James Bay no Porto ou “a felicidade está nas pequenas coisas”

por Sofia Matos Silva,    6 Junho, 2019
James Bay no Porto ou “a felicidade está nas pequenas coisas”
Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA
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A sala principal do Hard Club já está apinhada de gente, ainda nem o sol passou a linha do horizonte. A felicidade está nas pequenas coisas, dizem muitos; pessoalmente, concordo com esta visão do mundo. Ao longo de mais de uma hora os presentes na sala também irão concordar, e nem o calor absurdo da sala nem a impossibilidade de se esticar um braço serão impedimentos a esta felicidade. Nem a falta de oxigénio, tão-pouco. Com a companhia de James Bay e um concerto destes, quem se preocupa com respirar?  Parece ironia, mas não é.

O artista britânico entra em palco com a energia e a honestidade no máximo. Atira com “Don’t Fall into my Arms” ao público, que recebe a primeira frase da noite com um entusiasmo perto da euforia. “Pink Lemonade” dispara os termómetros e a pressão arterial das primeiras filas, notando-se que o público está “Craving” por mais e mais, e é exactamente isso que recebe. “Obrigado, Porto. Estão bem? É uma honra, um prazer, é uma alegria estar aqui. Muito obrigado por nos receberem. Este é o meu primeiro concerto em nome próprio em Portugal. Significa muito para mim, por isso obrigado. Hoje vamos tocar muitas músicas do Electric Light,  vamos tocar várias músicas do Chaos and the Calm e vamos também tocar coisas novas. Eu preciso é que vocês cantem bem alto, está bem? Vamos embora!”

“If You Ever Want To Be In Love” é a favorita de muitos – e isso fica bem claro nesta noite. A reacção à música é tão positiva que o músico até pede para se cantar outra vez o refrão. “Porto, cantam comigo? Eu quero ser ganancioso, quero tocar aquele refrão outra vez, soou tão bem! Podemos cantar outra vez?” O pedido é recebido e cedido de bom grado. Julia Michaels não está presente para fazer o dueto de “Peer Pressure” com James Bay, mas não há problema, o público preenche o lugar vazio. Este é o penúltimo single do britânico, presente no EP lançado há quase um mês – apenas quatro músicas pelo concerto dentro e Bay já percorreu os três trabalhos mais recentes.

Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA

“Wild Love” abranda um pouco (e de forma paradoxal) o ritmo na sala. Mantendo a tradição de honestidade, declara o seu amor por um alguém desconhecido – e convence o público a declará-lo consigo. Ninguém se preocupa com o ‘quem’, apenas importa o ‘aqui’ e ‘agora’, a felicidade do momento, as pequenas coisas. “Esta é uma canção nova. É do EP Oh My Messy Mind”. Introduz “Break My Heart Right” sozinho em palco, canção que abre várias torneiras pelo Hard Club fora. Em jeito de pedido de desculpa pelas emoções libertadas de sítios que os fãs nem sabiam ter dentro de si, e porque nesta noite todos os desejos se podem tornar realidade, James faz algo inédito: toca “Need the Sun to Break”, uma das músicas que fecha Chaos and The Calm, nunca antes tocada em tour, e desta forma acede a um pedido de uma jovem junto às barreiras que empunha um cartaz.

“Let It Go” é o primeiro single de James e a música que lhe garantiu a atenção imediata do mundo da música e nesta ode à libertação mental, a sala liberta-se de todas as preocupações e dilemas da vida exterior, e permite-se focar na melodia e nas palavras. Por outro lado, a faixa seguinte mergulha na dor e na perda. “Sometimes I’m beaten / Sometimes I’m broken / ‘Cause sometimes this is nothing but smoke”. Os fãs recebem a dor do músico e tornam-na sua, libertando-o um pouco do seu peso. “Us” termina com a promessa colectiva “I believe in us”.

Uma escolha pouco usual para esta setlist é “Fade Out”, assim como as duas que se lhe seguem, “When We Were On Fire” e “Get Out While You Can”. Estes temas mostram que o músico confia no público português para relembrar algumas das suas músicas menos tocadas. Os fãs estão à altura, cantando em uníssono, tal como decorre ao longo de toda a atuação. Antecipando o fim do alinhamento, a banda é apresentada, enquanto uma outra guitarra é trazida a James – que toca em cinco guitarras diferentes ao longo da noite. Arranca para “Best Fake Smile”, cantando à vez com os fãs, gerando assim um dos momentos da noite, tais são os sorrisos de alegria visíveis um pouco por todo o lado. Um dos aspectos a salientar nesta noite é o excelente trabalho de iluminação que acompanha o concerto.

Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA

Sem grandes demoras, o britânico agradece e abandona o palco. Na sua ausência, o público berra e canta. Quando regressa para o encore, James Bay vem sozinho e traz consigo uma bandeira de Portugal, que amarra em redor da correia da guitarra. “Espero que possamos voltar a fazer isto uma e outra e outra vez. Nós sabemos o quão fantásticos vocês são, eu sei que vocês são fantásticos. Significa muito para mim estar neste palco à vossa frente. Se não se importarem, vou tocar a minha nova música. Chama-se ‘Bad’”. Este último single é um que despe emocionalmente quem toca e quem ouve. As palavras são sentidas e ninguém lhes consegue ficar indiferente. Prontamente, a sala enche-se de lanternas de telemóvel apontadas para o palco, que ondulam suavemente no ar.

A banda regressa para a derradeira música da noite. Esta é uma que não necessita de introduções. “Hold Back The River” prolonga-se pelo dobro do tempo habitual da faixa, esta que é a mais conhecida e apreciada pelo público. Fazendo jus a tal, a música é cantada a uma só voz, como se, neste último momento, todos os presentes se tornassem num único ser, partes de um todo, tão maior do que as partes que o constituem. A banda junta-se no centro do palco para uma vénia de grupo. Um concerto relativamente curto, mas suficiente para relembrar a todos que a felicidade está ao virar da esquina – em qualquer esquina, em qualquer lugar, para qualquer um de nós, basta valorizarmos as pequenas coisas.

Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA

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