Grada Kilomba inaugura o Project Room do MAAT

por Linda Formiga,    26 Outubro, 2017
Grada Kilomba inaugura o Project Room do MAAT
© Esra Rotthoff, courtesy of Maxim Gorki Theatre

A exposição Secrets to Tell, da artista Grada Kilomba, é o primeiro projeto individual a inaugurar o espaço do Project Room do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia. Com curadoria de Inês Grosso e pensada a partir da videoinstalação intitulada The Desire Project — uma obra especialmente concebida para a 32.ª Bienal de São Paulo (2016), sendo também uma das mais recentes aquisições da Coleção de Arte da Fundação EDP — a exposição poderá ser visitada a partir do dia 27 de outubro.

The Desire Project (2015-2016) ocupa praticamente a totalidade do espaço expositivo do Project Room. Dividida em três atos, como uma peça de teatro – ‘While I Walk, While I Speak and While I Write’ [Enquanto Caminho, Enquanto Falo e Enquanto Escrevo] – a obra mostra uma sequência cadenciada de frases e palavras, que compõem um discurso contundente e comprometido com uma série de questões que se situam numa perspectiva pós-colonial vinculada a representações da história e descolonização do pensamento na contemporaneidade. Para além de The Desire Project, a exposição conta ainda com uma nova versão, exibida em 4 ecrãs, da leitura encenada do seu célebre livro ‘Plantation Memories’ – publicado por Unrast Verlag, Münster em 2008. Foi, também, incorporada na exposição, sobre a forma de vídeo projeção, Kosmos2, Labor #10, na qual Kilomba conversa com a rádio-ativista Diana McCarty. Kosmos2, Labor #10 é apresentado como um valioso arquivo audiovisual de documentação sobre o seu trabalho artístico, que permite uma compreensão mais ampla sobre a sua obra e a já referida prática em trânsito constante e contínuo entre as artes visuais e performativas e a literatura, e entre a investigação académica e as atividades letivas experimentais.

Inês Grosso, curadora da exposição, sublinha a importância de se trazer estas temáticas da colonização a Portugal:  “Para mim, que vivi alguns anos no Brasil e que conheci tão de perto a sociedade brasileira, que ainda hoje luta para digerir as consequências do processo de colonização e pós-colonização, mostrar The Desire Project em Portugal – e pela primeira vez no continente europeu – tão profundamente marcado pelo legado do colonialismo, representa um momento muito especial a nível pessoal e profissional. Este trabalho, que vi pela primeira vez na Bienal de São Paulo de 2016, fez-me pensar no quão curta é a distância temporal e histórica entre nós e o nosso passado colonial. E de como ainda estamos tão agarrados ao que sobra do edifício do colonialismo e do imperialismo ocidental…Daí a urgência e importância de se debater estas temáticas.”

Kilomba é uma escritora, uma teórica e uma artista interdisciplinar com um percurso ativo na cena artística berlinense, cidade onde vive e trabalha. Tendo nascido em Lisboa, e com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, a sua obra aborda questões relacionadas com as temáticas de género, raça, trauma e memória, seja no âmbito das problemáticas atuais sobre o colonialismo e pós-colonialismo no início do século XXI, seja para investigar as relações ambíguas entre memória e esquecimento, o imaginário coletivo e a identidade das culturas africanas, da diáspora e dos povos indígenas. Evocando a tradição oral das culturas africanas e o seu poder de perpetuação da palavra, a sua obra dá voz a narrativas silenciadas com o intuito de reescrever e recontar uma história que foi negada ou omitida.  Mais conhecida pelo seu trabalho como escritora – ou pela sua escrita subversiva – a artista tem vindo a explorar práticas artísticas experimentais e interdisciplinares pouco convencionais, utilizando e combinando diferentes meios de expressão; desde a performance e a videoinstalação, até leituras de palco e palestras que criam uma interface entre texto e imagem, linguagem artística e linguagem académica.

No âmbito da exposição será lançado um livro (o primeiro de uma nova série de livros que serão publicados com o programa de exposições definido do Project Room do MAAT) que conta com um ensaio da curadora da exposição, Inês Grosso, e a participação especial do artista Alfredo Jaar com um texto inédito, em formato de carta dirigida à artista.

OUTRAS PARTICIPAÇÕES DA ARTISTA:
> Exposição Grada Kilomba: The Most Beautiful Language, Curadoria: Gabi Ngcobo > Galeria Avenida da Índia (Galerias Municipais de Lisboa/EGEAC),
27 outubro 2017 a 4 março 2018.
Conversa com Grada Kilomba & Carla Fernandes | Práticas de descolonização: uma conversa a partir da obra de Grada Kilomba > Teatro Maria Matos, 28 outubro 18:30h
> Conversa com a artista Grada Kilomba moderada por Manuela Ribeiro Sanches > Hangar, 3 novembro 19:00h.

 

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