorst são alguns dos dramaturgos em cena, enquanto atores como Rui Mendes e Ruy de Carvalho são homenageados, e as estreias se estendem de Vila Nova de Famalicão, a Cascais e Lisboa.

O Teatro Nacional S. João, no Porto, abre portas ao ensaio de “Fado Alexandrino”, a partir de António Lobo Antunes, que há de estrear cerca de uma semana depois, e o Nacional D. Maria celebra “O teatro que Abril abriu”, no Capitólio, em Lisboa.
Em Vila Real, Filandorra – Teatro do Nordeste, que festeja a “Semana do Teatro” com comunidades locais, assinala o Dia Mundial com o “ato perfomativo” “O cutelo do Adão”, atuação de protesto ao ainda ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
A ‘performance’ acontece um dia antes do anúncio da composição do novo Governo, e tem por base a exclusão da companhia dos apoios da Direção-Geral das Artes (DGArtes), nos concursos para 2023-2026, apesar de elegível, à semelhança de outras estruturas.

Em Vila Nova de Famalicão, a companhia Momento – Artistas Independentes estreia “Eu sou Lorca”, a partir de “Assim que passarem cinco anos”, do poeta e dramaturgo andaluz, para pensar o que é ser artista durante um regime ditatorial e sobre a liberdade nas artes. A apresentação da peça é antecipada de um debate sobre “Liberdade e criação artística” e seguida de uma conversa com o público.

O Teatro Experimental de Cascais (TEC) estreia “Últimos remorsos antes do esquecimento”, de Jean-Luc Lagarce, com encenação de Elmano Sancho, no Teatro Municipal Mirita Casimiro. Esta é a segunda produção do TEC (que completa 60 anos em 2025), após a morte do seu fundador, Carlos Avilez, no ano passado.

Em Alverca, a Cegada estreia de “A recusa de Bartleby”, a partir de Herman Melville, no Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, com adaptação de Ricardo Cabaça. A peça tem encenação de Rui Dionísio e interpretação de Ana Lúcia Magalhães, Joana Pialgata e Paulo Matos.

Em Lisboa, no Teatro Aberto, estreia-se “Uma vida no teatro”, de David Mamet, que é também a estreia de Cleia Almeida na encenação. As interpretações são de Alfredo Brito e Vítor Silva Costa.

Outra estreia na capital acontece no Teatro Armando Cortez, pela Companhia da Esquina que assinala 20 anos com a récita solidária de “Terror e miséria no III Reich”, de Bertolt Brecht, numa encenação de Jorge Gomes Ribeiro, com música de António Vitorino D’Almeida. A receita de bilheteira reverte para a Apoiarte – Casa do Artista.

O Teatro da Trindade abre as portas durante a tarde para revelar segredos do edifício com mais de 150 anos, com duas visitas pelos bastidores e pelo palco. À noite, na sala Carmen Dolores, será gratuita a entrada na récita de “A senhora de Dubuque”, de Edward Albee.

No Teatro da Politécnica, os Artistas Unidos também têm entrada livre para a representação de “Girafas”, de Pau Miró, com levantamento de até dois bilhetes por pessoa. A sala da Politécnica acolhe ainda a leitura de “Uma Boca Cheia de Pássaros”, de Caryl Churchill, pelo Teatro da Cidade.

O S. Luiz Teatro Municipal abre as portas da sala Luis Miguel Cintra para mais uma sessão gratuita: “Fedra (não é de pedra)”, com texto e direção de Martim Pedroso, e Rita Lello por protagonista.
Estreada na véspera, a peça parte da figura da mitologia grega, mulher de Teseu, desejada pelo enteado Hipólito. A produção resulta de um desafio lançado por Rita Lello a Martim Pedroso, indo ao encontro de um “desejo antigo” do ator e encenador “de pegar numa tragédia e fazer a encenação de um mito”.

No Cinearte, A Barraca apresenta “1936 – O ano da morte de Ricardo Reis”, numa sessão que não será gratuita, porque no último concurso de apoios bienais da DGArtes a companhia, como explica, “não foi contemplada”, “apesar de elegível”. A Barraca lamenta “não poder dispensar o apoio do público na compra de bilhetes”, ao preço de dez euros, e lança um “Viva o teatro!”
O espectáculo parte do romance de José Saramago, tem adaptação e encenação de Hélder Mateus da Costa e direção de Maria do Céu Guerra.

Ainda em Lisboa, a Freguesia de Santo António, que abrange o Parque Mayer, inaugura a inscrição do nome de mais 33 personalidades do teatro, na calçada portuguesa da Praça da Alegria, que passa agora a contar com um total de 112. Entre os novos homenageados está o ator Rui Mendes, 87 anos, mais de 60 de carreira.
No Capitólio, em pleno Parque Mayer, o Teatro D. Maria II celebra “O Teatro que Abril Abriu”, evento de entrada livre, que marca o seu regresso a Lisboa, depois da “Odisseia Nacional” de 2023.

O ciclo “Abril Abriu” estender-se-á até julho, com 18 espetáculos, por vários espaços da cidade, enquanto o edifício sede, no Rossio, está em obras.

Para o Dia Mundial, o D. Maria reserva uma breve antecipação de “Quis saber quem sou – Um concerto teatral”, de Pedro Penim, que vai revisitar canções da revolução a par de histórias das gerações que fizeram o 25 de Abril, com estreia marcada para dia 20, no São Luiz. Haverá ainda o debate “Teatro e a Revolução”, um concerto de Bruno Pernadas e Margarida Campelo, e uma festa assegurada por Pedro Coquenão ‘aka’ Batida.

No Museu Nacional do Teatro e da Dança, também com entrada gratuita, a programação de visitas guiadas, performances e oficinas é “inspirada em Gil Vicente”, com “os olhos postos na liberdade de Abril”.
Em Almada, o Teatro Municipal Joaquim Benite apresenta a peça para a infância “Verdi que te quero Verdi”, de manhã e à tarde, e “O futuro já era”, à noite. A Companhia de Teatro de Almada (CTA) anunciará alguns dos espetáculos da 41.ª edição do Festival, a decorrer de 03 a 18 de julho, e a exposição “A censura ao teatro”, coproduzida pelo Arquivo Ephemera e a CTA, cumpre o último dia.

No Porto, o Nacional S. João abre os bastidores ao público, convidando-o a visitar “os seus monumentos nacionais” – o Mosteiro de S. Bento da Vitória e o edifício do teatro – e a assistir a leituras encenadas e a um ensaio de “Fado Alexandrino”, com encenação e dramaturgia do diretor artístico, Nuno Cardoso.
O final do dia, no Teatro Carlos Alberto, está reservado a “Crepúsculo”, conjunto de leituras encenadas, conduzidas por Nuno Cardoso, incluídas no projeto “Theatre for Democracy”, que congrega “inquietações de quatro jovens dramaturgos europeus de Itália, França/Irão, Bélgica e Espanha”.

A democracia e os perigos “que acossam os seus princípios” estão assim no centro dos textos de Francesca Lancelotti (“Outdefining”), Gurshad Shaheman (“A maré sobe”), Stuer Dhaenens & Vanden Broecke (“Rexit!”) e Denise Duncan (“93 Metros de Comprimento)”.

A Seiva Trupe, no Porto, irá homenagear um dos seus fundadores, o ator António Reis, que morreu em 2022, e apresentar o novo ‘síte’, “na expectativa do futuro”.
Em Braga, no Theatro Circo, a CTB – Companhia de Teatro de Braga irá debater “Para que serve o teatro?”, e apresentar “Anfiteatro”, de Heinrich Von Kleist, com encenação e dramaturgia de Rui Madeira.
Na Maia, o Teatro Art’Imagem cumpre o sexto e último dia da Mostra de Teatro de Amadores.
Em Viseu, é inaugurada a exposição “Retratos contados de Ruy de Carvalho”, na Casa da Ribeira, com a presença do homenageado.

Em Coimbra, O Teatrão, que iniciou este mês a celebração dos seus 30 anos e dos 50 de Abril, dá continuidade a um programa de visitas guiadas, numa cartografia de sítios de resistência à ditadura do Estado Novo na cidade, “onde as flores da Revolução começaram a ser semeadas”.
No Fundão, no Auditório da Moagem, a Este – Estação Teatral celebra o dia com “2+2=5”, peça a partir do romance “1984” de George Orwell.

O Teatro das Beiras, da Covilhã, vai à Casa Municipal da Cultura de Seia com “A grande imprecação diante das muralhas da cidade”, do alemão Tankred Dorst, peça que assinala os 50 anos da Revolução e da atividade da companhia.
Em Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva, estará “O regresso de Ricardo III no comboio das 9h24”, de Gilles Dyrek, com encenação de Ricardo Neves-Neves, e Adriano Luz e Ana Nave, no elenco. Nas Caldas da Rainha, o Teatro da Rainha apresenta “Às duas horas da manhã”, de Falk Richter, com encenação de Fernando Mora Ramos.
Em Évora, no Teatro Garcia de Resende, as iniciativas do Centro Dramático de Évora (Cendrev) com a Cosmogama culminam num baile literário.

Em Faro, no Teatro Lethes, haverá “Viagem ao Centro da Terra”, pela companhia Mákina de Cena, e, em Lagoa, a Bruxa Teatro apresenta “Chovem amores na Rua do Matador”.
Na rádio Antena 2, haverá Teatro Sem Fios, com “Elegia Para Uma Senhora”, de Arthur Miller.
O Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, que assina a tradução portuguesa da mensagem do Dia Mundial do Teatro, este ano escrita pelo Nobel da Literatura Jon Fosse, disponibiliza dez anos de criações e a leitura da mensagem, nas redes sociais.

O Dia Mundial do Teatro pode ainda ser tomado como início da contagem decrescente para próximas estreias: “Na Medida do Impossível”, de Tiago Rodrigues, a 17 de Abril, na Culturgest, em Lisboa; “Ulisses: Uma odisseia europeia”, projeto sobre a obra de James Joyce, que chegará ao Teatro São Luiz, pela mão de Marco Martins, em junho, o mesmo mês em que o monólogo “Homens Hediondos”, de David Foster Wallace, será posto em cena por Nuno Cardoso e Patrícia Portela, no Teatro Carlos Alberto, no Porto.

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